Desde que inventaram o choque de gerações, a máxima do “você não gosta de mim, mas sua filha gosta”, de Chico Buarque, ou o “espero morrer antes de ficar velho”, do Who, nunca deixou de ser verdadeira. Com a tecnologia, no mundo da big data e dos consumidores no lugar dos cidadãos, esse abismo só parece acelerar. Justin Bieber, que se apresenta neste domingo (03) no Rio de Janeiro, na Apoteose, e que causou comoção digna de uma estrela pop de primeira grandeza sábado no Anhembi, em São Paulo, é um ícone da nossa época, que provoca uma idolatria em meninas de até 16 anos grande demais para ser menosprezada.

Veja vídeo de “ataque” a Bieber com garrafa d´água

Ele está no lugar certo nesses shows. Os templos do samba são o lugar dele. Ele é o samba, a voz dos teens, prafraseando Zé Keti, é ele mesmo, sim, senhor. O ataque de estrelismo após uma garrafa d´água ter sido jogada em sua direção e ele ter abandonando seu templo digital, um palco onde ele fingia cantar, é plenamente justificável – certo, talvez alguns não quisessem ouvir Baby, nem Bieber deve suportar essa música. Não tocar seu maior hit é rock. Ele é rock and roll, é samba, é pop, é qualquer nota porque o que ele representa é maior que sua música.

Da mesma maneira que nossos avós diziam para os nossos pais que rock and roll não era música e clubbers tiveram de lidar com a desconfiança em relação à eletrônica, Justin Bieber, que se apresentou neste sábado (02) em São Paulo, no Anhembi, para 35 mil pessoas, frequentemente é visto como um sanguessuga. O primeiro namorado idealizado, platônico, apolíneo, lindo, rico, loiro, sarado, de todas as garotas. Como entoavam os coros: “Uh, papai chegou”, além do mais óbvio: “Justin, eu te amo”. 

Longe de ser negativa, no entanto, essa idolatria é saudável. Realmente deve ser duro para um pai ser trocado afetivamente por Justin Bieber. Mas desde que o pop é pop, esse rito de passagem faz parte da cultura. Justin Bieber, o de mentirinha, nunca diz não para garotas em busca de afirmação. Mais, ele adota um discurso de auto-ajuda: “acredite, você pode”, dá sentido para vidas angustiadas, tipicamemente adolescentes.

Era impressionante ver no Anhembi a quantidade de gente chorando. Chorava-se por tudo, pelo cansaço, pela frustração de não poder encontrar com ele, como o fizeram centenas no meet and greet em que dispensou longos minutos tirando fotos com grupos de quatro ou cinco fãs.

Como fazem as prostitutas, era proibido beijá-lo. Bieber foi profissional até nesta hora, sem sorrisos, talvez ele não seja um rapaz tão feliz quanto aquelas garotas queimadas pelo sol sentindo o gosto da liberdade e das lágrimas.

“A ficha ainda não caiu”, me conta Ana Clara Marin, 16 anos. Ela teve a sorte de ficar ao lado dele no grupo de fãs que entravam para o breve encontro. “Eu não fiquei decepcionada, ele é o Justin. Imagine o que é você tirar 200 mil fotos. Mas ele não sorriu e não olhou para ninguém, estava de óculos e com um colete dourado. No final, muitas meninas choravam”, relata.  Que graça teria ir até lá e não chorar? 

Na presença de Bieber celulares eram proibidos. A imagem do astro parece ser seu maior ativo. Fotógrafos não podiam nem sair da sala de imprensa e após registrar as três primeiras músicas tiveram de deixar o Anhembi sob “escolta” de assessores.

Um espetáculo controlado, de um cara meio canastrão que é uma mistura de Elvis, James Dean, Michael Jackson e, como já disse Caetano, que opina sobre tudo, de Beatles. Você pode dizer que cada geração tem os Beatles que merecem, mas nem só de Justin Bieber vive essa geração. O astro deu ao público o que ele queria. Emoções, falsas ou não, quem irá julgar? 

Acusar um artista pop de ser pop é bobagem. Se você acha errado idolatrá-lo, talvez esteja velho para entender o que sentem as beliebers. Como dizia, Rauzito, “sonho que se sonha junto é realidade”. Muita gente foi dormir feliz, como heróis exaustos ao fim de uma saga. 

Setlist

1. All Around The World
2. Take You
3. Catching Feelings
4. One Time
5. Eenie Meenie
6. Somebody to Love
7. Love me Like you Do
8. She Don´t Like the Ligths
9. Die in Your Arms
10. Out of Town Girl
11. Be Alright
12. Fall
13. Never Say Never
14. One Less Lonely Girl
15. Beaty and a Beat
16. As Long as You Love Me
17. Believe

Bis

18. Boyfriend

SERVIÇO

RIO DE JANEIRO (RJ)
Quando: Domingo, 3 de novembro de 2013, às 19h
Onde: Praça da Apoteose – Passarela do Samba Prof. Darcy Ribeiro – Sambódromo – RJ
Quanto:
Pista Premium: R$ 650 (inteira) e R$ 325 (meia) – ESGOTADO
Pista: R$ 280 (inteira) e R$ 140 (meia)
Capacidade: 35.000 pessoas
Classificação etária: Não é permitida a entrada de menores de 6 anos.
De 6 a 13 anos: permitida a entrada acompanhados dos pais ou responsáveis.
14 anos: permitida a entrada desacompanhados.

 


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Idolatria das 'beliebers' por Justin Bieber é grande demais para ser menosprezada