Trazendo no título o nome de um poema de Mário de Andrade, Sérgio Britto se lança em mais um vôo solo com Eu Sou 300, um disco que traz uma brasilidade até então não vista em seu primeiro disco sem o grupo, Minha Cara, lançado em 2000.

O longo intervalo entre um disco e o outro é motivo de arrependimento para Sérgio. “Perdi um pouco o foco. A idéia, quando gravei o primeiro disco era dar seqüência. Mas a agenda dos Titãs me amarrou muito”, comenta o cantor, que diz ter encontrado uma maneira de trabalhar melhor em seus projetos solo. “Nesse segundo disco eu gravei tudo sozinho, em um estúdio em casa. Este disco está pronto a quase um ano, e quando assinei com a gravadora já estava tudo pronto. Agora vai funcionar assim, acho mais saudável”, diz Britto.

A grande diferença entre os dois trabalhos é, na opinião de Sérgio, o tom mais brasileiro deste novo disco, que ele considera bem melhor que o anterior. “Queria que o pop/rock fosse o centro, mas tem instrumentos como cuíca, pandeiro, dando um ar mais brasileiro, tudo proposital. Acho que isso pode me distinguir do trabalho com os Titãs e de outros artistas”

São Paulo (Cosmópolis) abre o CD, uma homenagem à cidade onde Sérgio vive e que ele confirma, serve de inspiração. “O ritmo da cidade, essa coisa mutável e mutante. Foi uma música de caso pensado, sobre a cidade. Sei que tem muitas músicas que falam de São Paulo, mas bem menos do que as que fazem referência ao Rio de Janeiro. Parece que as pessoas têm um pouco de vergonha, essa é a minha impressão”, comenta ele. A música tem uma linguagem que vai se costurando, vai rápida, assim como São Paulo.

Outra faixa de destaque entre as 13 que compõem o disco é Chulapa Free, do grupo Tiroteio, do qual o Titãs já havia regravado Eu Não Agüento. Pergunta básica resposta óbvia: Você é santista? “Claro, sou santista”, diz Britto. Mas a escolha da música não foi apenas por isso. “Gosto dela. É uma música de torcedor. Geralmente as músicas de futebol falam dos grandes bailarinos dos gramados e esta é sobre um bad boy”, diz Britto, referindo-se ao craque santista Serginho Chulapa.

Sérgio diz que não compõe pensando se a música servirá para os Titãs ou para a carreira solo. “Qualquer coisa que eu componho é pensando na minha carreira. Para a banda, ai depende do que os caras vão achar. Algumas eu componho e sei que não são um registro da banda. Outras tem mais sentido mostrar”.

Política, amor e homenagens no disco

Quem ouvir o disco Eu Sou 300 irá perceber algumas referências de músicas como Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, e Ideologia, de Cazuza. Tudo feito propositalmente.

Versos que lembram a canção de Cazuza estão na faixa Agora eu quero a verdade, sobre o poder. “É uma música sobre o exercício do poder, como ele pode desfigurar as pessoas. Tem uma visão típica dos anos 80, de saber claramente o que e certo e errado. Hoje há uma desilusão. Principalmente pelos países socialistas que ‘não deram certo’. Gostaria de recriar os sonhos porque os sonhos antigos já não são mais possíveis”, comenta o titã.

Outras faixas que merecem destaque são Raquel, feita para a esposa e a instrumental José, feita para o filho, faixa que encerra o disco. Mas segundo Sérgio, fazer músicas para essas pessoas é escrever sobre seu próprio universo, sua individualidade. Para o cantor, a grande homenagem do disco está na música Já dizia Rogério Duarte, onde ele relembra uma das grandes figuras da Tropicália e seu tempo.


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Eu Sou 300: o novo vôo solo (e pop) do titã Sérgio Britto

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