Pablo Martins é hoje um dos músicos e produtores mais influentes da nova geração no Brasil. Criado na fonte do jazz e da bossa nova, o artista mostra maturidade e grande musicalidade no seu mais novo trabalho autoral: o projeto solo “Menino Damáfia”.
Pablo conversou com exclusividade com o Virgula sobre o novo projeto e também sobre as condições atuais da música devido ao afastamento social causado pela disseminação da pandemia do novo coronavírus.
Sobre o EP “Menino Damáfia”, produzido 100% por ele, Pablo deixa claro a importância da mistura de sons na obra e impõe cada vez mais o seu estilo sobre o que gosta e está disposto a fazer daqui para frente: se reinventar. “A música sempre se renova. Então sempre temos que aprender a nos renovar também”.
O Menino Damáfia: quem é?
Com uma voz bem tranquila pelo telefone, Pablo Martins conta que está em Florianópolis, chamando a capital catarinense de segunda casa. “Sempre que posso, eu corro para cá. É o meu segundo lar”, conta. O artista frisa bastante na conversa a importância de “cuidar do próximo” em momentos como estes, pelo qual o Brasil e o mundo passa com uma crise na área da saúde.
“Sempre fui uma pessoa à margem das questões políticas. Não tenho estudos e base detalhados suficientes para falar com propriedade sobre essas questões, mas quando olhamos para o lado e cuidamos de quem está perto, fazemos tudo melhor. O mundo fica um lugar melhor”, diz depois de uma breve risada.
Em certo momento, não sei se estou conversando com o Pablo Martins ou com o próprio Menino Damáfia, a caricatura do próprio artista criada para esboçar os seus mais reais sentimentos no novo trabalho.
E quando pergunto o que o Pablo tem do Menino Damáfia, a resposta é clara e objetiva: “Tem a alma de quem vive este momento. São mensagens mais intrapessoais do que eu vivi na vida e na música, passando pelo cotidiano dos relacionamentos”.
A produção caseira do sucesso
“A música sempre se renova”. Fico com esta frase de Pablo Martins me martelando a cabeça durante toda a entrevista. Dono de pensamentos extremamente positivos e de uma calma inenarrável, o músico continua falando sobre o trabalho, sem se esquecer da fonte onde bebeu a “receita do sucesso”.
“Desde pequeno eu tive muitas boas influências musicais, principalmente da MPB, do Jazz e da Bossa Nova. Isso tudo por conta da minha mãe”, Fátima Regina, mãe de Pablo Martins, também é cantora e responsável por transmitir ao filho parte do tamanho conhecimento musical de que ele dispõe hoje em dia.
Pablo conta que a produção de “Menino Damáfia” foi bastante “caseira”. “Produzir na minha casa é a minha escola. Fiz grande parte das coisas do novo trabalho na minha casa mesmo”, afirma o músico. Ele assina todas as sete faixas do EP, além da produção e direção artística do trabalho.
Mas, humildemente, nunca se esquece de quem batalhou junto e contribuiu muito para que a obra fosse realizada e terminada. Além da ajuda de colegas da 1Kilo, gravadora da qual é um dos fundadores, Pablo Martins contou também com a musicalidade de Danilo Andrade, da banda de Gilberto Gil, Dudu Oliveira, que toca com Zeca Pagodinho, além de inúmeros outros músicos e artistas.
A mistura dos sons e a busca pelo novo
“O conceito orgânico, misturado com o eletrônico, entende?”. Confesso que divaguei na explicação do artista sobre “Menino Damáfia”, mas após uma breve pausa nas palavras pelo telefone, ele entende e começa a expressar o que tem de mais genuíno em todo o seu novo trabalho e que pretende levar para a carreira.
“É meu trabalho em que tive a forma mais livre de poder me expressar até agora. Tem mais musicalidade, mais harmonia. Um conjunto de timbres e grooves voltados para o soul. Esse som da alma que quero transmitir”.
“O Menino Damáfia nada mais é do que uma representação minha na vida real, mas criado para ter grandes responsabilidades e deveres. O meu EP mostra o meu desejo de criar algo alternativo, mas ao mesmo tempo bem marcante”, explica.
Surge então um breve questionamento para Pablo quando ele começa a falar sobre as faixas presentes no novo trabalho. Eu quero saber qual é a música que mais toca o artista entre as sete presentes na obra. Pablo não hesita: “Tenho um carinho muito especial por ‘Cuidar de Mim’. Ali está muita coisa do que eu sou e quero para mim”, destaca.
Uma mensagem para a nova geração
Em meio à conversa sobre música, surge também, naturalmente, o papo sobre quem é o público de Pablo Martins, quem o artista espera atingir com o trabalho. Despreocupado em ser ouvido por muitos ou poucos, ele sabe que já deixou a sua mensagem para quem o ouviu. E que a mesma mensagem chegará para quem ainda vai ouvi-lo.
“A nossa geração [tomou ele a liberdade de trata-la como nossa, já que temos uma diferença de apenas cinco anos] mudou bastante. Está mais consciente musicalmente. Mas eu canto para todos, não rotulo nada. A música tem que ser encarada como um canal de ligação entre o artista e a pessoa que está escutando. Só quero que as pessoas façam o bem umas às outras. Isso é o mais importante”.
“A maior mensagem que posso deixar com ‘Menino Damáfia’ é a música! Tenho um trabalho pensado e feito com muito carinho e para abrir a cabeça para novas ideias, resgatando um pouco do jazz, misturado com o pop e o eletrônico, extraindo o máximo de musicalidade. Pensar diferente é sempre pensar no novo, sem se esquecer do que já deu certo”, finaliza ele, agradecendo pela conversa.
Por fim, é este jornalista que deixa o agradecimento. Obrigado, Pablo Martins.