SUB Festival traz grandes nomes da música eletrônica para SP
Créditos: Gabriel Quintão
Se alguém tinha dúvidas de que You’Re Dead, o novo disco de Steven Ellison, o Flying Lotus, teria um forte pulso hip hop, a apresentação do produtor americano em São Paulo, na quinta (2), mostrou que ele está pronto para colar em qualquer banca, ainda que seja para rimar. Como diz a letra dos Racionais MC’s, o “mundo é diferente da ponte pra cá”. FlyLo, no entanto, não tem medo de cruzar pontes, sejam eles dos gêneros musicais ou da eterna busca por um caminho novo.
Dono de um som inclassificável, o músico que completa 31 anos do dia 7, mesma data em que seu disco será lançado, foi a principal atração da edição de estreia do festival S.U.B. (Shut up It’s Bass), que rolou no Áudio. FlyLo trouxe pela primeira vez ao Brasil a apresentação Layer 3, um show audiovisual 3D realizado pelos artistas visuais Strangeloop e Timeboy.
Com o trabalho dos VJs, estava formado um enigma visual. Ele era uma trama de mandalas, estrelas, fumaças, pirâmides, padronagens cósmicas, caveiras, tramas geométricas abstratas e outras viagens.
FlyLo, um corisco no palco, que não para quieto, aproxima a eletrônica da tradição do jazz de vanguarda calcado na espiritualidade, inaugurada por John Coltrane (1926-1967) e da qual Alice Coltrane (1937-2007), tia-avó do produtor, foi dedicada apóstola.
Beats envenenados reverberaram na caixa craniana de cada um dos fãs da bass music, fazendo com que seus coraçõezinhos dessem mais pulos que um subwoofer.
A onda bateu forte. Primeiro, Jessy Lanza mostrou atitude de one-woman-show e representou o future r&B. Kelela, também dessa praia, foi outro bom nome da corrente, e deixou o palco Club abarrotado.
Kode9, com a missão impossível de tocar depois de FlyLo aplicou vários footworks, um subgênero primo do d’n’b, também conhecido por ser uma dança. No set, vários sons de Rashad, talento que morreu em abril deste ano era um dos expoentes da nova cena de Chicago.
Tropkillaz jogou para galera e agitou com a execução tecnicamente perfeita. A dupla, no entanto, se baseia no trap de uma forma um pouco caricata, especialmente as referências a armas e gangsterismo.
Soul One e CESRV, dois nomes da cena de bass music brasileira mais ligada ao hip hop abstrato, o que os aproxima de FlyLo, mostraram que é possível se impor com um som bem arquitetado, capaz de alimentar o cérebro e fazer dançar.
Quem sabe se no futuro não surgirá um Pixinguinha da eletrônica? Para isso, a música de FlyLo precisa atravessar a ponte mais e mais vezes.