O espaço na grande mídia foi expandido ou são as bandas do circuito independente que se adaptaram para serem ouvidas? Em alguns casos, o sucesso da banda vem como conseqüência da consolidação da carreira, adquirida pelo acúmulo de anos na estrada. Em outros vem com a rendição aos moldes vigentes no mainstream, conseguindo, assim, atingir a massa regida pelos grandes veículos de comunicação.
No meio da transição, é inevitável ouvir de antigos fãs que tal banda se vendeu para a mídia e esse papo todo. Eis que surgem as seguintes dúvidas: Quando a banda deixa de ser independente, deixa também de ser alternativa? Deixar de ser alternativa é necessariamente ruim? Mas afinal o que é ser alternativo?
Com tantos dilemas, o Virgula-Música foi atrás do produtor Carlos Eduardo Miranda e do guitarrista do NX Zero, Gee, para opinarem sobre esses assuntos.
Conversamos primeiro com Miranda, que elucidou alguns pontos dessa transição underground-mídia, do que é ser alternativo e do perfil das pessoas que ouvem música. Confira!
Qual o perfil de bandas de rock da cena underground que têm chance de “estourar” na grande mídia, a exemplo do NX Zero?
O que observo é a existência de dois tipos de bandas: as que vêm em formato “gravadora”, formadas por integrantes que fazem um som com o intuito de se lançarem na grande mídia; e as bandas que fazem seu som e vêm há um tempo, construindo a carreira da maneira que lhes agrada, e possuem um trabalho que se consolida com o passar do tempo. O artista que estoura, geralmente é o artista reality show, aquele que surge do nada.
Em casos como o do Fresno, que vem trabalhando seus discos independentes, foram ganhando público na internet, o que existe não é exatamente um estouro, mas uma quebra com essa barreira do undeground para o mainstream.
Em que patamar você acha que estão bandas como Bonde do Role e Cansei de Ser Sexy? Elas são bem conhecidas lá fora, mas relativamente desconhecidas por aqui [no Brasil].
Têm algumas bandas que acredito que vão ecoar lá fora, como Turbo Trio, com o Basa, B Negão e Tejo, Hurtmold, um dos maiores grupos da atualidade por aqui, já estão em seu 5º ou 6º disco; Macaco Bong, quarteto de rock instrumental de Cuiabá; Vanguart, que toca um folk com letras em português, espanhol e inglês. Além dessas, também aposto na competência das bandas alternativas: Zefirina Bomba, de João Pessoa; Superguides, de Porto Alegre; e Pública, também do sul. Esses grupos promissores conseguem espaço na mídia selecionada, mas na grande mídia é mais difícil.
Qual o atual panorama dos receptores de música no Brasil?
Existe um abismo entre as pessoas que curtem música, que levam a sério, e as pessoas que só ouvem o que tocam no rádio, na TV, para se distrair, por curtição. A grande mídia, normalmente, trabalha com coisas descartáveis, fáceis de serem assimiladas justamente por existirem essas pessoas, que gostam das coisas mastigadas.
A grande mídia, geralmente, toca axé, pagode, sertanejo ou algum gênero de pop rock mais tranqueira. Normalmente para aparecer nesse meio, tem que se enquadrar em algum desses estilos.
Quando uma banda deixa ser independente? É uma questão de assinar com uma grande gravadora ou tem mais a ver com a postura assumida pela banda?
Ser Independente tem a ver com se lançar a partir de seus próprios recursos. A cisão é quando a banda deixa de ser alternativa para se tornar oficial. No momento em que a banda começa a aparecer em programas como Domingão do Faustão, Criança Esperança, Viva a noite e Hebe ela deixa de ser alternativa. É o caso de NX Zero e CPM22, que se tornaram oficiais. As bandas alternativas de hoje são as que não se parecem com o que é oficial.
O Gee, guitarrista do NX Zero, banda que já transpassou esse limiar do underground e conseguiram se lançar na grande mídia, assinaram com a gravadora Arsenal Music e atingiram a marca de 50 mil cópias vendidas, também conversou conosco. Confira aqui a entrevista com Gee, do NX Zero!