Frank Aguiar


Créditos: divulgacao

Além de músico popular, Frank Aguiar revelou-se um político ambicioso. Elegeu-se deputado federal em 2006 pelo PTB e foi cotado para ser ministro da Cultura. Em entrevista ao Virgula Música, ele diz que a carreira política lhe causou prejuízo financeiro, mas não se arrepende. Conta também ter pedido ao então presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) para, na época em que foi cotado para o ministério, permanecer como deputado federal.

 
A influência de Lula o levou ao principal reduto do ex-presidente, São Bernardo, onde o músico concorreu às eleições e tornou-se vice do prefeito Luiz Marinho (PT) desde 2009. No ano passado, foram reeleitos. Mas nem só de política vive o piauiense, Frank diz que seu principal foco hoje é a música e acaba de lançar seu 24º álbum Safadin (Universal).

Conhecido por sucessos como Morango do Nordeste, Mulher Madura, Hino das Loiras, Prenda Minha, o cantor falou sobre o momento atual da música e sobre as parcerias com o hitmaker Renato Moreno, cujo maior sucesso até hoje é o forró Correndo Atrás de Mim, tema da novela global Avenida Brasil, gravada pelo grupo Aviões do Forró. Leia a seguir. 

De onde vem o Safadin? 

O cara me mandou está música há seis anos, eu estava noivo, para casar, eu disse, eu não vou mexer com isso agora, não, a confusão é grande. Passou o tempo, todo mundo falando que é o cara, que é safadinho, que não quer nada sério, que é o Don Juan, aí eu falei, pronto, não é mais eu sozinho, não. Eu sou o intérprete da música, está liberado. É muito gostosa essa música, muito boa.

É do Renato Moreno?

É. ele é a bola da vez, o cara que está fazendo sucesso, todo mundo pegando música dele. É um cara superbacana, bem jovem, com uma linguagem boa. Meu amigo. Fez essa música para mim e eu agradeço muito pela parceria com ele. São cinco músicas dele só neste disco. Por isso que vai ser um estouro.

Você já teve problemas por ser identificado com o que está cantando?

Eu era muito safadinho antes, muito danado, admito. Depois até você mudar esta imagem não é fácil. Aí vem uma música dessa com o tema desse, que pode dez gravar esta música, mas não vai se identificar.

Mas não é complicado, é bom. Quando a música se indentifica com um intérprete, ela tem muito mais probabilidade de estourar.

Quais são as tendências na música popular? Você gravou arrocha, romântica, forró…

Hoje o que o mercado, o que os autores estão fazendo? É escrevendo este estilo, o cara, inclusive o Rei (Roberto Carlos) aderiu a esta nova tendência. Da gente não fazer mais música sofrendo, com dor. A história agora é para cima, é alegre, eu estou a fim de zoar. Eu quero ficar, não tô a fim de coisa séria, se você não me quiser… É o cara se achando o cara, entendeu?

E tá dando certo. Tá todo mundo curtindo essa onda toda aí. Eles cantam, na verdade, de forma unisex, é para o homem, para mulher. Olha aí os sucessos que estão acontecendo. Se você observar é o Camaro Amarelo, o cara dizendo que antes queria e agora se ela quiser bem, se ela não quiser, tem quem quer.

Ou você vai trazendo também este toque de inovação e colocando na sua história ou então você fica fora de moda porque a música tem isso. Com a liberdade que a gente tem hoje das mídias sociais, que todo mundo tem hoje a oportunidade de se relevar. Qualquer frasezinha de efeito boa pode virar um sucesso, um estouro e tal. Isso não é ruim, isso é bom.

Alguns criticam, ah, mas isso é coisa descartável, que acontece assim. O descartável vai embora, mas a boa fica. Então, a gente tem a possibilidade boa com essas mídias saindo aí. E este disco é todo nesta linguagem. Eu acho muito difícil eu falar qual é a próxima música de trabalho.

O disco se você tocar na paredão, que é também outra tendência, os caras competindo qual carro tem o alto falante mais potente, essa coisa toda, é um disco de balada, de tocar na boate, no carro de som. Enfim, é o disco da minha carreira, estou muito feliz com a escolha deste repertório, que é claro eu não fiz sozinho.

Você acha que o momento musical tem a ver com a condição econômica, o aumento do poder de consumo, a dita emergência da classe C?

A música não tem época ruim, sempre existiu e vai existir através dos tempos, bons e ruins, economicamente falando. Agora por que este tema assim? Eu acho que tudo isso influencia. Hoje o cara que andava no fusca, que a mulher rejeitava, ele já pode ter um camaro amarelo com o negócio que ele montou, que é possível. Enfim, termina influenciando também pela boa situação que nós vivemos.

A experiência da política influencia a sua música?

O bom da política é que ela foi uma faculdade prática, me ensinou muita coisa. Mas o melhor foi o relacionamento humano que eu fiz, com os políticos, os prefeitos. As maiores festas deste país são as festas de aniversário de cidades, as padroeiras, as festas tradicionais. E qual é o prefeito que não tem o prazer de receber o Frank Aguiar na sua cidade? O cara também, como eu, é prefeito, é deputado, ele fala a nossa língua, compreende como deixar uma mensagem melhor.

Sem eu precisar fazer coisa errada porque é lícito, é legal, eu tô indo, tô pagando imposto, tô levando arte, cultura, autoestima para as pessoas. Então assim a política não me atrapalhou, muito pelo contrário, eu curti, eu gosto, não tenho decepções com política. E me considero uma pessoa do bem.

Se a gente ficar só criticando que a política só tem bandido, ladrão, qual será nossa pena? É ser administrado eternamente por estes homens que nós acreditamos serem ruins, corruptos. Então, os cidadãos de bem tem que ter representantes na arte, na comunicação, em todos os seguimentos. É um instrumento que dirige a vida dos brasileiros em todos os sentidos. Então para mim foi bom.

Mas você perdeu dinheiro?

Sim. Para mim foi dispendioso, não tenha dúvida, foi desprendimento. Talvez por isso eu tenha me saído tão bem porque eu não fui lá para me favorecer. Para mim foi despredimento de tempo, econômico. A mídia termina, pelo menos na época de campanha, restringindo as nossas participações, aparições, tudo isso me dá prejuízo, eu não tenho dúvida.

Mas do outro lado tem a escola de vida que tive, a dedicação. O quanto eu pude contribuir principalmente com a cultura brasileira. Não me arrependo, mas hoje se você me perguntar, o foco é minha carreira, eu não vou descuidar jamais de ser o artista, que Deus me deu esse dom de cantar.

A política tem tempo para acabar, o cargo da gente. Eu estou político, cantor eu serei sempre.

Como músico você acha que tem algo para trazer para a política?

Claro, já fiz isso, ainda quanto estive deputado. Você sabe que existe planejamento em todos os segmentos dos temas que a gente precisa. Tem plano nacional de saúde, plano nacional de segurança, educação. E não existia um plano nacional de cultura. Você sabe que fui eu que escrevi as diretrizes para os próximos dez anos da cultura brasileira?

Eu redigi andando em todos os estados brasileiros, ouvindo os produtores culturais, sociedade civil, empresariado, políticos e tudo mais e escrevi um livro com centenas de páginas dando todas as diretrizes da cultura, o que seria bom para a cultura brasileira nos próximos dez anos.

E este plano já está em evidência melhorando as condições dos artistas, o cinema, o teatro, a dança, tudo que se refere à cultura porque eu considero o nosso Brasil um dos países mais ricos culturalmente falando. Então como não deu a minha contribuição? Acho que foi muito válida a minha passagem. Se eu não fizer mais nada, eu já vou dormir muito tranquilo, que como artista eu pude contrubuir para o desenvolvimento do nosso país.

Porque cultura também é isso, é desenvolvimento, não é só questão de entretenimento. Cultura traz economia. Você sabe que a a cultura gera quase 7%, 8% do PIB (Produto Interno Bruto), a cultura brasileira traz isso? Então não se pode falar de cultura só como entretenimento, tem que pensar em economia também.

O que eu gero de renda, quantas pessoas eu emprego? E minha carreira, está bem? Será que ela tem as recíprocas verdadeiras, os incentivos que um artista precisa para se manter, para empregar. Enfim, eu aprendi e contribuí também.

Você foi cotado para ser ministro da cultura, guarda alguma mágoa por não ter sido?

Não, naquela época eu pedi ao presidente (Lula) que me deixasse cuidar do parlamento. Porque lá eu estava sentindo muito carente, poucos deputados na defesa da cultura. Eu achava que eu contribuía mais se eu ficasse no parlamento para cuidar do Ministério da Cultura.

E quando saiu a notícia de que eu poderia ser o próximo ministro da Cultura, o (Gilberto) Gil também desistiu de sair, disse que queria ficar. Aí quando ele foi sair eu já estava com outros planos, fui para São Bernardo, não foi desta vez.

O que um músico pode ensinar para o político?

O músico pode trazer para política uma forma diferente de cidadania, sem aquela tradicional política, sem aquele tradicional “ser político”, aqueles costumes que a gente não gosta. Porque o músico é mais sensível, ele tem uma linguagem diferenciada. Deu certo comigo, eu já estou no terceiro mandato muito bem sucedido.

Voltando à canção popular, o que uma boa canção popular deve ter?

Uma boa história para contar, uma boa melodia para se ouvir, um bom ritmo para se curtir. Porque a música envolve com toda esta mistura de mensagem, de melodia, de ritmo. A música une as pessoas, traz você de volta no tempo, marca época. A música boa vai de geração para geração e quanto mais velha ela fica como o vinho, ela marca a sua vida.

A música, inclusive, ajuda na saúde, isto é comprovado cientificamente. Até para as pessoas se recuperarem de doenças. Eu uma vez visitei uma senhora no hospital de Teresina, que ela estava há dezenas de dia em coma. E a família me pediu um apoio que antes que ela viajasse eu fosse lá, mesmo que fosse no inconsciente dela, mas que eu cantasse uma canção, que foi um pedido dela, que queria muito me conhecer, me ver.

E simplesmente eu cantei para ela uma canção no quarto de UTI e ela conseguiu abrir os olhos, lacrimejar, e se recuperou por uns dois três dias, depois ela partiu, mas eu acho que a música ajudou ela a ter essa reação. Eu não tenho nenhuma dúvida disso. Porque é comprovado, cientificamente, que a música tem esse poder também.

Veja Frank aguiar no clipe de Safadin

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Frank Aguiar, com Hugo & Tiago, cantando Prenda

 

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Frank Aguiar diz que perdeu dinheiro com política e pediu para não ser ministro