O nome dela é agora. Aos 85 anos, Elza Soares, segue como uma das artistas mais vanguardistas da música brasileira. “Eu gosto do novo, como sempre digo e repito: my name is now. Fiquei louca quando soube que seria um trabalho totalmente de músicas inéditas com uma juventude atual e que admiro, isto sim, me deixa louca. O Kastrup me trouxe a proposta eu adorei, são minhas bandeiras, o negro, o gay e a mulher, na hora comprei a ideia”, afirma a diva em entrevista exclusiva ao Virgula.
Em relação ao segredo de estar sempre um passo à frente, ela dá a letra: “Estar atenta, sempre se interessar pelo o novo, o que desconcerta e acerta… (risos). Eu quero mais”, diz.
O disco mais recente de Elza, A Mulher do Fim do Mundo, foi lançado no ano passado com apoio do Natura Musical, que está com inscrições abertas para novos projetos de qualquer área artística com foco em música brasileira, via edital, até o dia 24 deste mês.
Nós falamos também com o produtor do disco, o percussionista Guilherme Kastrup, que contou como é trabalhar com este monstro chamado de Elzinha pelos amigos na intimidade.
“A ideia partiu de um encontro explosivo entre Elza e um grupo muito especial de músicos e compositores paulistanos, representantes de uma estética particular da música contemporânea, especialmente o núcleo criador formado por Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Marcelo Cabral, Romulo Fróes e Celso Sim que aconteceu no disco e show de lançamento do CD Eslavosamba de Cacá Machado em 2013. A partir desse primeiro encontro e da identidade que transpareceu na estética do “samba subversivo” do grupo e Elza, nasceu o desejo de realizar um trabalho em conjunto”, conta o músico.
“Na verdade, a ideia inicial era fazermos um disco de sambas clássicos interpretados por ela e rearranjados pelo grupo, mas por influência de um grande amigo, acadêmico, estudioso da musica brasileira, Renato Gonçalves, resolvi propor a Elza um disco de inéditas, compostas pelo grupo especialmente pra ela. Elza topou na hora. O que eu esperava era fazer uma fogueira, então juntei os gravetos e aticei as brasas. O que aconteceu depois foi decorrência natural desse encontro entre uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos e desse grupo de artistas que considero um dos mais importantes do nosso tempo”, completa Kastrup.
Negra, feminista e engajada nas lutas destes grupos e a dos gays, o ícone diz que já passou por situações que crê não ocorrer com músicos homens? “Várias… Ser barrada na porta de um clube. Só não posso dizer o nome”, revela. Já em relação a como espera que sua música contribua para a igualdade de gênero, ela fica na dela. “A gente não sabe, faço a minha parte e espero que contribua, né?”, deixa no ar.
O mesmo ocorre quando perguntamos de que maneira espera que as pessoas sejam impactadas quando vão a um show dela ou ouvem seus discos. “Eu não espero nada… eu cumpro a minha parte, não faço nada pensando se vai dar certo, se vai agradar, se vai ser sucesso, não… eu me identifico compro o barulho, faço e depois a gente vê se ficou bom”, bate a fita.
Já em relação aos artistas da nova geração que mais gosta e indica, ela faz sua lista: “São muitos… JP Silva, meu afilhado musical, tem a Larissa Luz, Joyce Cândido, Simone Mazzer, já participei do CD de todos eles”, enumera.
Por fim, não poderíamos deixar uma pergunta de fora: Na sua visão, e por sua experiência pessoal com Garrincha, como música e futebol se relacionam? “Arroz com feijão, café com leite… (risos)”, afirma, certeira como sua voz, pairando acima das nuvens em um vibrato etéreo.