¡Venga-Venga!

Guilherme Castoldi ¡Venga-Venga!

Viver um espaço que é nosso por direito. Essa é a proposta básica das festas que acontecem nas ruas, em ocupações e até em lugares abandonados que vêm sendo realizadas com cada vez mais frequência na cidade de São Paulo nos últimos dois anos. Mamba Negra, Capslock¡Venga-Venga!, Voodoohop e Dsviante são só alguns dos nomes dos diversos coletivos que vêm se empenhando em cima dessa proposta realizando festas em ruas do centro, viadutos, praças, túneis e trilhos de trem.

“As ruas de São Paulo muitas vezes contam histórias, mas as usamos apenas para passar rapidamente no frenesi do dia-a-dia”, diz Denny Azevedo, que junto a Ricardo Don idealizou em 2012 a ¡Venga-Venga!. Através dessa releitura sobre o que existe nos caminhos por que passamos, os espaços passam a ser vistos também como constantes potenciais para novas experiências.

Com apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, muitos desses coletivos vão se reunir para ocupar o centro da cidade neste sábado (5) no chamado SP na Rua. “Esse apoio é fundamental e mais do que necessário para validas as nossas ações e destacar a credibilidade que buscamos ter diante de milhares de pessoas, que ainda se pegam questionando sobre a sanidade de fazer uma festa pública”, afirma Denny.

Nos Trilhos, um dos espaços que eram abandonados e recebe hoje festas e eventos culturais

Reprodução/Facebook Nos Trilhos, um dos espaços que recebe festas e eventos culturais

Livres de modelos

Comandas, regras de comportamento, áreas VIP – as festas de rua são livres de conceitos como esses. “Essas festas põem as pessoas em contato com a realidade da cidade”, diz Claudia Pinheiro, produtora e promoter de festas como a Dsviante e a Rebolado. “E estamos falando de SP, uma cidade cada vez mais fechada em condomínios e carros, voltada para a cultura do individualismo do quem paga mais pode mais.”

Don reforça a luta realizada em busca da puralidade: “acreditamos que existe espaço e é necessário que hajam opções para todos os gostos e bolsos.” Apesar disso, as festas de rua não vieram para substituir os clubes fechados. “Os clubes desempenham um papel consolidado na cidade de São Paulo. São eles que trazem grandes nomes da música eletrônica, por exemplo. Acho importante as duas cenas saberem conviver”, diz Claudia.

Mamba Negra + Capslock no Anhangabaú, centro de São Paulo

Reprodução/Facebook Mamba Negra + Capslock no Anhangabaú, centro de São Paulo

Além de entreter, as festas nas ruas acabam fazendo com que as pessoas se sintam mais integradas à cidade de São Paulo. No entanto, para Claudia, essa não é a única motivação dos coletivos. “Eu percebo claramente que as festas realizadas hoje em SP por diversos núcleos não são mera diversão ou entretenimento. Elas são atos políticos, desde a sua concepção, passando pela produção até chegar no público”, conta ela.

Junto ao engajamento pela vivência dos espaços, as festas realizadas em ocupações direcionam doações e metade da renda da bilheteria para os movimentos de luta por moradia. “Não estamos fazendo caridade, acreditamos na luta desses movimentos sociais. Muitas das pessoas que vão às festas em ocupações ou nas ruas têm ali seu primeiro contato com a realidade dos sem-teto, dos mendigos. Dançamos todos na mesma pista”, explica Claudia. Esse contato mais próximo acaba tirando o medo e o preconceito que, em geral, o paulistano tem dessa parcela da população.

¡Venga-Venga!

Reprodução/Facebook ¡Venga-Venga!

Dificuldades

Apesar de não demandarem gastos como aluguel, por exemplo, essas festas precisam de toda uma estrutura para poderem virar realidade. “Quando falamos de festas em que a ideia é atuar em um espaço público, não pagamos aluguel, mas precisamos de inúmeras permissões e passamos por uma dose cavalar de burocracia”, afirma Denny. “Decoração, artistas e qualquer estrutura que temos é sempre um custo viabilizado com verbas de outras festas ou apoio de coletivos que incentivam a utilização dos espaços públicos”, complementa.

Claudia ressalta que existe um diálogo e uma colaboração intensa entre os coletivos e ainda afirma: “nenhum dos núcleos que conheço e participo, seja colaborando ou produzindo, ganha dinheiro com isso.” É tudo com a cara e a coragem – mas, acima de tudo, com a vontade de criar um movimento novo na cidade.

SERVIÇO

SP na Rua 2015

Sábado, 5 de setembro, às 22h
Entre as ruas Ruas São Bento, Álvares Penteado e XV de Novembro
Grátis
Saiba todas as atrações e coletivos confirmados neste link.


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Festas em ocupações, trilhos de trem e outras pirações na cidade buscam a vivência no espaço público