Monarco, Nei Lopes, Luiz Carlos da Vila, Wilson Moreira, Nelson Sargento, Áurea Martins, Silvério Pontes, Carlos Malta, Ademilde Fonseca e Marcos Sacramento são apenas alguns dos cantores e compositores importantes do samba com quem os alunos da escola de música da Associação do Movimento de Compositores da Baixada Fluminense (AMC) já tiveram a oportunidade de tocar. As visitas de artistas tão importantes fazem parte do projeto que envolve crianças e jovens entre os 9 e os 17 anos, em São João de Meriti, cidade da Baixada: todos aprendem, sem pagar nada, a tocar instrumentos ligados a estes dois gêneros musicais. Da escola, que completa 18 anos em 2014, saem músicos profissionais cobiçados pelo circuito do samba e choro no Rio de Janeiro.
A história da Associação começa com a inciativa do músico e estudioso Bernard von der Weid, que agregava outros instrumentistas de samba e choro da região em encontros casuais e esporádicos para fazer música entre amigos. Os encontros começaram lá nos idos dos anos 70, e fizeram sucesso tal que os músicos envolvidos foram convidados a gravar um CD. Por serem um grupo pequeno, durante o processo de gravação se viram obrigados a contratar outros profissionais, e os mais experientes que encontravam eram, na maioria, oriundos da Zona Sul carioca. “Contratar estas pessoas não tinha nada a ver com a nossa proposta”, explica Lena de Souza, atual diretora da escola e esposa de Bernard. “Chegamos à conclusão de que seria muito melhor educar os nossos próprios músicos, ensinando jovens e crianças que não tinham a oportunidade de aprender”.
Na época, Lena era professora de língua portuguesa de uma escola pública e, apesar de insatisfeita com a profissão, manteve em pé a certeza de querer continuar a trabalhar com crianças. Este desejo se fundiu com a vontade do marido de avançar com um projeto musical consistente. Assim, elaboraram o conceito da escola e tentaram durante anos obter apoio financeiro. Sem muito sucesso, optaram por alugar um espaço com a ajuda de amigos, também músicos e interessados em participar, em 1996. Passados os anos, a Associção cresceu e apareceu. E hoje possui dois importantes patrocínios: Petrobrás e Secretaria de Estado da Cultura do Rio de Janeiro.
Atualmente, estudam cerca de 170 alunos, de graça, e a lista de espera é grande. “Temos muita procura. Assim que fica livre uma vaga por mês, entra alguém da lista”, diz Lena. A escola oferece aulas de violão (6 e 7 cordas), cavaquinho, bandolim, percussão e flautas (transversa, doce, clarineta, etc). As aulas são sempre coletivas, por nível de aprendizagem e não por instrumento, como é habitual na maioria das escolas, e o repertório inclui compositores do choro e do samba do início do século passado: Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola, Jacob do Bandolim, Ismael Silva, entre outros. “No início, muitos alunos nem conhecem estes compositores. Nós tentamos justamente reconectar a garotada com essa vertente da MPB e eles acabam se interessando muito. É lindo ver que até os pais, que já estavam meio esquecidos, ficam emocionados quando os filhos chegam a casa tocando essas músicas,” revela a diretora.
Lena faz questão de falar sobre um importante projeto da escola, que consiste em convidar, todo mês, um artista do cenário do samba para tocar exclusivamente com os alunos da escola e conhecer seu trabalho pessoalmente. “No mês passado tivemos a presença do Monarco, da Portela, e no mês anterior, Nei Lopes.” Ela destaca ainda a importância de um outro projeto, desenvolvido em parceria com a Escola de Música da UFRJ: “Troca de Saberes”. Alunos da Universidade foram à Baixada ensinar um pouco de música clássica, e os alunos da AMC foram à UFRJ partilhar com os acadêmicos os seus conhecimentos de música popular. “Nós participamos também com shows em diversos eventos e organizamos vários passeios”, conta. “Eles já gravaram dois CDs, um de choro e um de samba, com participações de artistas consagrados, à venda na escola.”
É ainda objetivo da AMC mostrar que a música pode ser profissão. Os sete atuais professores estudaram na escola e hoje trabalham nela em tempo integral, com carteira assinada. “Além deles, alguns ex-alunos tocam com sambistas famosos do Rio e outros frequentam o ensino superior de música.”