David Bowie já disse que nunca se sentiu tão livre quanto na época em que morou em Berlim. O saldo deste período é uma trilogia formada pelos álbuns Low (1977), Heroes (1977), Lodger (1979).
Lógico que a capital alemã mudou, mas basta um passeio por Schöneberg para entender por que a cidade segue sendo um imã para artistas de todo o mundo. Em 2014, o Virgula esteve em Kleistpark atrás do mítico endereço Hauptstraße 155, onde Bowie e Iggy Pop moraram em Berlim.
Ainda trata-se de um bairro de classe média bem residencial, onde poucos turistas vão e os preços são mais baixos. Mercearias, brechós, lojinhas e cantinas italianas compõem a paisagem.
Logo ao lado da entrada do prédio está o Seventies, pub de uma porta que costumava receber os vizinhos ilustres. Cansado de ver os fãs levarem fotos de Bowie que ficavam penduradas na parede, o dono do bar deixou como únicas lembranças do astro uma pintura na parede do Thin White Duke, um dos muitos alteregos do inglês.
Fora isso, é um bar típico alemão, em que é permitido fumar, frequentado por turcos que passam o tempo em máquinas de caça-níqueis. Com sorte, você encontra alguém que frequentou o bar na mesma época que Bowie e Iggy. “Quase todos os dias um ônibus passa aí na frente, as pessoas tiram foto e vão embora”, conta o atendente do bar, Ralf, tão simpático que não fez nenhuma menção ao 7 a 1 quando descobriu que éramos brasileiros.
Ele diz que a cômoda que está no fundo do bar pertenceu a Bowie, assim como o par de meias dentro dela. O barman diz também que o culto ao camaleão vem em ondas, a mais recente provocada pelo lançamento do álbum The Next Day (2013), em que o ídolo faz citações explícitas a Berlim.
“O interesse por David Bowie vai e volta de tempos em tempos”, atesta o barman. Quando nós perguntamos para um cara com um instrumento nas costas onde Bowie morava, há poucos metros dali, ele não foi nem um pouco legal. Pelo contrário, começou um papo nazista nada a ver e nós tivemos que fugir dele. Alguns fantasmas continuam por aí.
Por que Bowie mudou para Berlim? Ele estava pirando na República de Weimar (1919 a 1933), período de ouro da cultura alemã, estava também interessado no krautrock de bandas como Tangerine Dream, Kraftwerk e Can, queria dar um tempo com as drogas e ser anônimo. Os três discos em parceria com o produtor Brian Eno foram uma grande guinada para a carreira de Bowie e para toda a música pop.
Se Berlim foi capaz de fazer isso com Bowie, ela também deve guardar algo para você. Mesmo que sejam apenas sons, imagens e uma sensação profunda de liberdade.