Marcel Nascimento/Divulgação Céu

Para saber mais sobre Céu, não vá ao seu bairro, não pergunte para os amigos dela, não vá até à padaria que ela frequenta, nem à escola da filha. Ouça suas músicas, vá aos shows. “Eu sempre tive um compromisso muito forte com a minha essência. Acho que essa é minha marca”, afirma ela ao Virgula. “Sou muito transparente no palco, sempre tentei atrelar a minha arte à minha naturalidade”, argumenta.

Sobre a expectativa que nutre a respeitos dos seus ouvintes, ela chega a pedir para ser esquecida. “Espero que elas levem minha música para a experiência pessoal delas. Espero que a minha música entre na vida delas. E que elas me esqueçam, um pouco. O que eu acho mais interessante pra música é o poder que ela tem de se infiltrar na vida das pessoas, na história pessoal”, comenta.

Nós conversamos com cantora e compositora que, para muitos (me inclua nessa), é o maior nome da nova música brasileira, logo após sua apresentação no Vento Festival, no sábado (18), em Ilhabela, do qual foi maior estrela, ao lado de Tulipa Ruiz, que se apresentou na quinta.

Céu elogiou as compositoras que trazem “o Brasil de maneira global”, citando Tulipa Karina Buhr, mas negou ser feminista, disse que soube que seguiria a profissão aos 14 anos e contou como é um dia normal na sua vida. Leia nossa conversa com a rainha da MPB indie.  

Você se sente parte de uma cena? O que você acha que está acontecendo de mais novo hoje na música brasileira?
Céu – Eu acho que tem muita coisa acontecendo. Não sei exatamente se é uma cena, acho que é uma movimentação. Tem coisas muitos interessantes, muitas compositoras escrevendo e o Brasil se colocando cada vez mais no mundo musicalmente. Tulipa, Karina Buhr, muitas artistas trazendo o Brasil na sua música, mas de uma maneira global. Isso que eu acho mais interessante.

Sente que o feminismo influencia sua música de alguma maneira?
Céu – Eu não me considero feminista, de maneira nenhuma. Me considero uma mulher livre, mas não me considero feminista. Eu não levanto bandeira de feminista, acho que foi um movimento importante para estarmos onde estamos hoje. Mas eu sou feliz com meu papel, acho importante pontuar coisas que ainda não estão do jeito que eu gostaria que estivessem. Eu acho que panfleto, movimento, é muito. Eu diria que direitos iguais, isso sim, com certeza. Mas não sei se exatamente o feminismo. Eu fico a fim de lutar por coisas que são legítimas pra mim.

Você acha importante a mulher falar por ela mesma…
Céu – Com certeza, sempre.

Que momento da sua vida você soube que seria cantora?
Céu- Cedo, muito cedo. Com 14 anos. Foi até meio no susto, eu não esperava. Eu tentei fugir um pouco da música. Mas a música me mordeu.

O que te motiva a fazer uma música?
Céu – Não sei, não tenho a menor ideia. Essa pergunta pra mim é muito abstrata.

De que maneira você espera que as pessoas saiam do seu show ou que elas se sintam após ouvir seu disco, suas músicas?
Céu – Eu espero que elas levem minha música para a experiência pessoal delas. Espero que a minha música entre na vida delas. E que elas me esqueçam, um pouco. O que eu acho mais interessante pra música é o poder que ela tem de se infiltrar na vida das pessoas, na história pessoal.

Que traço da sua personalidade você considera mais marcante e que as pessoas que se te conhecem como artista não sabem?
Céu – Ai, não sei, acho que você teria que perguntar para um amigo meu. Não sei. Eu acho que eu sou muito transparente no palco, eu sempre tentei atrelar a minha arte à minha naturalidade, apesar de ser palco e ter um circo todo envolvido. Eu tento trazer uma naturalidade, imprimir o que eu sou, de maneira transparente. Eu acho que eu sou apaixonada por música, eu sou disciplinada, apesar de viver caoticamente, a música é abstrata e é uma profissão louca, eu tenho uma disciplina. Não sei qual é o traço, pra mim acho que é realmente muito difícil dizer (ri).

Como é um dia seu normal quando não está em turnê?
Céu – Eu tenho um dia bem normal, como qualquer pessoa, qualquer mulher. Eu tenho uma filha, então tenho a função materna do dia a dia, escola, contas a pagar. Enfim, eu tenho uma vida bem comum. Aí dentro dessa vida eu tento achar umas pinceladas de arte. Na verdade a vida comum, o dia a dia é bem importante. Eu vou no supermercado, eu pago minhas contas, fico com minha filha. Eu sou bem normal.

Se você precisasse definir sua missão musical o que você diria?
Céu – Eu acho que meu ponto forte é minha honestidade. Eu nunca planejei nada pra ser alguma coisa. Eu tinha muitas possibilidades, eu poderia ter lançado um disco inteiro em inglês, ter ganho mais reconhecimento fora. Enfim, não que eu condene isso, eu acho maravilhoso, mas eu sempre tive um compromisso muito forte com a minha essência. Acho que essa é minha marca. Eu lancei as minhas coisas da maneira que eu quis, tateando assim e sendo a mais honesta possível com a pessoa que vai me escutar, pra ela mesma tirar as conclusões sobre a arte que eu faço. Eu acho que é meio isso, sem planejamento, sem dinheiro, sem comércio, sem glamour da música, sem fama, sempre foi uma coisa com muito respeito pela música. E pela essência das coisas, a real.


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"Espero que minha música entre na vida das pessoas", diz Céu, estrela do Vento Festival

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