Chico Salem lançou na sexta-feira (05) a música “Sangue”. A faixa foi composta junto com Arnaldo Antunes e conta com parceria vocal de Zeca Baleiro.
Escrita no início da pandemia “Sangue” retrata a omissão da população em relação a vida das outras. Em meio a diversas notícias de violência retratada em nosso país, a letra fala da letargia e a falta de assombro que esses acontecimentos estão causando na população.
Chico Salem foi guitarrista de Arnaldo Antunes durante 18 anos, além disso já tocou com diversos nomes da música como Elza Soares, Marisa Monte, Adriana Calcanhoto, Nando Reis entre outros. O cantor conta com dois álbuns solo, “01” e “Maior ou Igual a Dois”.
A produção musical da faixa foi assinada por Estevan Sinkovit e Ricardo Prado. “Sangue” já está disponível em todas as plataformas digitais. A seguir, confira a entrevista com o cantor, compositor e multi-instrumentista Chico Salem.
Daniela de Jesus: Como surgiu a parceria com Arnaldo Antunes para compor a letra de “Sangue”?
Chico Salem: “Sangue” é uma parceria com Arnaldo Antunes, com uma melodia que eu tinha e sentia, pelo movimento melódico, que tinha potencial para ser uma música forte e importante. Eu mandei para ele quando ele tinha acabado de lançar o último álbum “Real Resiste”, que tem algumas músicas de cunho político e sabia que ele estava com muita coisa para falar nesse sentido. Foi um grande encontro, em menos de uma semana ele me devolveu essa letra contundente e forte. Eu fiquei muito feliz, nós temos várias outras parcerias, mas sabia que ele agregaria muito a essa composição.
D: Como foi que aconteceu a parceria com o Zeca Baleiro no vocal?
CS: Assim que a música ficou pronta, eu mandei pro Zeca Baleiro, que é meu amigo, pedindo opinião, e ele se mostrou muito empolgado, gostou muito e me mandou um áudio muito lindo elogiando. Como é um cara que eu já tenho parcerias antigas, me relaciono muito bem, gosto muito do trabalho dele e sou um fã incondicional, ocorreu esse convite de convidá-lo para gravar e cantar junto comigo. Ele aceitou logo de pronto e o resultado é esse que vocês podem ver.
D: A música foi composta antes da pandemia, e fala sobre o descaso das pessoas com a vida humana. Como você vê o impacto da letra nessa situação em que estamos vivendo, em que as pessoas negam e ignoram a existência do vírus?
CS: No Brasil, infelizmente, as músicas de protesto e de denúncia se perpetuam como atuais, porque as coisas mudam numa velocidade muito pequena e, às vezes, para pior. A gente sempre espera que a nossa arte não tenha o objetivo de fornecer respostas, e sim promover perguntas aos ouvintes. Esse é o desejo que eu sinto com essa canção, que as pessoas escutem, prestem atenção na letra e possam refletir e elaborar questionamentos sobre sua própria conduta e a conduta do país em que elas estão vivendo.
D: Como você vê a importância das músicas de protesto? Tem alguma que te marcou, sua ou de outro artista referência pra você?
CS: Eu acho muito importante que a arte proponha esse papel de questionamento, muito mais do que oferecer respostas prontas. Nesse sentido, as músicas de protesto marcaram a cultura da música brasileira. Nos anos 70, na época da ditadura, foram marcados por uma produção muito rica de músicas que propunham esse tipo de questionamento, por isso são inúmeras canções que me marcaram essa época, difícil citar uma. Das minhas canções, ”Só Que Não” foi uma feita e lançada em 2020, um pouco antes da pandemia, com clipe que contou com a participação de mais de 130 voluntários, foi um processo maravilhoso com pessoas que tinham uma urgência muito grande de darem o seu grito e, de alguma forma, contribuírem que esse processo pudesse ser concluído.
D: Quais foram as principais referências para produzir “Sangue”?
CS: Na época da composição da melodia de “Sangue”, eu estava muito mergulhado na obra do Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Belchior, pessoas que traziam seus discursos com uma mensagem muito importante e, ao mesmo tempo, conseguem ser extremamente populares tocando os ouvintes. Muitas vezes, pessoas que nem tinham uma visão política progressista e humanitária se viam cantando músicas e se percebiam mudando suas próprias atitudes e pensamentos.
Ouça a música “Sangue”: