O escritor brasileiro Paulo Coelho é conhecido no mundo inteiro por seus livros, como Brida e O Alquimista. Mas pouca gente sabe do seu lado letrista, sua outra metade que, quando encontrou Raul Seixas, formou “uma das duplas mais importantes para a música brasileira”, como define a jornalista e escritora Hérica Marmo, autora do livro A canção do Mago – A trajetória musical de Paulo Coelho.

Nessa narrativa sobre a vida musical de Paulo Coelho, Hérica ainda fala dos amores e, principalmente, a parceria musical com Raul, que foi decisiva para a processo criativo desse escritor, tanto na composição de suas músicas quanto, mais tarde, para sua carreira literária.

Desse encontro, durante o período da Sociedade Alternativa, há trinta anos, surgiram grandes hits: Tente Outra Vez, Guita e Sociedade Alternativa. Sim, Paulo e Raul formavam a junção entre o sóbrio e o desbunde, numa época de proibições, como foi a ditadura militar brasileira.

Em entrevista ao Virgula Música, Hérica mostra também o lado de produção dessa obra e como foi “saboroso e doloroso” conseguir transformar tanta informação em história para os amantes e curiosos da música nacional. Confira a entrevista.

A idéia em escrever esse livro partiu de interesses pessoais como uma fã ou, percebendo o sucesso que Paulo Coelho faz, você pensou em escrever sobre algo que a maioria das pessoas não sabem?
O interesse é pela história, que é ótima. Não é de forma alguma um trabalho de fã e sim de jornalismo e pesquisa. Gosto muito de pesquisar sobre música e foi assim que me apaixonei pelo tema. Descobri que esse período da vida do Paulo Coelho foi muito rico e que valia a pena um trabalho aprofundado. Com direito a documentos históricos, as letras que ele compôs (que pela primeira vez foram reunidas) e, claro, muitas informações boas e inéditas.

Como você conheceu esse lado ‘não-literário’ de Paulo Coelho? E o contato com o escritor, de onde veio?
Eu conhecia a parceria do Paulo com o Raul, justamente por eles terem formados uma das duplas mais importantes da música brasileria. Eles compuseram músicas que fizeram sucesso há 30 anos, quando foram criadas, fazem sucesso agora e muito provavelmente farão sucesso daqui
a 30 anos. Também sabia que ele havia tido outros parceiros, como a Rita Lee. Mas eu só tive realmente a dimensão da carreira musical dele, pesquisando. E cada dado novo que eu descobria me ajudava a me
convencer de como era boa a idéia do livro. E melhorou ainda mais quando percebi o quanto este período foi importante para a formação do escritor Paulo Coelho e para o sucesso que ele obteve com a
literatura. Acabou ficando interessante para quem tem curiosidade sobre os bastidores da música brasileira, para os fãs do Paulo e para todos que gostam de uma boa história.

Como você conheceu esse lado ‘não-literário’ de Paulo Coelho? E o contato com o escritor, de onde veio?
O contato com ele surgiu já em função do livro. Nunca havia falado com o Paulo Coelho antes. Quando eu o procurei já foi para entrevistá-lo para o livro.

O processo de criação do livro, as entrevistas, as pessoas envolvidas com Paulo Coelho. Como foi colher todo esse material?
O processo foi ao mesmo tempo doloroso e saboroso. Enquanto as peças do quebra-cabeça estão soltas, é difícil saber por onde seguir. Mas depois que se encontra o fio da meada, fica mais fácil entender onde e com quem procurar tal informação. E com muito trabalho e dedicação é
possível montar o quebra-cabeça e contar a história da forma mais fiel. Além do próprio Paulo, entrevistei as pessoas que conviveram com ele na época. Amigos, inimigos, parceiros, ex-mulher, atual mulher,
ex-chefe, ex-colegas de trabalhos… E também pesquisei em reportagens publicadas no período, LPs lançados naqueles anos, cartas escritas por ele… Enfim, tudo o que pudesse ajudar a reconstruir essa trajetória.

Sobre a parceria com Raul, como foi para Paulo Coelho produzir músicas tão ‘pops’ sendo que ele defendia um lado tão alternativo da sociedade?
Gostar de fazer sucesso foi algo que Paulo Coelho aprendeu com a música. Ele e Raul conseguiam ser pop com músicas em idéias muito diferentes do que o que se ouvia e pensava naquele momento. O barato
da Sociedade Alternativa foi justamente o barulho que causou no mainstream. Então, era o máximo para ele defender o alternativo, o transgressor e o proibido, e ainda assim ser pop e bem-sucedido.

Em algum momento Paulo Coelho se sentiu incomodado para falar sobre assuntos que até hoje são polêmicos, como suas experiências com as drogas?
Não. O Paulo não evitou nenhuma pergunta ou tema. A disposição pra admitir momentos de fraqueza, aliás, só ajudou a construir um personagem mais rico e real. Com todas as angústias, defeitos e contradições que todas as pessoas guardam dentro de si.


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''Foi doloroso e saboroso'', Hérica Marmo fala sobre música e Paulo Coelho

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