Com um pé no rap feito na capital paulista e o outro no interior de Minas Gerais, Rashid acaba de lançar o seu tão esperado debut, A Coragem da Luz. A temática rural, o rapper foi buscar lá na cidade de Ijaci, onde viveu sua adolescência. “Eu nasci em São Paulo, mas com 13 anos acabei indo morar em uma região bem interiorana de Minas. Então, eu quis trazer isso para o meu rap, quis misturar a periferia da cidade grande com a roça, que foram os dois mundos em que cresci”, contou em entrevista ao Virgula.
No bate papo, o músico se mostrou empolgado com o nascimento do trabalho e explica o porque: “Acho que é o momento certo de lançar meu álbum, pois a gente conseguiu construir uma parada legal mesmo sem ter lançado um disco oficial. Dávamos músicas na internet, distribuíamos clipes e mixtapes, e mesmo essas ferramentas não tendo a mesma responsabilidade de um disco completo, me trouxeram um público fiel. Agora conseguimos amadurecer musicalmente; as rimas estão melhores, o discurso mais afiado, aprofundamos o que queríamos falar. Tudo é visto no disco”.
No mesmo tom, Rashid exalta o bom momento em que o rap nacional se encontra: “Grandes artistas apareceram ultimamente, com grandes e premiados álbuns, elevando o rap ao misturá-lo com outros ritmos. O próprio Racionais MC’s, que é um grupo das antigas e que nos inspirou, continua se comunicando com a nova geração e com pessoas de fora do rap. Você vê por aí o Mano Brown com o Ed Motta, com o Jorge Ben, etc. Hoje existe um respeito de fora com o rap. Tudo o que a gente ouvia falar, que o rap devia ser considerado música popular brasileira, que é o que ele é, está acontecendo.”
Para quem acompanha o trabalho do rapper, uma mudança sonora é perceptível em A Coragem da Luz: os beats e o instrumental feito por programa de computador deram espaço à uma banda afiada. “100% do meu trabalho até aqui era feito com softwares. Um desafio e uma missão para esse álbum era surpreender às pessoas, então optamos em fazer músicas com instrumentos e elementos orgânicos, mas sendo o mesmo Rashid de sempre, sem perder a identidade. A gente tem que evoluir, porque se for parar no tempo é melhor escutar as músicas antigas. Os instrumentos deram mais vida e fizeram o nosso som crescer e ganhar cor. Isso também facilita a comunicação com outras pessoas”, conta.
Além de Criolo, que participa da canção Homem do Mundo, um outro convidado especial é o frontman dos Racionais MC’s; Mano Brown, que canta em Ruaterapia. “Ele foi muito solícito desde o começo. Brown sempre estendeu a mão para a nova geração, convidando para abrir os shows do Racionais e tal. Eu mesmo, já participei e abri vários shows deles, o que é uma baita aula. Quando o convidei para participar do disco, ele nem titubeou, e quando soube que o Max de Castro produziria a faixa, pirou mais ainda, por ser fã do trampo do Max”, diz Rashid, e complementa: “Minha intenção era deixar os caras o mais à vontade possível no estúdio, para que a música soasse natural. Acredito que alcançamos esse resultado. Sinto uma vibe muito boa quando ouço o som, nada de ‘Você grava, eu gravo e já era'”.
Na conversa também mencionamos que de uns tempos pra cá o rap nacional deixou um pouco de lado aquele estilo de vida ‘gangsta rap‘, muito cantado nos anos noventa, e começou a se aventurar numa linguagem mais good vibe, falando sobre a vida, desafios, conquistas e até sobre o amor. Temas encontrados em músicas de Emicida, Rael, Projota e também no trabalho de Rashid, que explica melhor o lance: “Isso é uma coisa que herdamos de outros grupos e MC’s que já tinham essa visão. Eu gosto muito dessa cara do rap, porque oferece outra alternativa para as pessoas, tanto de ideais quanto musicalmente falando. Você pode usufruir dessa riqueza de estilos e de histórias de vida. Falando por mim, simplesmente resolvi mirar o meu som nas pessoas, no povo. Acredito que a mudança começa em nós mesmos. Primeiro, ajeitamos a casa, depois podemos arrumar o mundo”. Entendeu?
O show de lançamento de A Coragem da Luz acontece dia 9 de abril, no Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, em São Paulo, às 20h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira), e R$ 10 (meia), e podem ser comprados aqui à partir de 25 de março.