A respeito da série de shows do grupo, o senhor poderia falar um pouco sobre isso?
Sim, só não me chame de senhor (risos).
É uma sequência de shows de comemoração dos cariocas, afinal são mais de 60 anos de estrada tocando tanto no Brasil, quanto fora. E, dentro dessa programação, faremos dois shows no Projeto Agenda Bossa Nova.
Nós tocamos, nos shows, músicas como “Samba de Avião”, “Minha Namorada”, “Preciso Aprender a Ser Forte”.
Estamos tocando em várias casas de São Paulo e as próximas apresentações serão amanhã e depois.

Qual o público que se nota nos shows? É um pessoal jovem ou um pessoal mais das antigas?
A bossa nova não é um gênero que enche ginásio, mas atrai um público que realmente aprecia a música, vai para relembrar. Normalmente, estão na faixa dos 40 anos e, muitas vezes, levam seus filhos, às vezes, netos, e amigos.

Atualmente dá pra viver de música?
Eu sempre vivi de música. Meu pai dizia que se eu quisesse seguir a carreira, então eu teria que estudar. E foi o que fiz. Me formei no Curso Superior de Música, estudei com Tom Jobim, Moacir Santos…
Nos primeiros anos do grupo, tinha-se uma abertura maior para a bossa nova. As rádios tocavam mais o gênero e, antes, não era gravação, como hoje em dia. Naquela época as músicas eram tocadas por orquestras nas rádios. Então eu era músico e maestro. Hoje, se vc diz que precisa de dois músicos, é considerado muito.
Entretanto, durante os 20 anos que o grupo ficou parado, eu trabalhei com algo que não tem nada a ver com música: com um comércio de impermeabilização de estofados e, por incrível que pareça, consegui faturar mais do que conseguia com a música (risos).

O que os levou a montar o grupo?
Nós eramos estudantes da Tijuca na década de 40. Nessa época as rádios dominavam. Ouvíamos os conjuntos vocais nas rádios e logo começamos a cantar sem nenhuma experiência técnica. Não conhecíamos nenhuma nota, mas tínhamos uma musicalidade inerente. Não tínhamos escolha. Nós gostávamos, verdadeiramente, de música.
Nos apresentamos na então Rádio Nacional e, 15 dias depois, assinamos contrato com a rádio. Ficamos lá desde 1946 até mais ou menos 1970, não me lembro bem agora. Tocávamos nas emissoras de televisão, em boates. Tinha-se mais facilidade por conta da receptividade das rádios. E havia outra coisa também. Meu irmão Ismael Neto [um dos fundadores da banda] desenvolveu uma sonoridade diferente, que nos deu destaque como banda.
Inclusive fomos os primeiros a tocar “Garota de Ipanema”, em 1962, numa boate chamada “O Bom Gourmet”, em Copacabana, onde tocamos durante 45 dias.

A sua filha, a atriz Lúcia Veríssimo, também aprecia a bossa nova?
Sim, minha filha gosta de bossa-nova. Ela aprecia, mas ela tem mais a ver com atuar do que, talvez teria, com cantar. Mas ela gosta sim.

O que você acha do cenário atual da bossa nova e do MPB? Você acha que artistas como Lenine e Marisa Monte incentivam, de alguma forma, o interesse dos jovens na busca por influências que inspiraram a música desses novos artistas, que obviamente passa pela bossa nova?
Ajudam a boa música, no qual a bossa nova também está inserida. O problema é o pouco interesse das rádios em tocar gêneros nacionais, como o xaxado, o baião, a música sertaneja, música do sul… O Brasil possui uma diversidade grande de gêneros, mas as rádios se limitam a abordá-los superficialmente e dar enfoque em músicas internacionais.

Quais casas de São Paulo, que o grupo se apresentou, a reação do público foi tão boa que vocês sentem vontade de voltar para novos shows?
Não é rasgação de seda, mas os paulistas em geral, sempre nos prestigiaram em nossas apresentações, desde os tempos do programa na Rádio Record. Fui muito aplaudido por aí [Severino fala do Rio]. Quando se trata de São Paulo, não temos restrições quanto a lugares. Já tocamos em Sescs, casas noturnas e festas particulares.

O que os motiva a continuar com a banda há tanto tempo?
Nós gostamos profundamente de música. Comecei na música e vou terminar na música.

Tem algo mais que gostaria de acrescentar?
Só gostaria de dizer a todos os leitores dessa entrevista e do Vírgula que nos dêem a honra da presença de vocês em nossos shows. Estão todos convidados.


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Entrevista com Severino Filho, do grupo Os Cariocas