MC Rodolfinho e MC Lon, do funk ostentação
Desconhecidos da mídia até que o assassinato do MC Daleste, em 17 de julho, jogasse luz sobre o funk ostentação, gênero paulista que se popularizou há um ano, nomes como MC Lon, de Novinha Vem Que Tem e MC Rodolfinho, de Como é Bom Ser Vida Loka, começam a planejar carreira internacional.
Em entrevista ao Virgula Música, eles contam que o mais conhecido da turma do funk ostentação, o MC Guimê, de Plaquê de 100. Quando Rodolfinho comenta que “o sonho mesmo é chegar lá fora do Brasil”, Lon respondeu: “Acho que esse sonho já foi realizado. Porque a gente não foi ainda, mas a nossa música foi. O Guimê já tem data lá fora…”
Em seguida, após a reportagem perguntar se a data é nos Estados Unidos, ele conta que o MC contará com apoio da Red Bull. “Estados Unidos, França, Portugal, o funk está bem espalhado. E tipo, ele indo, ele abre as portas para nós também. Então, isso a gente tem que ter na nossa mente. Como ele vai, que a Red Bull ajudou ele e tal e tudo, eles vão ajudar a gente também para ir”, afirma Lon.
Veja Novinha Vem que Tem, de MC Lon
Leia a conversa que rolou na rádio Jovem Pan, antes de serem entrevistados no Pânico. Eles falaram sobre a batalha para chegar ao ponto atual. “Na verdade, antes ninguém tinha nada. Até hoje tem uns MCs que cantam e não tem. Graças a Deus, a gente, eu, ele (Lon) e o Guimê temos tudo que a gente fala”, disse Rodolfinho. “Eu não conquistei a ostentação na ostentação”, completou Lon. Eles também falaram sobre o YouTube ser mais importante que a MTV, influências musicais e de estilo, inveja e a morte de Daleste.
Em quem vocês se espelham como modelo de carreira de
artista?
MC Lon – Eu vou mais pelo estilo internacional, me baseio em
um Soulja Boy, um Wiz Khalifa, nas roupas, nos trajes. E como MC eu me baseio
assim em um Gustavo Boy, uns MCs que nem ficaram estourados em um mesmo nível
que eu, mas as letras deles, como eu conheço há muito tempo, dez anos, o funk,
as letras deles que entrou na minha mente. E talvez eu tenha adotado a mesma
ideologia deles, Gustavo Boy, MC Bola, que é da antiga, Neguinho da Caxeta,
entre outros.
Soulja Boy Tell´em, Crank That
MC Gustavo Boy, Vence ou Vence
Na ostentação agora, a pessoa que está fazendo mais
marketing foda é o Guimê, mano. Quem eu me espelho na ostentação voltada ao
funk o Guimê é um cara que está vindo forte, pesado.
E você, Rodolfinho?
MC Rodolfinho – Os internacionais que eu curto é Souja Boy,
Lil Wayne, Drake também, e os artistas nacionais que é eu gosto são Marcelo D2,
de rap, Racionais (MCs), dos MCs, MC Lon, MC Guimê, também MC Smith, que é mais da
antiga.
Marcelo D2, Está Chegando a Hora
MC Smith, Vida Bandida 2
Racionais MCs, Vida Loka (Parte 2)
MC Lon – O Smith foi um cara diferenciado, um cara que
ajudou muito a gente também, que também não pode ficar de fora.
O que eles mudaram, o que eles trouxeram de novo para o
funk?
MC Lon – Todo mundo que conhece o funk sabe que o Rio de
Janeiro tem um funk mais meio na batida, dançante, um tambor mais gostoso de
escutar. E ele, como ele é do Rio, ele veio cantando.
Ele veio cantando, colocou refrão, início, meio e fim. E as
nossas músicas também tem isso, então, como ele veio primeiro, a gente se
espelhou muito, pegou essa inspiração dele, pegou para gente e deu certo, não
é, parça? Na ostentação.
Qual é seu maior hit, Lon, e de onde veio a inspiração?
MC Lon – Meio maior
hit foi lançado há três anos, quando eu entrei no funk, que não é uma música
ostententação, o nome é Mundo M. Todas as palavras começam com “M”. Com essa música
eu tive inspiração para fazer a ostentação e tal, a que me deu mais renda e me
colocou no meio artístico do funk.
MC Lon, Mundo M
E como você teve a ideia de fazer essa música?
MC Lon – Na verdade, eu escutava bastante rap e, quando eu
era muito novo, eu escutava aquela Brasil com P, do GOG, os Ndee Naldinho. Daí
eu fui crescendo nessas ideologias. Um certo dia, eu não fiz mesma coisa que o
GOG porque a dele é com “P” e a minha é com “M”. Eu durmi com essa letra na
mente e acordei assim: “Muitas maldades, mano, meu, manera”, que é a primeira
frase da minha música. Disso eu fiz a música toda.
E você, Rodolfinho, como você fez seu maior hit?
MC Rodolfinho – Eu já cantava e as paradas não davam muito
certo. Eu cantava igual ao Lon, assim, uma paradas conscientes, de realidade.
Aí a primeira minha que estou mais foi Como é Bom Ser Vida Loka. Eu fiz ele com
clipe e depois dela, eu já fui para a televisão…
Como é Bom Ser Vida Loka, MC Rodolfinho
E como foi a ideia para fazer essa música?
MC Rodolfinho – Eu vi
que estava aparecendo mais videoclipe, mais uma paradas falando de roupa, de
marca, aí eu fui e fiz ela, baseado nas coisas que eu sonhava em ter.
Na época nem tinha ainda?
MC Rodolfinho – Não
tinha nada, era só o sonho.
E como é esse dilema de ter que ter as coisas para poder
cantar e ao mesmo tempo querer cantar para poder ter?
MC Lon – Isso.
MC Rodolfinho – Na verdade, antes ninguém tinha nada. Até
hoje tem uns MCs que cantam e não tem. Graças a Deus, a gente, eu, ele (Lon) e
o Guimê temos tudo que a gente fala.
MC Lon – Eu não conquistei a ostentação na ostentação.
Quando eu cantava um funk meio proibidão, realidade, não é? Um proibidão, um
funk meio consciente, mais para comunidade, eu consegui adquirir uma força
dentro das comunidades e eu já ia arrecadando, R$ 1.000, R$ 2.000, assim fui
juntando o dinheiro. E quando eu entrei na ostentação, eu já estava vivendo a
ostentação, diferente de Guimê, que fez Tá Patrão…
Veja MC Guimê, Tá Patrão
MC Rodolfinho – De mim também, passei a viver depois que
comecei a cantar.
MC Lon – Eu comecei a cantar ostentação depois que eu vi o
clipe do Rodolfinho, do Guimê. Mas graças a Deus eu já tinha dinheiro para
ostentar. Aí, o que eu fiz, comecei a comprar uns carros, uma casa da hora,
comecei a fazer uns videoclipes juntos com eles. Eu ajudei a mente deles a
focar no funk e eles me ajudaram a focar na ostentação. Ele me ajudou pelo lado
da mídia e eu ajudei do talento, do desempenho. E assim graças a Deus a gente
se encaixou e eu pude entrar na ostentação ostentando. Como alguns e como
poucos também.
Que papel a tecnologia têm para vocês? O YouTube é a MTV de
vocês?
MC Lon – Na realidade eu acho que é até mais que a MTV. É
tudo, para te falar a realidade.
MC Rodolfinho – Nosso principal meio de divulgação é o
YouTube, Facebook, Twitter…
MC Lon – Quando eu
lancei o meu videoclipe Novinha Vem que Tem, que tem 25 milhões, saiu na página
da internet da MTV, “ah, nunca vi um clipe de funk ter roteiro, tal e tudo”. E
muitas visualizações em menos de um mês, em um mês eu consegui 7 milhões de
visualizações.
Foi muito marcante para eles, que estavam vindo com
ConeCrewDiretoria, Racionais MCs, com uns clipes bem produzidos. E o meu também
veio produzido, só que não passava na MTV. Então, no caso, o meu se destacou no
site por causa do YouTube. O YouTube mostrou para ele, no caso. Então eu posso
falar que antes da MTV, antes de qualquer coisa, qualquer canal, o YouTube é
nosso força e nosso foco.
MC Rodolfinho – Até
por que a MTV não abria muito as portas para o funk.
MC Lon – O primeiro MC que eu vi assim, abrir as portas, foi
Nego Blue. (Rodolfinho cantorola, “Vem, pode chegar que ela vem”). Ela estourou
na classe média, na média-alta também, foi o primeiro que eu vi. Aí depois o do
Guimê já foi, o meu já foi para a página do Rodolfinho que passa lá…
MC Nego Blue, Vem, Pode me Chamar que Ela Vem
O seu clipe está com quantos milhões, Rodolfinho?
MC Rodolfinho – Está com 19 milhões. O meu é um dos mais
antigos.
E no total?
MC Lon – Eu tenho mais de 400 milhões de visualizações.
E você?
MC Rodolfinho – Devo ter uns 100 milhões.
Quem da galera de vocês têm mais?
MC Lon – É o Guimê tem uns 200 milhões na conta dele (do
YouTube), mas eu tenho na conta de todo mundo. Quando eu comecei a fazer a
parada no YouTube, eu nunca pensei em gerar verba, igual a gente gera hoje.
MC Guimê, Plaquê de 100
O Guimê não, ele já começou com uma estrutura, que foi a
Maximo Produtora que deu para ele, que é a nossa produtora. Ele tem mais
exibição que eu e que o Rodolfo, por quê? Que foi um cara mais inteligente.
MC Rodolfinho – E teve uma assistência primeiro.
MC Lon – Teve um cara que ensinou que podia ganhar dinheiro
do YouTube. E eu não, só ganhava visualização. Você gostava da minha música,
tinha uma conta no YouTube, você jogava minha música na sua conta e dava três
milhões de acessos. Aí a conta de outro que eu nem conheço, que é de lá de
Ubatuba, jogou também. E assim pelo Brasil todo. Na verdade, quem tem mais
views na conta dos outros, sou eu, que tenho mais de 400 milhões.
Na minha conta, eu tenho 150 milhões de views e é uma conta
nova, que eu criei agora, eu soltei essa conta nova junto com o clipe de
Novinha Vem que Tem. Então, ela tem uns sete meses. Mas se eu tivesse feito
isso desde o começo, eu tinha vixi, muito mais.
Você acha que foi necessário que acontecesse o que rolou com
o MC Daleste, lamentavelmente, para que o funk ostentação ganhasse espaço e
vocês pudessem dar o recado de vocês na mídia?
MC Rodolfinho – Acho que não.
MC Lon – Acho que não. Na verdade, o funk já vem evoluindo e
sendo mostrada como uma cultura mais brasileira e, como que eu posso falar,
menos poluída, entendeu? Um som que você pode escutar agora tranquilo, pode
colocar seu filho para escutar, que não vai ter nada de errado, não vai ter
nenhuma palavra que influencie ele a fazer o mal. Foi isso que mudou o funk, na
verdade não foi nem a morte do Daleste. A morte do Daleste fez andar mais
rápido esse processo.
Na verdade, o que mudou foi a gente mesmo com outro tipo de
influência e um sonho. Querer ter um sonho que pode ser realidade amanhã.
MC Daleste, São Paulo
Tem gente que fala que a ostentação é uma coisa nova no
Brasil, porque no Brasil tem essa cultura católica de não mostrar as coisas
materiais, enquanto que nos Estados Unidos, a maioria é protestante, que tem
outra visão. Vocês acham que isso é uma mudança de filosofia, ah, eu tenho, eu
vou mostrar, ostentar, porque isso é motivo de ter orgulho?
MC Lon – Com certeza,
porque ninguém nasceu para semente. Pode ser, o Bill Gates, os caras mais ricos
do mundo, eles vão morrer um dia. A gente nasce, faz o que tem que fazer e
depois de um tempo vai e morre.
Eu, assim, o Rodolfo eu não sei porque teve um pai e uma mãe
que botou ele para estudar, mas eu era a torre da minha família. O meu pai
abandonou minha mãe com um monte de filho pequeno, para mim sempre foi duro,
tipo, eu ter uma bicicleta, mano. Então, eu nunca imaginei ter nada. Igual eu
falei lá no Pânico, meu sonho era ter uma Bizinha (Honda Biz) amarela.
Então, hoje, graças a Deus a gente está sendo bem pago pelo
nosso serviço, estamos sendo assediados e não tem como, só porque a gente não
tinha nada, morava num barraco, não tem como aparecer na mídia do jeito que a
gente veio ao mundo, pobre, a gente tem que mostrar o que a gente conquistou,
que o dia de amanhã só pertence a Deus, a gente tem que não extrapolar, mas a
gente tem que viver o dia como se fosse o último da nossa vida, intensamente. E
por isso que gera a ostentação, na minha mente, se eu não mostrar hoje, amanhã
eu não vou poder mostrar.
É por isso que eu mostro tudo e não tenho medo de andar, não
tenho medo de ir em qualquer lugar.
E como vocês lidam com a inveja?
MC Rodolfinho – A
gente tenta se prevenir, coloca segurança, sempre que vai descer do carro fica
olhando. Mas se acontecer, a gente reza
para que não aconteça. Porque a gente sabe que tem, ainda mais a gente que
mostra as coisas, mostra ouro.
MC Lon – Para você ver, antes de ter essa parada da
ostentação, há dois anos, que o Rodolfinho é um amigo meu que eu acompanhei ele
e ele me acompanhou, ele não vai deixar eu mentir.
Antes da ostentação, que tem um ano, para você ver, eu fui
fazer um baile na quebrada dele, ele já estava cantando, ele estava em um baile
e eu estava em outro, lá em Osasco. para você ver, antes da ostentação, já me
roubaram um i30, eu cantava proibidão. Eu tinha já um i30, uma Captiva, uma pá
de carro.
No dia que me roubaram eu estava com R$ 10 mil em dinheiro,
com um quilo de ouro, um Rolex no valor de R$ 64 mil. Tipo, pulseira, anéis.
Para você ver que antes da ostentação eu ká tinha uns negócios para ostentar. E
foi lá na cidade dele, onde ele mora, lá em Osasco.
Cantando proibidão, falando uns bagulhos nada a ver, eu já
ostentava. Antes eu já andava com carro do ano, um quilo de ouro, então a
ostentação caiu na minha vida como a ostenção mesmo.
MC Rodolfinho – Isso indica que antes já tinha a inveja.
Agora que o negócio é mostrar mesmo, com certeza aumentou.
MC Lon – A gente se previne desse jeito que o Rodolfo falou,
segurança, tal.
Onde vocês esperam chegar com a música de vocês, o que vocês
ainda sonham?
MC Rodolfinho – O sonho mesmo é chegar lá fora do Brasil.
MC Lon – Acho que esse sonho já foi realizado. Porque a
gente não foi ainda, mas a nossa música foi. O Guimê já tem data lá fora…
Estados Unidos?
MC Lon – Estados Unidos, França, Portugal, o funk está bem
espalhado. E tipo, ele indo, ele abre as portas para nós também. Então, isso a
gente tem que ter na nossa mente. Como ele vai, que a Red Bull ajudou ele e tal
e tudo, eles vão ajudar a gente também para ir.
O meu sonho eu posso falar a verdade para vocês, mano, é
atingir todas as redes nacionais de televisão, que eu já estou quase
conseguindo. Para minha mãe ver que tudo que eu fiz não foi em vão. Aquelas
porcarias que eu cantava, que ela falava para parar de cantar, eu parei.
E hoje, graças a Deus, eu estou sendo reconhecido. O meu
sonho agora não é ter mais nada, mas aparecer em todas as redes nacionais de
televisão.
E qual é a mensagem que você quer levar, quando aparecer?
MC Lon – O sonho. Quero levar o sonho para todas as crianças
de comunidade carente, como eu fui. Que ele lutando para ser jogador de
futebol, lutando para estudar, para ser um doutor, um MC, um cantor de samba,
de reggae, é só ele correr atrás, não pensar em nada do mal. Porque o mal não
existe perto de quem quer o bem. Então, quero levar essa mensagem, que o sonho
pode estar por vir amanhã.
MC Rodolfinho – A minha mensagem é a mesma que ele falou,
mostrar que quem luta, conquista, para nunca desistir. Porque a gente não era
nada e tem um monte de coisa, tem casa, carro, então passar para eles que eles
podem conquistar também, se eles correrem atrás.