Desafiado a fazer um filme sobre um mito, Ivan Vale Ferreira, diretor do documentário Sabotage: O Maestro Do Canão, optou por mostrar um lado nem tão difundido de Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage, quando se fala na vida do rapper além da música. “O Sabota era um cara muito alegre. Então pra mim não fazia muito sentido fazer um filme pra baixo. Fazer com que as pessoas ficassem com dó dele. A ideia era justamente o contrário, mostrar que mesmo com todas as dificuldades que ele passou na vida”, afirma.
Sabotage: O Maestro Do Canão
Créditos: Reprodução/Facebook/Sabotage: O Maestro do Canão
“É um filme leve, muita gente faz uma expectativa de querer saber da investigação da morte, descobrir o que foi que aconteceu. Por que mataram ele. Isso a gente não mostra. É um filme que fala da carreira dele, da vida pessoal, mas com uma leveza. Você vê que a galera dá muito mais risada do que chora, apesar de ser um filme que tem os seus momentos tensos e tristes”, completa.
Outro ponto que ele destaca do filme são as imagens e histórias inéditas. “Muita gente que conheceu o Sabota veio me falar: ‘Existia muita coisa ali que a gente nunca tinha vistou ou não sabia. É muito legal, o próprio filho do Sabotage, o Wanderson, conhecido como Sabotinha, ele falou que aprendeu muito com o filme sobre o pai. Isso é muito gratificante”, diz.
Sabotage exerce um magnetismo que intriga até mesmo seus maiores seus fãs. Ivan admitiu ter ficado surpreso com o fato de mais de 50 mil pessoas terem confirmaram presença no evento do Facebook para a estreia do filme no último fim se semana. “No domingo (24) completou 12 anos que ele morreu e é incrível ver isso. Você vê que muita gente que confirmou presença lá era uma galera mais nova. Molecada de 15 anos, 16 anos, que tinha 3, 4 anos quando ele morreu”, afirma.
Pelo menos 2 mil pessoas, segundo o diretor, ficaram pra fora. A noite teve tumulto, uma porta de vidro quebrou e algumas pessoas se feriram. Ivan, no entanto, minimiza o incidente. “Foi um lance isolado. Eram pra ser três sessões e no total foram seis. Tinha muita gente que tinha ficado de fora e o pessoal do Auditório do Ibirapuera teve o bom senso de dobrar o número de sessões para atender a demanda. Tudo fluiu de uma maneira harmoniosa”, diz.
“Foi um sucesso, mais de 4.500 pessoas assistiram ao filme no final de semana. Que cinema tem 800 lugares? A maioria tem 200, 300, a gente conseguiu passar o filme em um lugar superbacana”, argumenta.
Em relação ao messianismo despertado pela lenda do Canão, ele levanta algumas questões que alavancam o interresse pelo rapper tanto tempo. “Ele influenciou a geração mesmo, não só o meio musical. Ele ter morrido cedo também deu uma mitificada no nome dele. Ele era muito carismático. Não tinha essas limitações de ‘não vou fazer som pra branco, pra playboy, pras minas. Ele era muito aberto”, opina.
Comparado a Chico Science, Garrincha e até a Che Guevara, Sabotage teve uma carreira meteórica. “Quando eu comecei a fazer as entrevistas, todo mundo dizia que ele era um cara diferenciado, à frente do tempo, que tinha um apelo popular. Era um cara que se você for ver, ele é um cara que atrai muita gente, mesmo tendo um período de carreira breve. Ele teve aí, se não me engano, dois anos que ele apareceu e trabalhou. Mesmo com esse pouco tempo ele conseguiu fazer que muita gente o acompanhasse”, afirma o diretor.
O filme estreia em seis cidades brasileiras no começo de março: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Brasília, com sessões gratuitas diárias. Mas a periferia, claro, não deve ficar de fora.
“Futuramente, a gente quer fazer uma coisa itinerante, de levar isso pras favelas, pras quebradas. Conseguir fazer com que o filme seja exibido no Canão, no Capão, Heliópolis, Paraisópolis… Legal que o filme está passando no cinema, nos centros e em bairros, de certa forma, ‘nobres’. Mas a gente vai fazer com que o filme chegue na periferia, gratuitamente, fazer isso dar uma bombada”, planeja.
Afinal, como a gente sabe, rap é compromisso.