Gastão Moreira é mais conhecido pelo seu trabalho como VJ da MTV Brasil de 1992 a 2000, quando apresentou programas como Gás Total e Fúria e catequizou várias cabeças para o rock n roll. Como guitarrista do Rip Monsters, lançou dois CDs independentes. Depois da MTV, comandou o programa Musikaos, na TV Cultura, por quatro anos.
Mais tarde, Gastão mudou-se para Florianópolis (SC) e assumiu o baixo na banda Kratera, com quem lançou mais dois CDs e capitaneou a programação rock do Gasômetro, na rádio Atlântida. Em 2006, depois de um extenso trabalho de pesquisa que durou quatro anso, lançou o DVD Botinada – A Origem do Punk no Brasil, documentário que conta os primórdios do movimento no País. Aparentemente sumido da cena roqueira, Gastão retornou a São Paulo no ano passado. Por e-mail, o jornalista contou ao Vírgula Música o que anda tramando e o que acha da música atual. Confira:
Primeiramente, quais seus projetos atuais e planos? O que você anda fazendo? Está com banda?
Minha banda Kratera acabou quando eu voltei para São Paulo, pois todos moram em Floripa. Lançamos três álbuns e tocamos bastante ao vivo, cumprimos nossa missão de apavorar bandas fofinhas (risos).
Fiz o Gasômetro por cinco anos na rádio Atlântida e tive uma casa de show underground em Floripa chamada Célula. Lancei o Botinada em 2006, documentário que narra a chegada do movimento punk ao brasil que consumiu quatro anos para ser feito. Hoje faço um programa chamado Lado H no Glitz (canal 95 da Net), antiga Fashion TV. O programa vai ao ar na segunda às dez da noite e fala sobre temas pertinentes ao homem contemporâneo. No ano passado fiz mais de cem pautas e nenhuma foi sobre música. Saí da minha zona de conforto (risos).
Você tem acompanhado a cena independente brasileira? Quais bandas você destacaria nesse balaio?
Ainda tem várias bandas de qualidade espalhadas pelo Brasil. Gosto dos mais audaciosos, como Cidadão Instigado, Emicida, Cachorro Grande e Macaco Bong. Mas em geral, estamos passando por um momento de marasmo, falta de inspiração e bandinhas ordinárias que se acham. Está na hora de alguém dar uma bica em tudo.
E quanto ao mainstream? O que você acha que vale a pena ouvir entre os artistas que fazem sucesso atualmente? Você também acha que esse povo do Happy Rock vai morrer de vergonha do passado daqui a uns anos?
Happy rock??? Dio mio!!! Passei oito anos em Floripa desconectado do mainstream por pura falta de interesse. A distância entre o que eu gosto e o que faz sucesso aumentou. Vejo fenômenos inconsistentes causando furor e bandas juvenis com um pé no sertanejo universitário. Espero que seja uma fase de mau gosto passageiro.
Pergunta difícil: qual a melhor banda/artista brasileiro na música, seja dentro ou fora do segmento do rock?
É uma pergunta subjetiva; fico entre Chico Buarque, Jorge Ben e Secos & Molhados.
A internet veio para facilitar a vida dos pesquisadores de sons e dificultar a das gravadoras. Por outro lado, praticamente a cada mês um site anuncia equivocadamente o “novo Nirvana” por aí. O que você acha disso?
Essa busca pelo próximo fenômeno sempre existiu, mas intensificou-se neste século. Vejo como fruto da impermanência e desapego com a música nos dias atuais. A internet reduziu os quinze minutos de fama a alguns segundos. Poucas dessas ‘salvações’ sobrevivem ao segundo disco; é difícil encontrar uma banda que sustente uma carreira mais longa, com vários álbuns lançados. O imediatismo consumista está matando a boa música. Apesar disto, pintaram boas bandas neste século, como TV on the Radio, Arctic Monkeys, Black Mountain, The Kills, Woven Hand, Asteroid nº4 e os projetos do Jack White (ex-White Stripes e atual Raconteurs e Dead Weather).
Qual o melhor show que você já viu? E o “sonho de consumo em forma de show”?
O show que me levou às lágrimas foi do The Who, em 1989, no Wembley Arena. Tocaram o [disco] Tommy inteiro, fizeram uma pausa de meia hora e voltaram para mais duas horas de alegria. Mas um sonho impossível de consumo seria assistir o Roxy Music em 1972.