Conheça as novas divas do pop mundial
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É um clichê muito comum da crítica musical afirmar que o cenário atual carece de grandes artistas, de musas inspiradoras e personalidades verdadeiramente instigantes. Justiça seja feita, é realmente difícil acompanhar uma cena musical que se move a margem dos acordes da indústria fonográfica e que é cada vez mais fragmentada, diversa e repleta de novos nomes.
Em um ambiente tão rico – mas, ao mesmo tempo, tão confuso – é difícil antecipar quando um talento vai entrar em combustão e se transformar em uma personalidade digna de nota. E é também complicado reconhecer se essa explosão será duradoura ou apenas uma beleza fugaz.
Na música pop, este movimento é ainda mais complicado. Longe dos holofotes do mundo alternativo, das revistas especializadas e de um público que obsessivamente procura por atrações obscuras, as candidatas a divas do mundo pop precisam batalhar pela hegemonia em uma indústria musical predatória, conquistar um número incrível de fãs dentro de uma cena que muda sem parar e, claro, criar um repertório musical que se destaque em meio a pseudo sonoridades derivadas do electro, montes de auto-tune e refrões farofa sobre curtir a vida adoidado.
Enquanto algumas ex-divas do mundo pop enfrentam sua derrocada, como a antes poderosa Christina Aguilera, outras são recebidas de braços abertos pela indústria do pop, conseguindo até mesmo a façanha de atrair a atenção do público alternativo. Neste cenário competitivo, leva o prêmio quem souber lidar melhor com questões de imagem, polêmicas, relação entre carreira e vida pessoal e, mais importante do que tudo: como transformar a própria vida em uma obra de arte em constante movimento.
Lady Gaga soube personificar tão bem essas novas exigências das divas pop atuais que catapultou para o sucesso e hoje desfruta do fascínio de estar no topo das paradas, se apresentar em festivais respeitados como Glastonbury e Lollapalooza e transformar seus refrões grudentos em hinos da cultura pop – e seja você do metal, do hip-hop, do rock ou do indie, pode confessar: já está na ponta da língua os acordes de hits como Bad Romance e Poker Face.
Em outro extremo da dominação do pop está a atual “rainha” dos refrões melosos – Katy Perry, que assim como Lady Gaga soube influenciar o mundo das paradas musicais com seu palavreado sexual vai-que-não-vai (a cantora pode falar de sexo sem parar, mas seu Teenage Dream se concentra mais em sonhar com um relacionamento ideal do que tentar algo mais complexo e, portanto, real), sua imagem e seu senso impecável de marketing.
Longe da sonoridade farofa de Lady Gaga e Katy Perry, mas dentro do mesmo sistema e da mesma cena está uma das poucas divas despedaçadas do mundo pop: Amy Winehouse, que conseguiu reunir melodias absurdamente assobiáveis com lindo acordes e letras atormentadas. Sua vida é um espelho de sua obra intensa, auto-destruidora e na beira do abismo: uma das poucas divas do mundo pop que abraça a complexidade da vida sem medo e, mesmo que caia no caricato, aposta na intensidade de quem sabe que, no fim, só sobra a música.
Para ser uma diva, é preciso algo a mais: além de ser uma cantora acima da média, você precisa personificar um ideal, seja ele qual for. Diversas cantoras atuais já abraçaram imagens específicas, indo além do mundano e entrando para a esfera do inalcançável. É assim que Marina Diamandis, por exemplo, foi de cantora de boa voz e boas composições para seu codinome Marina and The Diamonds, um mulherão que transforma o que teoricamente seria a futilidade inerente do pop em algo mais brincalhão, repleto de referências e pulsando de intensidade.
Quem aposta em uma atmosfera parecida é a inglesa Florence Welch, que também assina sob um codenome, Florence & The Machine. A cantora é um dos principais expoentes dessa mudança dos vocais, principalmente femininos, na nova cena pop – o importante é fazer malabarismos, explorando ao máximo a técnica para mostrar o virtuosismo de cada cantora. Sim, é uma briga de egos para ver quem grita mais alto, mas mesmo que Florence Welch caia nesta armadilha de potencializar seu vocal de uma forma exagerada – e quase a la American Idol -, a cantora mostra uma busca pela intensidade que caracteriza toda diva do pop.
A cantora Adele, que lançou em 2009 seu debut álbum, o elogiadíssimo 19, também tem como carro-chefe a atmosfera da intensidade e da emoção, tanto nos vocais como em suas composições. Ela conseguiu a façanha de, ao mesmo tempo em que conquistava a crítica especializada e ganhava respeito na cena pop mundial, dominar as paradas do Reino Unido e ter seus dois hits, Chasing Pavements e Hometown Glory, tocados em cada canto de esquina. Mas a cantora personifica bem os perigos da indústria pop: após um álbum elogiadíssimo, Adele… sumiu. Há dois anos nada de novo da cantora chega ao público. E agora?
No topo das paradas, outras divas dominam o mundo do pop: Rihanna, que deu a volta por cima após o escândalo com Chris Brown e conseguiu emplacar uma parceria extremamente bem sucedida com o rapper Eminen, Taylor Swift, a queridinha dos adolescentes que faz um country pop palatável e com ares de inocência perdida, a farofeira Ke$ha e seus hits sobre homens cretinos e baladas intermináveis turbinados pelo efeito do auto-tune, e Little Boots e Elly Jackson (do duo La Roux), que trazem a linguagem da música eletrônica para o pop farofa.
Dentro desse amar e odiar, dessas divas fulgurantes, despedaçadas, fugazes e que podem ou não estar aqui amanhã, é difícil fazer apostar de permanência ou tentar compreender com exatidão a trajetória de artistas tão diferentes em uma indústria mutante. Mas uma coisa é certa: a música pop atual, ao contrário de todos os clichês e previsões pessimistas, está mais diversa do que nunca. Mesmo que tudo seja passageiro ou ilusório, é uma ilusão na qual vale a pena acreditar.