Horace Andy

Em uma casa na rua Natingui, Vila Madalena, Horace Andy  está lombrado no sofá. A lenda do reggae, de 64 anos, conhecido por ser vocalista do Massive Attack, apresenta-se em São Paulo, nesta sexta (6), no Centro Cultural Rio Verde, na Festa Zion. O jamaicano passou a tarde de quarta assistindo a pegadinhas na TV e rindo muito. Ele também está esperto com o risco da comida brasileira lhe fazer mal, após um conterrâneo ter dado a letra de que teve problemas.

Apresentar Horace como vocalista do Massive Attack é uma heresia tão grande quanto a reduzir Nile Rogers, ícone disco e hitmaker dos anos 1980, a “parceiro do Daft Punk”. Na verdade, ele nem é da banda, mas colaborou em todos os discos e sempre excursiona com o duo Robert Del Naja, o 3D, e Grant Marshall, o Daddy G. Com a  dupla inglesa, o jamaicano emplacou um de seus maiores hits, You Are my Angel, que foi parar até no filme Matrix. A música, no entanto, originalmente foi lançada em 1973.

Meio dormindo, meio acordado, ele não curte muito a ideia de falar com um jornalista, diz que sempre inventam histórias de que ele falou mal de Britney Spears ou qualquer outro artista que não deve fazer muito sentido para o senhorzinho maneiro. Damos um tempo para ele ficar mais desperto e ele decide que vai falar.

“É muito bom ser uma lenda, acredite em mim”, diz, sem falsa modéstia, o cantor de voz aveludada sobre ser um ídolo aos 64 anos. “Eu nunca soube que seria cantor. Eu queria ser como Jimi Hendrix, gostava de cantar, mas amava mais a guitarra”, revela.

Horace Andy

Como um bom rudy boy jamaicano, como eram chamados os malandrões na ilha caribenha, ele se recusa a jogar para a galera. Diz que se sente bem, mas não exatamente em casa no Brasil, apesar de agradecer ao selector Daniel Roots Combo, seu anfitrião na tour e que se apresenta com ele nesta sexta, em noite que também terá Yellow P.

“A música brasileira não é muito tocada na Jamaica. Nós temos a soca. Eu gosto de samba, mas isso nunca me inspirou realmente, os americanos me inspiraram, para dizer a verdade. Mas no eu acho os músicos de samba brilhantes, eu tento dançar, mas não consigo, gosto de ver as pessoas dançando. Gosto de todas as músicas, pode acreditar em mim”, afirma.

Ele sustenta também que é “estúpido” achar que o hip hop veio do reggae, como alguns pesquisadores defendem. “Quem fala isso não conhece a história”, ataca.”Todo mundo ao redor do mundo ouve música americana. Rolling Stones, Eric Clapton, todos buscam o som do blues dos Estados Unidos, de músicos como Jimi Hendrix”, diz.

“John Holt, Ken Bob, Darryl Allison, Dennis Brown, Alton Ellis, todos cantavam muito em cima de outras músicas americanas. Quando eu estava crescendo, todas as músicas que esses caras cantavam, eu achava que elas eram originais. É isso que eles estavam fazendo. Daí eu falei pro Dennis, pare de cantar em cima de músicas. Eu não sabia que Alton Ellis não tinha escrito Willow Tree”, apontou.

Ícone do reggae, com uma discografia que começa em 1972, Horace reclama da falta de reconhecimento para o gênero que vai muito além de Bob Marley. “O reggae é muito grande, mas é música mais barata. Nunca tem um bom orçamento para o reggae. Eu canto com Massive Attack em todo lugar e sempre vejo os festivais com vários VIPs, imprensa, mas quando se trata de reggae não tem nada de imprensa, nada de VIP, tudo que eu tenho no meu camarim é uma garrafa de água”, afirma.

O músico sabe o motivo. “Nós falamos dos marginais. Todas as pessoas que estão fazendo coisas ruins, elas não querem ouvir. Elas lutam contra isso”, detona, antes de se mostrar grato pelo impulso que recebeu do grupo que ajudou a definir o trip hop, gênero que passa por um renascimento com artistas como FKA twigs e Lana del Rey.

“O Massive Attack realmente me ajudou em tudo, inclusive a cantar a minha própria música. Porque quando o Massive Attack toca na rádios o redor do mundo, eu sou pago por isso. Quando os meu reggaes são tocados, eu não ganho nada. Por isso eu aprendi a tocar todos os instrumentos e a fazer minhas músicas. Como eu vou alimentar meus filhos? Ao mesmo tempo, se não fosse pelo reggae, o Masssive Attack não teria me conhecido. Tudo que eu tenho, eu devo ao Massive Attack”, pondera.

Das passagens do Massive pelo Brasil, no entanto, ele não lembra de nada. “A gente chegava, jantava, no dia seguinte passava o som e depois ia pro palco. Não tinha tempo. Nossos promotores não iriam nos dar dois dias de hotel para tanta gente”, disfarça.

Com a marmita na mão, Horace sobe a Natingui em direção ao seu hostel. Se alguém o visse, mal poderia imaginar que o cara é uma estrela mundial. Ele, pelo menos, sabe e está de boa.

SERVIÇO

Festa Zion apresenta Horace Andy no Espaço Cultural Rio Verde

Sexta, 6 de março, a partir 23h
Rua Belmiro 119, Vila Madalena, São Paulo, SP
Ingressos:
1º LOTE PROMOCIONAL – R$ 30,00 ( venda online )
2º LOTE – R$ 40,00
Venda online e no Centro Cultural Rio Verde das 13hs as 18hs
3º LOTE – 50,00
Venda online pelo site: http://site.ingresse.com/festazioncomhoraceandy
Ou no Centro Cultural Rio Verde das 13h às 18h
Informações ao público: festazion@gmail.com
Realização:
Mov Produção E Eventos
Centro Cultural Rio Verde
Madnessp


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Ícone do reggae e vocalista do Massive Attack, Horace Andy diz que é bom ser uma lenda

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