Foi numa tarde chuvosa em Bremen, norte da Alemanha, que Andy Cairns, vocalista e guitarrista do Therapy? recebeu o Virgula para um bate-papo. A banda irlandesa (que conta com o baixista Michael McKeegan e o baterista Neil Cooper no time) se apresentaria naquela noite na cidade para promover o seu mais recente álbum, o elogiado Disquiet, lançado em 2015.
Para quem não se lembra (ou não sabe), o trio teve um auge relâmpago de popularidade na década de noventa com o disco Troublegum, de 1994. O hit Nowhere bombava nas rádios rocks do Brasil, e eles até chegaram a tocar por aqui na segunda edição do festival Monsters of Rock, no mesmo dia em que Ozzy Osbourne, Alice Cooper e Faith No More. Mas foi a única vez. Depois disso, a banda nunca mais conseguiu repetir o sucesso e precisou reduzir as expectativas, mas não a qualidade. Fortes, insistentes e com criatividade mil, eles não pararam nunca e continuam firme na batalha. Sobrevivendo com inteligência no underground.
Andy, que acaba de completar 50 anos, profissionalmente leva a vida como a de um músico jovem; fazendo show dia sim, dia não, sem parar, seja em festivais de médio/grande porte na Europa, ou em pequenos ‘inferninhos’ para poucas centenas de pessoas. Ele tem plena consciência de que a banda não possui a mesma fama de antes, mas nem por isso se abate e ainda agradece por estar fazendo música e conseguindo sobreviver disso. Na nossa conversa, ele também falou sobre Infernal Love, aquele disco de 1995 que, de tão obscuro e introspectivo, os fãs acabavam ouvindo nos fones de ouvido às 5h da manhã quando não estavam se sentindo bem, segundo palavras do próprio vocalista. Já sobre o Brasil, a saudade e a vontade em voltar é grande. Ele não perde a esperança de poder pisar mais vezes em nossas terras e até gravou um vídeo especial aos fãs brasileiros, que pode ser visto ao final da matéria.
Se é verdade que a década de noventa está voltando a ser moda, quem sabe o Therapy? não seja ouvido por mais gente novamente. Eles merecem, e batalham pra isso. Saiba mais:
Virgula: Therapy? está com mais de 25 anos de estrada. Você já realizou tudo o que queria com a banda?
Andy Cairns: Bem, quando começamos a banda em dezembro de 1989, nunca esperamos chegar onde estamos. Passamos por muitas gravadoras, visitamos vários países ao redor do mundo e tivemos algumas fases de sucesso, e outras nem tanto. O que pretendemos é continuar tocando porque amamos muito tudo isso. Se continuarmos fazendo isto, estará tudo bem pra nós.
Vocês estiveram no Brasil em 1995, tocando no Festival Monsters of Rock. O que você se lembra?
Oh, uma das minhas melhores lembranças desses 25 anos de banda foi um dia de folga que tivemos em São Paulo, e também quando fomos ao Rio de Janeiro passear de helicóptero para ver a cidade de cima. Já estivemos várias vezes na América do Norte, na Austrália, e nunca tinha visto pessoas jovens gritando como na América do Sul. O público dos shows foram incríveis. Algumas pessoas nem sabiam de onde vínhamos, mas nos passavam uma energia fantástica. Infelizmente foi tudo muito rápido, uma viagem de 5 dias e 3 shows na América do Sul. Gostaria de voltar um dia e fazer mais shows.
Como você define o novo álbum, Disquiet?
Neste álbum nós procuramos voltar no tempo e escrever da mesma forma como fazíamos nos discos clássicos do Therapy?, com riffs e melodias do Troublegum e High Anxiety, e a atmosfera de Babyteeth, Suicide Pact, You First e Crokeed Timber. Tentamos fazer um mix de todos eles. Acho que funcionou.
Por que vocês nunca mais fizeram um outro álbum como Infernal Love, que tem um clima dark, melancólico e mais pop?
A razão é porque quando fizemos Infernal Love estávamos em uma outra época, em uma situação psicológica e física totalmente diferente da que estamos hoje. Foi um dos piores anos da minha vida. Eu era outra pessoa; bebia muito, usava muitas drogas pesadas e também tínhamos outros membros na banda. Eu gosto muito das músicas e da gravação do álbum, mas acredito que cada trabalho do Therapy? represente a fase em que estamos no momento. Para o início de 2016 vamos fazer algumas apresentações na Inglaterra tocando o disco na íntegra, para comemorar o aniversários de 20 anos dele, e vou precisar relembrar algumas músicas. Será uma ótima forma de reviver esse trabalho, mas apenas no palco.
Você sente que Infernal Love foi um divisor de águas para o Therapy? Porque, antes dele, com o Troublegum vocês estavam no auge do sucesso, conquistando o mundo, e depois disso alguma coisa aconteceu pois vocês perderam a popularidade. Alguns fãs entenderam o trabalho, mas a maioria não.
Quando lançamos Troublegum as majors foram atrás da gente, e conseguimos tudo o que queríamos naquele momento com o disco. Éramos realmente grandes. Para o álbum seguinte, os fãs esperavam uma continuação do Troublegum, com canções rápidas e fortes como Screamager, Knives e Nowhere, mas estávamos diferente, ouvindo bandas dos anos oitenta, como The Cult, que tem melodias e climas atmosféricos. Não queríamos fazer um Troublegum parte dois. Queríamos provar para nós mesmos que conseguiríamos fazer um álbum diferente, que agradasse os nossos gostos. Foi um risco que quisemos correr. Lembro que, quando ouvi o disco pronto no estúdio, eu sabia que iríamos dizer adeus ao sucesso e ao mainstream.
Therapy? já foi um trio e um quarteto no palco. Qual formação funciona melhor?
Trio é muito melhor. Eu gosto da atmosfera que conseguíamos criar juntos no início. Depois do lançamento de Infernal Love, quando nosso ex-baterista Fyfe Ewing deixou a banda, sentimos que a mágica se foi. Então, procuramos um novo formato para a banda , com um novo baterista e um guitarrista adicional, que ficaram com a gente por um bom tempo. Hoje temos o incrível Neil Cooper nas baquetas e conseguimos recuperar aquela mágica de antes. Por isso voltamos a ser um trio.
Se for para escolher uma música do Therapy? que represente a banda, qual seria?
Essa é difícil! Pode ser duas? Uma delas é Deathstimate, do novo álbum, pois tem um riff metal e refrão melancólico. Da velha escola eu fico com Screamager, que representa muito bem o que foi a banda nos anos noventa.
Vocês já fizeram várias versões de músicas, como Diane, do Husker Dü, Isolation, do Joy Division, Breaking The Law, do Judas Priest, e mais algumas outras. Qual cover novo você faria hoje?
Provavelmente seria uma música do The Kinks, Too Much on My Mind, que é uma linda canção dos anos sessenta e eu amo o jeito em que Dave Davies canta ela. Ele passa muita emoção. Outra seria Everytime, da Britney Spears, que é um linda canção também.
Para terminarmos, gostaria de enviar alguma mensagem aos fãs brasileiros?
Claro!
Para seguir o Therapy?:
Site oficial: www.therapyquestionmark.co.uk
Facebook: www.facebook.com/Therapyofficial
Instagram: www.instagram.com/therapyofficial
Twitter: twitter.com/@therapyofficial