Fresno por Camila Cornelsen
No sábado, 04 de junho, a banda Fresno se apresentou na Audio Club, em São Paulo. Além desse show, o grupo também ocupou o espaço no domingo, 05, e contou com ingressos esgotados nos dois dias. Apresentando faixas clássicas que fazem parte da história da banda, e com faixas do disco “Vou Ter Que Me Virar”, lançado em 2021, a Fresno mostrou como construiu uma comunidade fiel de fãs ao longos dos 23 anos da banda e, antes da apresentação, conversou com o Virgula sobre como está sendo voltar para os palcos.
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Após a passagem de som, Lucas Silveira (vocal), Gustavo “Vavo” Mantovani (guitarra) e Thiago Guerra (bateria) não escondem a animação para subir no palco oficialmente. Depois de optarem por não fazer lives durante o período de isolamento, e preferindo manter o contato com os fãs pela Twitch, o grupo ressalta o que mais sentiu falta dos shows durante esse período. “Eu tinha essa saudade de ir nas cidades, do rolê todo. Era uma coisa que a gente ficava cansado, mas esse rolê de ir de uma cidade para outra, comer por lá, tocar, ver os fãs”, conta Lucas Silveira. “E saudade de ficar cansado”, completa Guerra.
Com o disco “Vou Ter Que Me Virar” (2021) pronto logo após o período de finalização do seu antecessor, “Sua Alegria Foi Cancelada” (2019), o grupo conta que precisou segurar o álbum e esperar o momento certo para lançar. “A gente segurou o disco por dois anos. Nós fomos lapidando, mudando algumas coisas, mas o disco ficou guardado por dois anos. O Lulu achava que a gente não queria mais lançar música com ele, para você o nível do tanto que a gente teve que segurar. A gente não tava querendo soltar por soltar”, conta Guerra sobre a escolha do grupo em aguardar para o lançamento do disco que conta com a colaboração de Lulu Santos na faixa “Já Faz Tanto Tempo”, gravada em dezembro de 2019.
O show de estreia do álbum, e de retorno após o isolamento, foi no festival do Lollapalooza deste ano. Por conta das condições climáticas e a ameaça de raios, houve momentos de tensão em que a banda acreditou que o show seria cancelado, como aconteceu com o rapper Rashid e a banda Planta e Raiz. “Se não tivesse aquele show a história seria toda reescrita. Aquele show reescreveu a nossa história e meio que nos guiou para o caminho que a gente tá agora. A partir daquele show muita coisa aconteceu”, conta Vavo. “Foi muito foda! Aquela montanha inteira de gente cantando coisa nova, coisa velha. Quando começou deu um sentimento de alívio”, relembra Lucas.
Lotando duas datas da Audio Club, o grupo começou a apresentação com a faixa-título do álbum mais recente e logo em seguida com a faixa “FUDEU!!!”, em que projetava no palco a frase “Vamos votar direito porra” e “Enquanto você respirar eu vou te incomodar”, trecho da música. A apresentação ainda contou com faixas clássicas como “Natureza Caos”, “Quebre as Correntes”, “Eu Sei” e “Cada Poça dessa Rua Tem Um Pouco de Minhas Lágrimas”. O show incluiu um momento introspectivo em que o vocalista, Lucas Silveira, apresentou sozinho faixas acústicas. Na banda de apoio, o grupo contou com Lucs Romero no teclado e Michelle Abu na percussão.
Com letras que puxam a melancolia, a sede por mudança e a autodescoberta, o grupo tirou gritos, aplausos e pulos do público que interagiu desde os momentos mais intimistas até os solos de guitarra e as batidas intensas da bateria que movimentavam cabeças e corpos. Celebrando faixas antigas e apresentando as novidades para o público, a banda mostra que é possível se reinventar ao longo dos anos sem perder sua essência.
Com um grande movimento de retorno a estética emo e pop-punk no cenário musical, com artistas como Olivia Rodrigo, Avril Lavigne e Machine Gun Kelly, o grupo comenta que revivals são naturais e que a estética do início dos anos 2000 é tão propícia para isso quanto a estética dos anos 70 estava em alta na época da adolescência do grupo. Lucas ainda comenta que muitas vezes isso acontece em momentos de incerteza, que as pessoas precisam voltar para algo familiar, e a música é uma delas.
Quando questionados, eles revelavam quais são os artistas que trazem esse sentimento de conforto para cada um. “O Vavo é Laura Pausine”, conta Lucas. “Resposta correta. Não, e depois de estudar italiano, entender todas as letras e ver o documentário na Amazon Prime”, conta Vavo orgulhoso. “O Guerra é Bob Marley, chegou na casa dele é nem B-sides, é The best of”, revela o vocalista. “Agora eu fico ouvindo rádio, porque agora eu dirijo. Mas eu gosto de pagode e Bon Iver”, finaliza Silveira.
