Virgula Música – O Hurtmold possui um som difícil de ser rotulado e vocês tocam com diversas bandas e diversos festivais com vários estilos, como é isso para o grupo?
Guilherme Granado – É bom. Nunca tentamos nos colocar em nenhum estilo pré-definido e escutamos e nos interessamos por todo tipo de música, então pra nós faz todo sentido.
VM – O Mestro foi bastante elogiado por diversos segmentos da mídia, vocês já encaram ele como referência para o próximo trabalho ou pensam em algo renovado?
GG – Todo trabalho é uma referência para nós. É uma linha evolutiva, e o Mestro, como todos os outros discos é parte do que fazemos hoje. É claro que a tendência é querer não se repetir, mas tudo que já fizemos vai estar presente de alguma maneira…
VM – Como é processo de composição? Ele mudou desde o começo do grupo?
GG – Não acho que tenha mudado muito. Ficamos mais exigentes talvez. Mas o processo em si é o mesmo. É completamente democrático. As idéias aparecem das mais diferentes formas e todo mundo dá palpite e participa até que se chegue em um resultado que agrade a todos da banda.
VM – São Paulo vive uma era de ‘cenas’, cena dos emos, dos indies, etc. Como vocês acham espaço para caber em vários segmentos?
GG – Nunca nos interessamos por segmento nenhum. Fazemos nosso trabalho independente de onde acham que deveríamos estar. Portanto essa coisa de “cenas” não existe pra gente, e não tem absolutamente nada a ver com a musica em si. Se você deixa a música falar por si só ela encontra o espaço dela, eu acredito.
VM – Recentemente a indústria musical se voltou para a cena independente, vocês acham que isso é um reconhecimento legítimo ou simplesmente interesse comercial em algo que está dando certo?
GG – Uma indústria é isso mesmo: uma indústria. O interesse deles é totalmente comercial. Até porque as bandas que fizeram essa ponte’ são bandas claramente mais acessíveis comercialmente. Digamos que é um interesse comercialmente legítimo . Não vejo nada de errado nisso, indústria serve pra isso mesmo. Ninguém faz uma barra de chocolate pensando em não vender. O lucro é importante.
VM – Como foi a experiência internacional do grupo? Foi boa a resposta do público internacional? Vocês têm mais planos para o exterior?
GG – Foi ótima, a resposta foi impressionantemente melhor do que esperávamos. Claro que queremos viajar mais, mas isso é complicado…
VM – Quais são as dificuldades que o Hurtmold enfrenta atualmente para se manter?
GG – As mesmas de sempre. As coisas melhoraram pra todo mundo, mas ainda é quase impossível viver de uma banda como a nossa aqui no Brasil. Todos temos outras atividades, uns envolvidos com musica outros não. Mas nunca esperávamos que seria diferente também.
VM – O grupo tem alguma influência internacional ou nacional em comum?
GG – Fugazi, John Coltrane, Chico Buarque, Lee Perry, Hermeto Pascoal, Black Sabbath, Cartola, Ratos de Porão, Racionais MCs, Led Zeppelin, Miles Davis. Esses são ALGUNS nomes que eu acredito que todos gostamos… Mas a lista é gigante…a nossa principal influência eu acho que é a nossa convivência entre si e com o resto do mundo. A vida em geral.
VM – Tem alguma banda que vocês viram em alguma turnê pelo país que chamou a sua atenção?
GG – Nossos amigos do Space Invaders são demais. Uma banda realmente cabulosa. Cidadão Instigado… Várias outras, mas essas duas sempre me impressionam.
VM – O experimentalismo ainda sofre muito preconceito como estilo musical?
GG – Não sei dizer o que é experimentalismo em si. Não acho que a gente se encaixe nisso. Fazemos musica que nos interessa e que de alguma maneira pareça relevante na nossa vida. Queremos que o maior número de pessoas ouça o que a gente faz. e não queremos soar “difícil” de propósito. A nossa idéia é se comunicar, achar uma conexão com nós mesmos e com as pessoas que estão ouvindo. Aliás, acho que o nosso som é bastante acessível…
VM – Deixem um recado para os internautas do Virgula.
GG – Obrigado. WE FUCKING LOVE YOU ALL.