Dois lados, uma geração. Em um extremo, na América do Norte, Bob Dylan expressa em suas músicas o alterego de uma pessoa humanamente política. Na outra ponta, o senador latino Eduardo Matarazzo Suplicy tenta exteriorizar seu lado artístico, interpretando a maior canção de protesto de Dylan, Blowin`The Wind, em seus passos de político.

O que eles têm em comum? Além de terem a mesma idade – “O Bob Dylan tem a mesma idade que eu, tem 66 anos, tem 24 dias de diferença. Ele nasceu 24 de maio e eu nasci em 21 de junho de 41”, explica o senador – são egressos da mesma realidade social de luta contra as guerras, e da mesma época, quando sair às ruas e pedir pela paz, entoando as canções contra a Guerra do Vietnã era normal e fazia parte das “aspirações humanas por justiça social”.

O político e o cantor fazem parte de nações diferentes, mas nunca estiveram distantes em suas motivações. Quando o maior símbolo da folk-music compôs um de seus maiores hits, Blowin` The Wind, ele queria dizer que as respostas estão soltas ao vento, bastava a sociedade querer enxergar.

“Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?
(…)
Sim e quantas mortes custará até que ele saiba
Que gente demais já morreu?
A resposta meu amigo está soprando no vento
A resposta está soprando no vento”

Esse trecho da canção explica o anseio de Dylan para fazer, com sua arte, a humanidade perceber que a guerra não era necessária. No mesmo sentido, quando o compositor escrevia essas letras, Suplicy também estava em busca do entendimento de tanta desigualdade social. Nessa época, ele passava pelos EUA, fazia seu doutorado em Economia e já começara a defender a tese da Renda Básica, que mais tarde viraria livro com nome inspirado na canção de Dylan: Renda Básica de Cidadania: A Resposta Dada Pelo Vento.

Quatro décadas se passaram desde os anos 60. Dylan se mantém ainda como ‘o cara’, com mais de 45 discos lançados, sem falar em sua consagração como um dos maiores escritores contemporâneos. “O Bob Dylan é um dos maiores poetas contemporâneos (…) ele tem um talento excepcional e ele é um dos maiores poetas da língua inglesa e universal sem dúvida”, elogia Suplicy.

O senador também tem muita história para contar. Seja no senado, na FGV (Fundação Getúlio Vargas, aonde é professor da faculdade de economia) ou em suas palestras. Desde a juventude defende a mesma causa, uma sociedade mais justa e igual para todos.

E nesses trilhos, talvez Dylan nem imagina que um homem tão parecido com ele o admira em proporções como essa fazendo da maior canção de seu ídolo, um hino descritivo para a maior tese de sua vida. “Eu gosto da música porque eu acho tão bonito e isso faz as pessoas compreenderam muito bem o ponto de vista que eu quero colocar e ademais eu relacionei esta canção com a tese que muito defendo de Renda Básica e Cidadania, dei o nome a um de meus livros, o que significa que se trata de uma solução de bom senso”, comenta o fã.

E mesmo em seu anonimato como fã, Suplicy conta com orgulho suas experiências de ter visto ao vivo seu maior ídolo e ainda ressalta a vivacidade da carreira construída por Dylan através das gerações. “Eu assisti um show do Bob Dylan lá num parque em Londres, em 2004. Estavam os avós, os pais e os jovens, todos gostando muito. Uma música que sempre vai ser bonita e apreciada pelas gerações”.

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Espelhos - Dylan e Suplicy

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