Uma das artistas mais originais e indefiníveis da música brasileira moderna, Karine Alexandrino acaba de voltar ao mundo fonográfico. A cantora cearense está lançando Mulher Tombada, seu 3º álbum, fechando a trilogia iniciada com Solteira Producta (2002) e Querem Acabar Comigo, Roberto (2004).


Embora tenha ficado 11 anos sem lançar um disco, Karine nunca sumiu da mídia. Nesse período, a cantora fez shows em diversos pontos do país, e turbinou sua imagem de “mulher tombada”: uma postura performática que sempre fez parte de seu trabalho, com Karine literalmente caindo em espaços públicos – e a questão acabou virando polêmica há algum tempo, numa disputa pela autoria do conceito de “mulher tombada”; atualmente a questão foi superada, e Karine prefere nem comentar o caso.

O que interessa a ela é a música, e nesse sentido Karine mostra-se mais vigorosa do que nunca. O novo álbum traz petardos contagiantes como Se Não For Certo Não Quero e Do Chão Não Passa, e faixas introspectivas nostálgicas como Devaneios e Lost in Translation.

Dançante e com certo ar maravilhosamente retrô (clima que sempre caracterizou o trabalho de Karine), o álbum é coerente com os anteriores e prova que a cantora tem personalidade de sobra – é impossível confundí-la com qualquer outra “jovem cantora moderna talentosa”, como tantas que surgem a todo momento.


Com o disco lançado, a cantora segue fazendo shows com o novo repertório. Na capital paulistana, Karine se apresenta no Centro Cultural São Paulo no dia 10 de março de 2016, dentro da programação celebrando as mulheres (o Dia Internacional da Mulher é comemorado em 8 de março).

Na entrevista exclusiva a seguir Karine comenta o novo álbum, seu atual momento e suas opiniões musicais.

Por que você demorou 11 anos para lançar seu terceiro álbum?
Acredito que devo fazer disco quando tenho algo a dizer, além de cantar. Cantar por cantar nunca foi a base do meu trabalho. Via meus dois discos anteriores ainda sendo assimilados pelas pessoas que se manifestavam nas minhas redes um bom tempo depois, inclusive durante esses 11 anos. Sinto uma espécie de chamado da minha intuição. Tipo: a hora de escrever a letra chegou, a hora de subir ao palco chegou. E teve a maternidade. Esperei meu filho aprender a ler primeiro pra poder voltar. Questão de prioridades. Quis me dedicar exclusivamente ao meu filho e o fiz. E tudo fez sentido. Tudo na hora certa pra mim.

O novo disco encerra a trilogia iniciada por Solteira Producta e Querem Acabar Comigo, Roberto. Desde o início você planejava uma trilogia?
Sim. Mas no início não foi algo estratégico. As coisas vão acontecendo, o mundo muda, eu mudo, algumas músicas pediam uma espécie de parte 2, etc. E pensei em fazer os três discos ligados, o conteúdo das letras, as melodias, as histórias que as letras contam, o tipo de sonoridade e não coisa solta, que detesto. Fazer um disco atirando pra todo lado pra mim não é uma obra. É nada pra mim. Vejo gente fazendo e acho um maneirismo. Fujo de maneirismo e diluição.

Você acredita que o novo álbum segue a linha musical dos anteriores? O que mudou, musicalmente falando, nesse novo trabalho?
Acredito que mudou e amadureceu. E é uma evolução dos anteriores. E continua sendo eu, só que melhor, houve um respeito à ordem do tempo e foi além dele. O que mais gosto nas nossas músicas é a antilinearidade delas. Eu e o Dustan Gallas, meu parceiro nos três discos, somos muito afinados trabalhando juntos.

Quais as referências musicais que rolaram nesse novo álbum? Algum artista, banda ou disco que tenha sido mais forte nesse processo?
Minhas referências são o que ouvi na minha infância. Não diluo nada de ninguém. Sou fiel a mim. Quem ouve meus discos ouve Jovem Guarda, Tropicalismo, música eletrônica muito particular, romantismo.

O que acha da música pop brasileira produzida atualmente?
Algumas coisas são muito boas, mas também muita imitação, revisionismo, diluição.

Por que a metáfora da nudez nas fotos do álbum? O que significa a nudez hoje, com todo mundo nu no Facebook, nos selfies, tumblrs, nudes, etc.?
Nada mais banal que a nudez. Eu não estou nua nas fotos do encarte, meu corpo está plastificado.

Por que decidiu homenagear a Claudia Wonder?
Grande mulher. As ativistas devem ser homenageadas. Ela sempre foi muito legal comigo e ela foi uma revolucionária.

O que você quer dizer com a frase “Sucesso é para os fracos”?
Fácil ser esse sucesso falso, quero ver é cair e se levantar sem bengala.

Comente a recente polêmica sobre a autoria da questão “mulher tombada”.
Exagerei um pouco porque meus fãs ficaram chateados e lutaram por mim. Tenho fãs maravilhosos, inteligentes e muito atenciosos. Hoje não faria nada, ignoraria.

Você continua “tombando” nos lugares?
Todo dia. Em fotos, exposições, nos discos e na vida. Mas “levanto, sacudo a poeira e dou a volta por cima”.


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Genuína Mulher Tombada, Karine Alexandrino lança disco que fecha sua trilogia musical

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