Chegar ao sucesso no mundo da música por méritos próprios, sem a ajuda de padrinhos ou de concursos de televisão, é um desafio para qualquer um, ainda mais se a pessoa que sonha com isso é surda de nascença.

Este é o caso de Marko Vuoriheimo, conhecido como Signmark, um finlandês de 30 anos que, apesar de nunca ter ouvido uma só nota musical em toda a sua vida, um dia decidiu cantar rap em seu idioma materno, a língua dos sinais filandesa, tornando-se o primeiro rapper surdo da história.

“Um dia, na escola, estava vendo clipes na televisão. Meu professor me pediu que apagasse o quadro e me disse: ‘Marko, tudo bem você querer ser cantor, mas é melhor esquecer isso, já que você é surdo’. Com ódio, e não querendo me dar por vencido,
decidi que um dia eu também seria um artista”, disse Signmark à Agência Efe.

Durante anos, o rapper traduziu músicas de sucesso para a língua dos sinais, com o objetivo de “cantá-las” em festas e reuniões familiares, até que seus amigos o encorajaram a escrever suas próprias letras.

Em 2004, o finlandês criou um grupo de rap junto com dois amigos que com podem escutar: Kim e Heka, que compõem as músicas e cantam em finlandês enquanto Signmark “rapeia” com as mãos ao ritmo das vibrações sonoras.

A gravação do primeiro disco do grupo (“Signmark”) dois anos depois, deixou Vuoriheimo e vários amigos sem dinheiro, mas o investimento valeu a pena, já que, pouco depois, o trio começou a ser convidado para performances em países como França, Estados Unidos, Japão e Espanha.

“O show em Madri em 2007 foi incrível. O público tentava subir no palco para tirar fotos conosco. Queriam até nos tocar”, lembra o rapper surdo.

O sucesso inesperado encorajou Signmark a abandonar temporariamente seu trabalho como professor da língua dos sinais em uma universidade politécnica de Helsinque para se dedicar totalmente à música e realizar conferências sobre os direitos das pessoas surdas.

Atualmente, ele e seu grupo estão dando os últimos retoques nas canções de seu segundo disco, com o qual pretendem conquistar o mercado internacional e atingir todo tipo de público.

Para isso, compuseram todas as canções em inglês e na língua dos sinais americana, “a mais universal entre os surdos do mundo”, explica Signmark.

Além disso, se uniu ao grupo um quarto membro, Brandon, um rapper finlandês capaz de fazer rimas perfeitas em inglês e de cantar com sotaque do Brooklyn.

Como é comum no mundo do rap, as letras do agora quarteto estão cheias de crítica social. No caso específico do grupo, denunciam os preconceitos e a discriminação sofrida por aqueles que não podem ouvir.

“Com minha música, quero contar como é a vida dos surdos, nossa comunidade e nossa língua; explicar que não nos consideramos deficientes, mas parte de uma minoria lingüística. Isso sem esquecer o clima de festa”, diz com um sorriso.

Signmark defende que não é possível comparar os surdos com os cegos ou os paraplégicos, porque eles não formam uma comunidade, não têm uma língua e uma história comum.

“Por outro lado, os surdos formam a maior comunidade que existe, todos os surdos do mundo são membros de uma grande família”, afirma.

Segundo o rapper finlandês, a situação dos surdos melhorou nas últimas décadas, mas ainda há muito a ser feito, sobretudo na luta contra os preconceitos sociais.

O artista conta que seu irmão Sami, surdo de nascença como ele, teve sua admissão negada em uma escola de imagem e som quando foi à entrevista com um intérprete.

Esse baque não deixou Sami desanimado, que aprendeu a operar uma câmara digital sozinho e, anos mais tarde, recebeu um prêmio de melhor clipe por “Kahleet” (“Algemas”), uma das músicas do primeiro disco de Signmark.

“Essa escola perdeu a um grande aluno por culpa de seus preconceitos”, diz o rapper.

O exemplo de Signmark encorajou jovens surdos de outros países a formarem seus próprios grupos, sobretudo nos EUA, onde surgiram bandas como Helix Boyz e Beethoven’s Nightmare.


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Finlandês surdo fica famoso "cantando" rap na língua dos sinais

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