Diante da velocidade da internet, muitas “apostas” de 2018 já foram tragadas pelo esquecimento. Poucos, no entanto, tem as cores e a vibração da cearense radicada em São Paulo Ana Chonps, cantora, compositora e influencer de 24 anos.
Sua aparição na mídia, se deu após ter virado meme e ido parar no Instagram de Marina Diamandis. Mais recentemente, em dezembro do ano passado, ela voltou como protagonista em Robin & Batman. Também fotógrafa e videomaker, seus conhecimentos de cultura pop e seu ativismo LGBT, a transformaram em nitroglicerina pura. Ela não trabalha com tiros, mas com explosões muitos maiores.
Nesta entrevista, Chonps fala de cultura pop, millenials, audivisual e projetos futuros.
Você apareceu na mídia pela primeira vez como fã de Marina Diamandis, que artistas você mais idolatra hoje em dia?
Ana Chonps – Eu me divirto muito em pensar que sempre que forem ver como eu comecei vão me ver como meme em um show cancelado ou com uma melancia na cabeça no Instagram da Marina.
Atualmente a minha maior inspiração é a Hayley Kiyoko, a rainha da música lésbica da internet, a Dominique Provost-Chakley, uma atriz maravilhosa, a Charli XCX, que espero que seja minha chefe um dia, a Lorde, o Troye Sivan, a Dua Lipa, o Jack Antonoff, a Lana Del Rey e a Marina.
Ter ídolos pop te ajudou a criar sua própria persona artística?
Chonps – Com certeza. Todas as músicas, clipes, séries e filmes dos quais eu fui fã contribuíram de alguma forma a me tornar quem eu sou hoje. Eu sempre digo que fui nascida e criada na internet porque eu fui mesmo. O que eu faço agora enquanto estou me descobrindo enquanto artista é tentar criar coisas das quais eu seria fã se não fosse eu mesma fazendo, então todas as minhas artistas favoritas fazem parte disso de alguma forma.
Existe algo no seu som que tenha relação com o seu local de origem? Que características você considera mais marcantes?
Chonps – Acho que em tudo que eu componho está intrínseco à minha vivência, o que inclui eu ter passado minha adolescência na internet e convivendo em fandoms em inglês, seja em Fortaleza, São Paulo ou Portugal, lugares onde morei. Nasci em Fortaleza e eu tenho muito orgulho disso, mas era uma cidade bem religiosa e eu estudava em um colégio católico, então eu não me sentia confortável me expressando nesse ambiente.
Robin & Batman é meio que a cicatrização dessa ferida e experiência – foi eu expondo o que foi minha influência na adolescência e me provando que eu poderia fazer obras como aquelas que eu consumi. Por isso saiu uma música não explicitamente brasileira ou cearense, o que é algo que pra projetos futuros eu planejo que ser bem diferente.
Que características você acha mais marcantes na sua geração?
Chonps – Eu sempre fico em dúvida se sou Millenial ou Geração Z, mas acho que sou Millenial. Eu amo muito ambas porque acho que ao mesmo tempo que cultivamos o nosso gosto por cultura pop, estamos consumindo e produzindo conteúdos de maneira muito mais crítica. Temos bastante vontade de transformar o mundo mas também nos permitimos ser humanos. Nós rimos de memes, criamos playlists de rebolar a bunda e assistimos séries no Netflix no mesmo dia em que discutimos como nos posicionamos contra machismo, homofobia, racismo etc.
Você além de cantora também é influenciadora, atriz, fotógrafa, videomaker… De que maneira isso te ajuda a ser uma artista mais completa e que se envolve em todos os processos?
Chonps – Além de tudo isso eu também sou virginiana, o que significa que eu sou perfeccionista demais. Estou tentando mudar isso! Mas ser tudo o que você falou E perfeccionista significa que eu exijo muito de mim mesma e do que eu faço. Eu me meto em todas as áreas possíveis porque quero saber que fiz tudo o que estava ao meu alcance para o projeto sair bom.
Estudar e trabalhar com audiovisual faz com que eu nunca consiga pensar em uma música sem todas as outras esferas de expressões artísticas. Eu amo poder compor, escrever, dirigir e atuar porque eu quero que quem conheça meu trabalho saiba que eu estou em 100% do que eu produzo. Eu quero que percebam uma coesão geral na proposta e que se sintam não só conhecendo uma obra mas também eu mesma.
Como evitar que questões como a sexualidade do artista fiquem em primeiro plano e até mesmo ofusquem a sua música?
Chonps – Essa é uma preocupação que eu não tenho. Pra mim a minha sexualidade deve ser expressa de uma forma tão natural como qualquer outra, e se os espectadores/ouvintes héteros se incomodarem por causa disso é uma pena, mas não é algo que eu vou mudar. Eu não quero me diminuir ou me adequar para atingir um público maior, até porque quero que quem me acompanhe entenda que nós não temos que ser “convenientes” para ninguém.
Ser LGBT pra mim é parte da minha expressão artística, tanto como a minha música. Acho lindo a Pabllo, por exemplo, que veste e estampa isso no seu trabalho. Sempre vão falar sobre sexualidade e identidade quando falam dela, e se isso acontecer comigo estarei feliz de fomentar essa discussão, principalmente da perspectiva feminina.
Tem preocupação de passar uma mensagem com sua música? Se sim, que mensagem é essa?
Chonps – O que eu quero que as pessoas sintam quando escutem minha música, vejam meus clipes ou me acompanhem de alguma forma é: nós merecemos ser humanos em plenitude, o que significa que merecemos ser felizes, merecemos ter nossas fragilidades e que podemos buscar um mundo melhor sem precisarmos sofrer o tempo todo.
Identidade, orgulho, sexualidade e bem estar psicológico são coisas que sempre vão permear tudo que eu faço porque são coisas que me afetaram e ainda afetam. Profissionalmente, nada me faz mais feliz do que receber mensagens de pessoas me agradecendo por ajudar de alguma forma porque só eu sei o quanto alguns artistas também já me inspiraram.
O que está acontecendo de mais novo na música pop hoje, na sua opinião?
Chonps – Tem todo o tipo de gente fazendo todo o tipo de música. O Audiovisual ainda é muito elitizado, mas de maneira geral acho que anda se tornando mais acessível – as ferramentas técnicas necessárias para fazer uma música ou um vídeo hoje, por exemplo, são mais baratas do que eram algumas décadas atrás.
Eu mesma sou uma artista independente e hoje consigo fazer bastante coisa mesmo sem ter uma gravadora ou grande patrocínio. Eu acho isso incrível porque cada vez mais gente está experimentando se expressar e eu acho a diversidade e liberdade que isso traz muito importante.
O que você pode adiantar sobre seu novo single?
Chonps – Que eu estou muito nervosa. O novo single não tem nada a ver com “Robin & Batman” e, pessoalmente, eu acho muito importante sempre sair um pouco da minha zona de conforto, aproveitar que eu estou nesse momento de experimentar.
Nesse próximo, o que eu posso garantir é que todo mundo que ouve as bases instrumentais diz que dá vontade de bater cabelo na balada. Eu estou louca para lançar logo, mas sei que eu nunca ia me perdoar se ele saísse de qualquer jeito por causa de pressa.