O cantor e compositor Gilberto Gil assumiu nesta quinta-feira a pasta da Cultura prometendo colocar o ministério no dia-a-dia dos brasileiros e também em sintonia com os outros órgãos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

“Quero o ministério presente em todos os cantos e recantos do nosso país… que seja realmente a casa da cultura brasileira”, disse Gil, 60 anos, após o discurso do ex-ocupante da pasta Francisco Weffort.

O auditório do Ministério da Cultura permaneceu lotado durante a transmissão do cargo, com a presença de populares e personalidades públicas, como o senador eleito pelo baiano Antônio Carlos Magalhães (PFL), senador Eduardo Suplicy (PT-SP), o ministro da Integração Nacional Ciro Gomes, sua mulher e atriz Patrícia Pillar, o ator Sérgio Mamberti e a mulher de Gil, Flora Gil.

Além das parcerias com as pastas da Educação, Meio Ambiente, Trabalho, Turismo, Esporte e Integração Nacional, o novo ministro ressaltou que seria importante e “lógica” uma ligação maior com o Ministério das Relações Exteriores devido sua importância estratégica.

“Tenho para mim que a política cultural deve permear todo o governo como uma espécie de argamassa de nosso novo projeto nacional”, disse. “Juntamente com o Ministério das Relações Exteriores, temos que pensar, modelar e inserir a imagem do Brasil no mundo.”

“DO-IN” DO ESTADO

Gil criticou uma política de apoio à cultura baseada unicamente nos incentivos fiscais e defendeu mudanças na Lei Rouanet.

“O Estado não deve apostar todas as suas fichas em mecanismos fiscais, entregando assim a política cultural ao ventos, aos sabores e aos caprichos do deus-mercado”, disse o ministro.

“É claro que as leis e os mecanismos de incentivos fiscais são da maior importância, mas o mercado não é tudo e nunca será tudo”, acrescentou. “O Ministério não pode ser uma caixa de repasse de verbas para uma clientela preferencial”, afirmou Gil, seguido de entusiasmados aplausos da platéia.

Ele defendeu a atuação do Estado como estimulador da produção cultural, por intermédio de políticas públicas.

“É preciso intervir, não segundo a cartilha do velho modelo estatizante, mas para clarear caminhos, estimular, abrigar, para fazer uma espécie de “do-in” antropológico, massageando pontos vitais mas momentaneamente desprezados e adormecidos no corpo cultural do país.”

Em entrevista coletiva, Gil defendeu que o debate em torno de alterações que possam ser feitas na Lei Rouanet seja iniciado imediatamente, para garantir o acesso mais “múltiplo” aos recursos.

“O que se discute é a adoção de mecanismo que possam tornar a lei mais ágil, mais aberta, mais regionalizada, mais democrática”, disse, acrescentando que a sua expectativa é que dentro de três ou quatro meses se possa ter um novo perfil para a lei.

Ainda dentro da expectativa de aumentar os recursos disponíveis para a política cultural, Gil disse que será negociada a possibilidade do ministério participar do direcionamento dos recursos das empresas estatais destinados a projetos culturais.

“A possibilidade que esses recursos venham para o ministério de alguma forma, de alguma forma fiquem submetidos à política do Ministério da Cultura, é uma coisa para qual nos temos que nos empenhar”, disse Gil, acrescentando que outros setores da administração já mostraram interesse na proposta.

HINO RITMADO

Gilberto Gil voltou a afirmar que gostaria de continuar exercendo a atividade de artista, desde que não haja conflito com o seu atual cargo. “Nos fins de semana em tese posso exercer a profissão”, disse.

Há algumas semanas, Gil causou polêmica ao dizer que o salário de ministro, de cerca de 8.000 reais, não seria suficiente para manter o seu padrão de vida.

No início da cerimônia, Gil mostrou que não conseguirá ficar muito longe da música –além de cantar, deu o ritmo com a mão ao Hino Nacional que estava sendo executado. E quanto teve problemas como o som do microfone, brincou: “Logo eu, tão acostumado com isso”.

Reuters


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Gilberto Gil recomenda "do-in" estatal para estimular a cultura

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