LOS ANGELES (Reuters) – A cerimônia de entrega do Grammy Latino, cancelada no ano passado em função dos ataques de 11 de setembro, voltará a acontecer nesta quarta-feira, destacando um cenário musical repleto de inovações, mas também de problemas, entre os quais uma queda nas vendas, a pirataria e o tempo limitado de exposição nas rádios.

Apesar dos desafios que o setor enfrenta, quase todos os envolvidos com a terceira festa anual do Grammy Latino, que acontece no Kodak Theatre, em Hollywood, estão animados com a volta do show ao horário nobre da TV norte-americana.

A cerimônia do ano passado já estava cercada de polêmica antes mesmo dos ataques ao WTC e ao Pentágono, que aconteceram no dia previsto para a realização da cerimônia.

Seus organizadores já tinham provocado grande celeuma ao transferir a cerimônia de Miami para Los Angeles, devido ao receio de que manifestantes anti-Fidel Castro pudessem semear o caos com protestos contra a presença de artistas cubanos na premiação.

DESTAQUE PARA A COLÔMBIA

E, como aconteceu no ano passado, os indicados deste ano incluem vários artistas mais inovadores do que os grandes astros pop latinos convencionais que cantam também em inglês, como Ricky Martin.

A política é novamente uma das forças motrizes do Grammy, na medida em que artistas da Colômbia, um país atolado na guerra civil, ganham destaque entre os indicados em dezenas de categorias, que vão desde o flamenco até o samba, passando pelo clássico, rock, salsa, merengue e regional mexicano.

“Um dos lugares mais férteis do momento, em matéria de música, é a Colômbia, em parte por causa do tumulto político de lá”, disse Bruno Delgranado, presidente da Maverick Musica, a divisão latina da Maverick, o selo de Madonna.

“A nova geração de colombianos está encontrando maneiras de expressar sua revolta e há coisas espantosas saindo daquele país.”

A cantora colombiana Shakira, que penetrou no mercado de massas com um misto singular de pop, salsa e toques do Oriente Médio, vai se apresentar na cerimônia. O clipe de “Suerte” é um dos indicados na categoria melhor videoclipe musical.

Outro destaque colombiano é o popstar Carlos Vives, indicado para melhor álbum do ano com “Dejame Entrar”.

E também vem da Colômbia o roqueiro Juanes, que surpreendeu a muitos no ano passado quando ganhou várias indicações com seu misto de rock e vallenato colombiano.

Este ano, o três vezes ganhador do Grammy vai se apresentar com a cantora pop Nelly Furtado. Ele recebeu três indicações pelo single “A Dios Le Pido”: canção do ano, melhor canção de rock e melhor videoclipe.

MISTURA DE GÊNEROS

Outra tendência forte é a mistura de gêneros de todos os cantos do mundo, conforme exemplifica a septuagenária cubana Célia Cruz, indicada na categoria melhor disco do ano por seu hip-hop contemporâneo e irrequieto “La Negra Tiene Tumbao”.

“Há um misto de artistas conhecidos e desconhecidos que vêm surgindo com sons muito novos. Muitos talentos latinos alcançaram a maioridade num mundo mais globalizado”, disse Luis Brandwayn, presidente e fundador da Batanga.com, uma rede de rádios latinas na Internet.

“Hoje em dia, música latina não é definida apenas em função do país de origem do artista.”

Um rápido olhar para os indicados reflete a natureza diversificada e global das indicações, que abrangem desde o inovador espanhol Miguel Bose até o pop romântico do espanhol Alejandro Sanz, os roqueiros chilenos da banda La Ley e o roqueiro funk colombiano Cabas.

NEGÓCIOS NÃO VÃO BEM

Mas, apesar da criatividade que se percebe na música latina, os negócios andam em baixa, observam os executivos.

As vendas de CDs de música latina caíram 26 por cento no primeiro semestre de 2002, conforme a associação de gravadoras dos EUA, que atribui a queda à pirataria.

Segundo um representante da Sony, embora a música latina componha apenas 5 por cento do mercado mundial de música, cerca de 40 por cento da pirataria no mundo é latina.

Brandwayn disse que os artistas latinos nos EUA continuam a enfrentar dificuldades de marketing, na medida em que as rádios lhes dão pouca exposição.

“Muitos dos artistas que estão sendo indicados este ano são pouco ouvidos no rádio. Essas bandas são extremamente populares, mas têm dificuldades de conquistar espaço no rádio nos EUA porque as emissoras preferem optar pelo denominador comum: baladas, salsa, pop e música mexicana”, ele explicou.

Por essa razão, explicou um executivo, fazer uma apresentação memorável na festa de entrega do Grammy pode valer ainda mais para o artista do que levar um prêmio para casa: pode fazê-lo estourar no cenário musical


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Grammy Latino dará destaque a artistas inovadores

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