Fabio Politi Tim Bernardes

Parceiro de David Byrne, Tom Zé e Paulo Miklos e filho do ícone da música brasileira Maurício Pereira, Tim Bernardes tem apenas 25 anos e surpreendeu com sua estreia solo, Recomeçar. Não há uma única lista de melhores de melhores discos do ano sem o álbum do rapaz.

Minimalista e grandioso, em Recomeçar, o vocalista e guitarrista do trio O Terno assumiu sozinho o posto de compositor, produtor, arranjador e intérprete. Fez, por exemplo, arranjos orquestrais de cordas, sopros e harpa,  todos escritos por ele, tal qual um Brian Wilson brasileiro.

Leia nossa entrevista com Tim em que o paulistano fala de tendências, influências e composição, entre outros assuntos:

O que tá rolando de mais novo na música brasileira hoje?
Tim Bernardes – Acho que tem muita coisa interessante sendo feita hoje. De mais novo eu poderia dar destaque desde as letras do sertanejo que falam de coisas do dia a dia de 2017 como ninguém tinha falado ainda até a potência estética e a clareza da mensagem do rap do Rincon Sapiência. Passando por todas as sonoridades incríveis que o indie explora hoje (o último disco dos Boogarins, por exemplo). São muitas cenas diferentes e cada um com sua reação ao presente. Sinto que na cena de onde eu venho, que é o indie, existe cada vez mais coisas novas surgindo, uma vez que o artista está no volante de todo seu processo musical.

Que outros discos lançados este ano mais gosta e indica, brasileiros ou não?
Tim – Oyá Tempo da Luiza Lian, pra mim, é uma coisa de louco. É um álbum visual que consegue ser futurista e ancestral ao mesmo tempo, as músicas são lindas, Luiza canta muito e a produção do Charles Tixier é chocante. De gringo, me marcou muito o Crack Up, dos Fleet Foxes, banda do coração que voltou com esse álbum depois de ter parado por seis anos. E mais um monte: Dirty Projectors, Mac Demarco, Rincon Sapiência, Mallu Magalhães, Grizzly Bear, etc..

Quem são suas heroínas e heróis musicais?
Tim – Tem tantos artistas que me marcam fundo… Os Beatles, os Mutantes, Caetano e Gil, Sérgio Sampaio e Jorge Mautner, Jorge Ben e Tim Maia, Robin Pecknold (Fleet Foxes), David Longstretch, Raul, Rita, Carol Kaye… nem consigo lembrar todos.

Quais são seus rituais para compor?
Tim – Não tenho muito um ritual… Estou sempre meio atento às ideias e tentando criar. Quando uma ideia vem eu tento me internar na minha cabeça e tirar tudo que eu posso dessa ideia. Às vezes uma música vem ao longo de meses, às vezes de minutos.

O que te leva a fazer uma música nova?
Tim – Eu gosto muito de compor. Me dá um prazer enorme inventar uma canção que não existia, poder dizer o que eu quero, da forma que eu quero e com a melodia que eu mais gostar pra aquilo que está surgindo ali naquele momento. É bom por diversos motivos; a música traz uma subjetividade meio mágica pra o que você está dizendo no texto, na letra. A soma das duas coisas pode se juntar de um jeito que comunica um sentimento, uma ideia ou uma sensação direto no fundo da gente.

Como chegou ao conceito de Recomeçar?
Tim – Ao longo da história d’O Terno até aqui eu às vezes fazia algumas músicas que eu sentia que eram mais íntimas, solitárias e que eu poderia fazer, em algum momento, sem o intermédio da banda para chegar direto no 1×1 no público. Eram as músicas do Recomeçar, que eu, nos últimos sete anos, fui juntando, entendendo o conceito e o jeito delas. Músicas de uma mesma família que, falando de coisas semelhantes, se juntariam meio como um filme.

Acredita que faça parte de uma cena? Que características vê em comum com outros artistas contemporâneos?
Tim – Acho que sim. Existem muitas cenas dentro de cada cena, talvez. Mas de forma ampla eu vejo outros colegas que assim como eu têm a vontade de criar não só a música e a letra, mas também os arranjos, os timbres, a forma de gravar, de mixar, produzir, de comunicar estéticamente, visualmente, comunicação com o público. Acho que artistas que são, de uma forma pessoal, completos assim são algo que a gente vê bastante na nossa geração e eu acho que trazem com isso um resultado muito coeso e bonito. Vide Tame Impala, Mac Demaro, Boogarins e tantos outros.

SERVIÇO

Tim Bernardes apresenta Recomeçar @ Teatro do MASP – São Paulo Data: 15 de 16 de dezembro, sexta-feira e sábado Horário: 21h (nas duas datas) Local: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Teatro) – Avenida Paulista, 1578, Jardim Paulista, São Paulo – SP Ingressos: de R$ 30 (preço único; meia-entrada) a R$ 60 (preço único; inteira), pelo site Ingresso Rápido ou na bilheteria do MASP (terça-feira a domingo, das 10h às 17h30; quinta-feira, das 10h às 19h30 e no dia do show até seu início) Classificação etária: Livre.


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'Há muitos artistas completos na nossa geração', diz Tim Bernardes, talento do indie brasileiro

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