Daparte por Diego Ruahn

Nesta terça-feira (15) a banda mineira Daparte lançou o single Acrobata. A faixa faz parte do novo álbum do quinteto, sucessor de Charles (2019), previsto para o segundo semestre deste ano. O último lançamento vem em conjunto com o single Pescador, que foi lançado no dia 10 de junho.

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Inspirada principalmente pelos The Beatles, a banda formada por Juliano Alvarenga (voz e guitarra), João Ferreira (voz e guitarra), Bernardo Cipriano (voz e teclado), Túlio Lima (voz e baixo) e Daniel Crase (bateria), apostou no lançamento de dois singles, Lado A e Lado B, com as faixas Pescador e Acrobata. As duas faixas se complementam e refletem sobre amadurecimento, lembranças e planos para o futuro. “De certa maneira, para você acreditar em você, e acreditar no futuro, é preciso buscar algumas coisas legais do passado“, reflete Juliano.

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Os dois clipes trazem animações feitas por Lucas Siqueira, que dão enfoque na letra e na narrativa de cada música. Pescador, além da alusão ao mar com a vida, traz um poema feito por João Ferreira que dá uma nova camada à música. Enquanto Acrobata traz mensagens para amigos da banda e uma viagem ao passado do grupo.

Pescador foi produzida por Leonardo Marques, enquanto Acrobata conta com a produção de Renato Cipriano. A primeira faixa conta com participação de Zé Ibarra, que junto com a banda Lagum na faixa Nunca Fui Deste Lugar, completa os feats do próximo álbum do grupo.

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João Ferreira e Juliano Alvarenga falaram um pouco mais sobre a produção de Pescador e Acrobata, sobre o novo álbum do grupo e como manter o equilíbrio em momentos turbulentos. Confira a entrevista completa abaixo.

Daniela de Jesus: Nesses últimos lançamentos vocês falaram bastante sobre questões reflexivas e existencialistas, como foi essa mudança de assuntos?

João Ferreira: As músicas não foram compostas na mesma ordem que elas foram lançadas. Tem umas lançamos esse ano que são mais velhas do que músicas que lançamos no passado. Não sei se foi uma coisa tão intencional assim. O disco que vamos lançar esse ano era para ter saído ano passado. E estão todas meio que num bolo, elas fazem parte dessa narrativa toda. Além de uma questão meio autobiográfica, então mistura as questões amorosas com as existencialistas. Tudo faz parte da nossa vida cotidiana, nós como banda, nós como pessoas e como jovens adultos. Tudo foi sendo composto, achamos que neste momento essas duas músicas fazem sentido.

Juliano Alvarenga: Falamos bastante sobre o que vivemos. Muito sobre relações, não só amorosas, mas relações com com as pessoas no geral. Se você tá falando de relação precisa ser sobre tudo, além da paixão e romance.

D: Os dois clipes (Pescador e Acrobata) contam com animações, como surgiu essa ideia?

JF: Sentimos que as duas faixas são bem irmãs, elas conversam e a gente sempre quis trazer clipes que conversassem. Além disso, sem poder se encontrar a logística foi mais fácil. Tem esse cara aqui em BH, que é amigo nosso, o Lucas Siqueira, ele se mostrou um cara talentosíssimo assim com animação e convidamos ele. Abre espaço para conseguir conversar uma música outra e além de tudo, a logística é muito mais fácil, né? Sem precisar contratar ator, câmera, locação e a banda toda, arrumar horário, ainda mais nesse momento.

D: Uma coisa que eu fiquei curiosa, foi quando eu estava vendo Pescador. Tem algumas frases, alguns trechos que não são da letra. Contem um pouco mais sobre isso.

JA: Exatamente, quisemos fugir do lyrics video, sabe? Gostamos tanto da animação, que decidimos não colocar a letra da faixa, para fugir do comum. Então o João escreveu esse poema.

JF: Para ter mais uma camada, né? Pescador era uma faixa que a fanbase já conhecia porque postamos um vídeo acústico uma vez. Então pensamos nessa camada a mais para trazer uma novidade.

D: As faixas chegam com lado A e lado B, como foi escolher cada uma e o álbum também vai para esta linha de dois lados?

JA: Tem muitas músicas que fizemos com um lado mais pop, assim, que é um lado que gostamos muito também. E tem esse lado mais introspectivo, mais profundo, ele talvez não pegue tantas pessoas como o lado A. Pescador seria o lado A e Acrobata lado B, eu acho que elas são bem parecidas, assim, as duas são meio lado B. Com os últimos lançamentos mesclando o pop e o introspectivo, eu vejo que o nosso disco está bem dividido no lado A e B.

JF: Sempre achamos que essas músicas conversam muito, né? Então pensamos em lançar elas juntas. Poderíamos mostrar elas todas no mesmo dia ou fazer um esquema para fingir que estamos numa outra época. Sempre curtimos essa parada, se pegar os discos dos Beatles, os compactos antigos, tem um lado A e um B. O lado B é pouco conhecido, mas tem músicas do caralho. E o disco está um pouco assim como o Ju falou.

D: Em Pescador vocês contam com a parceria do Zé Ibarra, e recentemente fizeram parceria com a Lagum. No álbum vai ter mais feats?

JF: No álbum são só esses dois. Pretendemos fazer mais feats em um futuro, se aparecer aí amigos parecidos com a gente, não tem motivo para não querer fazer coisinhas. Sempre é uma troca muito massa. Já rola conversas no WhatsApp com bandas de outros estados. O famoso vem aí (risos).

D: Agora, sobre o novo álbum, o que vocês podem adiantar?

JA: As pessoas podem esperar os impactos que a sociedade causam, como a gente fala mesmo da nossa relação com os amigos, com as pessoas e dos romances que vivemos. Eu e o João somos dois caras que somos cheios de amores, amor platônico, amores diferentes na vida, amores imperfeitos. Pode ser um clichê falar de amor, mas é a principal coisa que acho que nos motiva.

JF: O disco vem bem montanha-russa, de dançar chorando. Músicas alegres, músicas tristes, músicas de dançar, músicas para chorar em posição fetal. (risos)

D: Em Acrobata vocês falam bastante de equilíbrio. Com isso, eu quero saber o momento que vocês mais precisaram se equilibrar na vida.

JA: Para mim foi na pandemia mesmo, ano passado tive um período que eu estava bem estranho. Comecei a ter umas crises de ansiedade que eu nunca tive, começamos a ter que lidar mais com a gente mesmo, né? Exploramos mais o nosso sentimento, teve algumas fases no ano passado que foram meio difíceis que precisei de amigos e família. Esse ano, graças a Deus, eu estou me achando melhor.

JF: Eu acho que eu compartilho um pouco dessa coisa do Ju, ano passado aconteceram muitas coisas importantes na minha vida. Mas coisas importantes nem sempre são boas, eu terminei um namoro longo, perdi um amigo e várias coisas pesadas assim, perdi outros amigos por outros motivos. Mas enfim, ciclos da vida que são naturais, infelizmente eles acontecem sem pedir, às vezes uma hora que a gente não espera. Mas, tamo aí, segurando a barra. Ano passado foi meio punk mesmo, é tudo muito intenso e inesperado, né? Todo mundo compartilha um pouco da raivinha de 2020.

D: No clipe de Acrobata tem TVs, no final, com algumas cenas de vocês, que é meio com uma retrospectiva, né? Eu queria saber se isso tá anunciando uma nova fase  ou é mais um momento de relembrar é viver?

JA: Eu acho que é mais uma onda de ilustrar a letra. A letra fala de estrada e vejo umas TVs com a gente assim, eu lembro muito de coisas bonitas que vivemos juntos. De certa maneira, para você acreditar em você, e acreditar no futuro, é preciso buscar algumas coisas legais do passado. Ver aquelas imagens traz um certo conforto para gente, do que já vivemos juntos. Nos sentimos confortáveis em viver na estrada, sabe? Juntos.

JF: Inclusive, para mim, é a melhor parte.

JA: Tem a parte do Kite também. A homenagem para um amigo nosso, isso é uma piada interna. No clipe, no circo aparece “Mr Kite e Kid Circus”. Circus era uma casa de show de BH que fechou. Esse amigo nosso, o Kite, amava essa casa de show, então decidimos homenagear ele.

D: Já fica aí uns segredos no clipe

JF: Sim, nós sempre gostamos de colocar umas piadas internas nos trabalhos.

D: Sobre a estrada que o Juliano ele falou, qual é a lembrança da estrada que mais marcou vocês?

JA: Bom, eu acho que nosso último show, no Rio de Janeiro que abrimos o Skank no Circo Voador. Nossos amigos foram e dá uma onda meio de filme com a van, cheio de amigo, praia, nós tocando e entrevistas.

JF: Teve um festival no Rio também que tocamos com os Gilsons [Fica Verão]. Deu uma chuva e o evento teve de ser interrompido, mas a viagem foi doida porque saímos de um show em BH direto para o Rio. Foi de madrugada isso, convidamos um amigo nosso, que inclusive é o Kite, e ele entrou na van. Só que ele entrou bêbado e quando percebeu já estava muito longe para voltar. Nisso ele tinha que trabalhar no outro dia, ele acabou falando com o chefe dele e ficou no Rio.

 


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[Entrevista] Daparte reflete sobre passado e futuro em "Pescador" e "Acrobata"