Em 2006, o U2 chegou em São Paulo para duas apresentações com a então gigantesca turnê Vertigo Tour, no estádio do Morumbi.

Os fãs da banda, preparados para a enorme procura por ingressos, se organizaram para acampar na frente das franquias do Pão de Açúcar, empresa responsável pela venda das entradas. Mas ninguém esperava pelo tumulto que tomou conta dos pontos de venda, com milhares de pessoas dormindo na fila e saindo de mãos vazias devido à falhas técnicas nos sistemas.

Quatro anos depois, o U2 retorna ao Brasil com três apresentações de sua atual turnê, a 360º Tour. E nem os fãs que enfrentaram os tumultos de 2006 acreditaram que tudo poderia acontecer novamente – ou de forma ainda pior.

Os ingressos para o primeiro show da banda em SP, que acontece no dia 9 de abril de 2011, esgotaram poucas horas depois do começo das vendas no site da Tickets for Fun. Logo em seguida, a produtora T4F anunciou uma segunda data, no dia 10. O que se seguiu foi um caos tanto no sistema online quanto nos pontos de venda credenciados.

“Cheguei por volta das 7h para comprar meu ingresso no Citibank Hall, sendo que a bilheteria abria apenas às 10h. A fila estava até tranquila, mas só começou a andar de fato a partir das 11h30. E do nada surgiu uma gigantesca fila “preferencial”, com idosos, gestantes, pessoas com andador, cegos… isso mesmo com um dos vendedores informando que não haveria fila preferencial”, afirmou a jornalista e produtora de moda Brisa Issa. 

“A justificativa foi que o sistema havia caído, e por isso a fila demorou muito para andar. Mas, uns 15 minutos depois, todos os ingressos já tinham sido vendidos, mesmo com uma fila quilométrica e gente que chegou a dormir lá com barracas para assegurar sua entrada. Saí de mãos vazias. Tentar comprar ingresso do U2 é mais ou menos como apostar na loteria: você ouve falar que alguém conseguiu, mas nunca conhece alguém que comprove”, completou ela.

Segundo a auxiliar administrativa Danielle Barbosa Marson, o problema de sistema e do número de entradas disponíveis não aconteceu apenas no Citibank Hall.

“Cheguei no Credicard Hall, o único que não cobra taxa de conveniência, por volta das 9h30, e a fila estava imensa. Mesmo que o horário divulgado para o início das vendas tenha sido às 10h, a fila só começou a andar 11h30 porque, teoricamente, o sistema tinha caído. Tinha uma distribuição de senhas no começo da fila, mas de que adiantou, considerando que os ingressos acabaram em 15 minutos? Fiquei sem”, contou ela, que desistiu de tentar entradas para o terceiro show da banda em SP.

FALTA DE ORGANIZAÇÃO

“O esquema de vendas conseguiu ser ainda pior do que o de 2006. Nem no show do Paul McCartney, que lotou o Morumbi nos dois dias, aconteceram tantos problemas. Se em 2006 foi um inferno com 75 mil pessoas no Morumbi, como eles dizem que agora vão caber 90 mil?”, reclamou Brisa Issa.

Além do número reduzido de ingressos, já que antes da venda para o público geral a produção disponibilizou pré-vendas para o fã-clube oficial do U2 e para clientes Citibank, o maior problema enfrentado pelos fãs foi o sistema integrado de compras. Em vez de disponibilizar uma cota para cada ponto de venda, a T4F abriu um sistema que atende a todos os locais de vendas simultaneamente.

“Ninguém da produção avisou as pessoas da fila se o sistema era ou não integrado, era impossível saber se existia uma cota fixa para cada ponto de venda ou se era tudo junto. Além disso, nenhum funcionário explicou como os ingressos acabaram tão rápido”, afirmou Danielle. “A frustração foi tanta que os funcionários tiveram que chamar a polícia para dispersar as pessoas que continuaram por lá”, completou.

E os tumultos não ocorreram apenas nos pontos de venda físicos. A analista de sistemas Juliana Palharin fez questão de registrar os problemas de organização que teve durante as tentativas de adquirir os ingressos pelo site da Tickets For Fun. Segundo ela, era impossível selecionar o evento desejado, em um bug que durou quase a madrugada toda. Veja abaixo o passo-a-passo da operação, registrada por Juliana:

Outro problema que ocorreu nos pontos de venda foi a respeito da disponibilidade dos setores: de acordo com as três fontes ouvidas pelo Virgula Música, os únicos ingressos disponíveis no Citibank Hall e no Credicard Hall eram pista normal e arquibancada amarela, sendo que esta última oferece apenas uma visão parcial do show. A Tickets For Fun afirmou, entretanto, que todos os setores estavam disponíveis.

CAMBISTAS

O Virgula Música apurou que logo após o fim das vendas para o show extra do U2, as ruas paralelas aos pontos de venda já estavam repletas de cambistas vendendo as entradas para a pista por até R$ 400 (o preço original é de R$ 180) e para outros setores por até R$ 800.

“Deu impressão de má-fé o esquema de vendas terminar 15 minutos depois da abertura oficial e nesse meio tempo tantos cambistas conseguirem diversos ingressos para vender por outros preços”, afirmou Danielle Marson. 

A T4F foi procurada pelo Virgula Música, mas disse que só responderia sobre o assunto por email. Até o fechamento da matéria, porém, não havia retornado o email com nossas perguntas (mandado 19 horas antes).

VIRAL

Os problemas nas vendas para o show renderam até um hit viral de uma fã revoltada por não ter conseguido comprar seu ingresso. A fã, Mariana Massafera, chegou até a desejar que Bono morra e que o avião da banda caia.

Assista:


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Fãs relatam caos em esquema de vendas para show do U2