Ana Carol lança novo álbum “Alma Nua” / Helena Cooper

Se mostrar e se expor vem sendo cada vez mais desafiador, em um mundo cercado de julgamentos muitos preferem não se comprometer para não lidar com as possíveis consequências. Ana Carol quer ir ao oposto disso, em seu novo trabalho “Alma Nua” a proposta é se mostrar por inteiro, com todas as referências, gostos, desgostos e amores.

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Atriz, escritora e bailarina, Ana Carol é artista gaúcha lançou no dia 09 o álbum “Alma Nua”. Composto por faixas autorais e versões de músicas que marcaram sua vida, Carol se expõe e mostra como cada artista foi importante para ela e a fez ela chegar onde está. Influência musical herdada do pai, Carlos Alberto, que com sua enciclopédia musical apresentou diversos nomes da música brasileira para a pequena Carol.

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“Janela” e “Alma Nua” são as faixas autorais do álbum. As versões das outras músicas misturam diferentes ritmos e mostram as influências do rock, bossa nova e samba. O álbum é um trabalho de toda família, André Moraes, cineasta e músico, é marido de Carol e foi responsável por criar os arranjos. O filho Francisco foi responsável pelo chocalho em “Janela” e backing vocal em “Mas que Nada”, Antonio fazia companhia para mãe a todo instante, já que no período das gravações Carol estava grávida do caçula.

“Alma Nua” foi produzido por Moogie Canazio no East West Studios em em Los Angeles.

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Confira abaixo a entrevista com Ana Carol:

Daniela de Jesus: A sua relação com a música começou por conta do seu pai, né? Como é a relação de vocês dois com a música?

Ana Carol: Sim. Meu pai tem uma imensa coleção de discos e eu cresci ouvindo todo tipo de música, em casa. Da música caipira à música clássica, passando por todos os estilos possíveis. Não posso falar pelo meu pai, mas posso dizer o que vejo. Nós dois temos um amor incondicional pela música, mas se tivesse que dizer o que nos difere nessa relação, diria que percebo meu pai encontrando na música uma espécie de passaporte para outros mundos, sempre melhores que esse nosso, e eu, por outro lado, encontro na música o meu próprio mundo. É na música que eu me encontro. Foi a música que me ensinou, desde pequena, a nomear sentimentos e a encontrar um caminho possível para a expressão de tantas camadas existentes em mim.

DJ: No álbum tem diversas músicas clássicas da MPB com uma nova roupagem, como em “O Tempo Não Para” que é misturado as guitarras do rock com uma levada mais dançante. Como foi que você chegou nessas novas versões e foi encaixando tudo?
AC: Sinto que sou uma grande mistura, enquanto artista. Passei por muitos caminhos distintos, que se complementam naquilo que me constitui. Dança, música, poesia, teatro… Carrego na bagagem uma colcha de retalhos. Queria que essa identidade estivesse bem presente no disco. Vivemos um tempo cheio de nichos e compartimentos, que obrigam as pessoas a suprimirem partes importantes do que as torna únicas, em nome de um suposto sucesso na comunicação. Queria que este trabalho refletisse o extremo oposto disso. A possibilidade de sermos inteiros e assumirmos que existem muitas, muitos, muites, dentro de cada um de nós. Por isso tanta mistura de elementos e até mesmo de estilos, dentro de alguns dos arranjos e do disco como um todo. A ideia era que os contrastes pudessem exaltar características especiais que percebo em cada uma dessas canções. Acho que conseguimos.

DJ: Como aconteceu a escolha das músicas que ganharam uma nova versão?
AC: No começo do processo tivemos muita dúvida sobre fazer um disco inteiramente autoral, ou trazer releituras. Conversando com o Moogie, chegamos a esse cenário que compõe Alma Nua. Eu tinha muita vontade de homenagear artistas e pessoas que fizeram parte do meu percurso até aqui. Ao mesmo tempo, queria que esse disco contasse um pouco da minha história. Pra isso, precisava de músicas com as quais eu tivesse um vínculo afetivo. Priorizei escolher canções que realmente me tocassem e que trouxessem para o disco elementos importantes das minhas influências musicais. Estes foram os principais critérios na escolha das releituras.

DJ: O álbum contou com a participação de toda família, como foi conseguir unir o André e os seus filhos na produção desse trabalho?
AC: Foi inesquecível, como não podia deixar de ser. O amor transbordava, no estúdio. Estamos acostumados a trabalhar em família, geralmente em projetos encabeçados pelo André. Foi a primeira vez que fizemos isso em um projeto meu. Significou muito para todos nós.

DJ: “Alma Nua” fala muito de se expor, ser medos e sem receios. Como você vê isso nos dias atuais com as redes sociais?
AC: Vejo como uma forma de resistência. Em um mundo que, cada vez mais, propõe um achatamento da personalidade, para que as pessoas possam caber em espaços apertados, ou em embalagens comercializáveis, sinto que trabalhar sem esconder nossas complexidades é um jeito de a gente se manter mais vivo. Querem que sejamos todos planos, polidos, a imagem da perfeição e de tudo que é antinatural. Eu prefiro texturas, pedras brutas e tudo aquilo que me lembre da vida real.

DJ: Quais foram os 3 álbuns que mais influenciaram na produção do “Alma Nua”?
AC: Nós não ouvimos álbuns para buscar inspiração na produção do disco, especificamente. O disco nasceu da necessidade de compartilhar um pouco de tudo que me inspira, ao longo de um percurso de vida. Nesse contexto, sinto que cada um agregou com suas próprias influências, no processo. Eu trouxe a minha intensa relação com a MPB, com o samba, com o tango e com todas as outras formas de expressão artística com as quais me relaciono ativamente nessa caminhada (dança, escrita, teatro). Artistas como Elis Regina, Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Maria Bethânia, Rita Lee, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gonzaguinha e tantos outros, são parte daquilo que eu sou. O Moogie trouxe a influência de tudo aquilo que ele carrega na bagagem, que não é pouca coisa. André traz esse elemento de trilha sonora, que eu amo. Hoje posso dizer que o trabalho dele também se tornou uma influência pra mim. Amo o que ele faz em “No Coração dos Deuses”, por exemplo, misturando elementos regionais, bem brasileiros, mais a percussão, com aquela sonoridade tribal, junto com as guitarras. Desde o princípio, eu queria muito que isso estivesse presente nos arranjos. Os músicos também trouxeram suas contribuições e cada escolha, nesse disco, vem somar no sentido de contar uma história. Uma história costurada por todas essas músicas e a história que cada música se propõe a contar.


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[Entrevista] “É na música que eu me encontro”: Ana Carol fala sobre novo álbum, “Alma Nua”