Arcade Fire em São Paulo
Sob a promessa de que caso o Brasil vença a Copa do Mundo, Win Butler voltará vestido inteiro com as cores do país para o próximo show na terrinha, o Arcade Fire encerrou a terceira edição do Lollapalooza de forma apoteótica, com um som grandioso.
A performance também teve direito a Régine Chassagne cantando O Morro Não Tem Vez, citações a Nine of Ten, do álbum Transa, de Caetano Veloso e Aquarela do Brasil, de Ary Barroso; Assim, o Arcade inverteu mais uma vez o pólo da influência entre centro e periferia.
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A maior banda do mundo – quem duvida?-, parafraseando o emblemático samba de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, mostrou que quando derem vez ao morro, todos os indies vão sambar.
Em Reflektor, quarto álbum de estúdio da banda canadense, lançado em outubro do ano passado, foi possível perceber a influência de James Murphy, dos saudosos LCD Soundsystem e Death From Above, um dos produtores do disco. Orfeu Negro, o filme de Marcel Camus, também surgiu como referência.
Com um espetáculo visual único, cheios dos paranauês de figurino e cenário, como as estruturas penduradas, o Arcade se aproxima do que faziam grupos como Talking Heads, Pink Floyd e hoje fazem os Flaming Lips. São elementos para uma viagem completa.
Já o som, viaja na pulsação de músicos que trabalham como um time, do baixo para a guitarra, do teclado para o violino. São 12 no palco e eles não estão para brincadeira.
As harmonias se cruzam, criando uma atmosfera sinfônica. Butler conta que todas as músicas são sobre saudade. Para os fãs, que os conhece desde os álbuns Funeral (2004), que depois os acompanharam por Neon Bible (2007) e The Suburbs (2010), dá orgulho ver o que eles se tornaram.
Se pelo menos desde os anos 60, com os Beatles, o pop deixou de ser uma distração para ser um comentário sobre a sociedade e, logo em seguida, se tornou ele próprio um definidor do que era aceitável e desejável.
Neste sentido, a melhor maneira de definir o atual estágio da humanidade, com suas fragildades e incertezas, é o Arcade Fire. Não apenas sua música, mas toda sua ideologia, sua estética. Junto, vem o samba, mesmo que seu lado mais idílico, para canadense ver.