Emílio Santiago
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A MPB perdeu não apenas seu sorriso mais bonito, mas também um de seus maiores intérpretes. Emílio Santiago, que morreu na manhã desta quarta-feira (20), como escreveu o crítico e jornalista Sérgio Cabral era um tipo raro de artista. “Finalmente, um cantor que canta”, afirmou.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1946, Emilio tinha porte de lorde e era formado em direito. Começou cantando bossa, influenciado por João Gilberto. No rádio, ouvia Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Anísio Silva e outros. Entrou para a tradição de grandes cantores, do samba ao funk e das baladas de apelo pop.
Estreou com Transas de Amor (Polydor), em 73. O sucesso nacional veio em 88, com a série Aquarela Brasileira, produzida por Roberto Menescal e Heleno Oliveira, com releituras de clássicos brasileiros. Emílio surpreendeu por gravar 20 músicas em menos de seis horas.
Nos Estados Unidos, o crítico Stephen Holden, do New York Times, o comparou a Johnny Mathis. Mas talvez sirva para alguém de um país distante porque os brasileiros sempre souberam que Emílio Santiago era Emílio Santiago.
Em 1977, atingiu um dos pontos altos da carreira com Feito para Ouvir, então pela Philips, reeditado em 2009 pela Dubas Música. O repertório traz músicas que faziam parte do seus shows na noite paulistana e carioca, como Rua Deserta (Dorival Caymmi, Hugo Lima e Carlos Guinle), Olha Maria (Tom Jobim, Chico Buarque e Vinicius de Moraes) e ainda outras que ele ajudaria a tornar standards, como Beijo Partido (Toninho Horta), O Que É Amar (Johnny Alf) e Tristeza de Nós Dois (Durval Ferreira, Bebeto e Maurício Einhorn) e Maria (Me Perdoe, Maria), de Gilberto Gil.
Destacam-se também os arranjos de os arranjos de Laércio de Freitas e J. T. Meirelles, evidenciando o bom gosto do intérprete e do produtor do disco, Roberto Santanna.
Emílio Santiago, de 75, com seu nome mesmo, também é um registro histórico. Definiu a aproximação do funk com samba com as pedradas Brother (Jorge Ben), Bananeira (João Donato), Batendo a Porta (João Nogueira) e outras.
Mas no imaginário popular, Emílio será mais lembrado por sucessos populares como Saygon (Claudio Cartier/Paulo Feital/Carlão), Lembra de Mim (Pablo Ribeiro) e Verdade Chinesa (Gilson/Carlos de Carvalho Colla).
Em 2010 lançou seu próprio Selo, Santiago Music. Por ele, com distribuição da Biscoito Fino, lançou Só Danço Samba, que em 2012 ganhou versão ao vivo com CD e DVD. Ele definia o trabalho como homenagem ao Rei dos Bailes, ED Lincoln, com faixas como Samba de Verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), Só Danço Samba (Tom e Vinícius), Falaram Tanto de Você (Durval Ferreira/Orlandivo) e ainda olhava para o presente com Tendência (Jorge Aragão/ Dona Ivone Lara) e Chega (Mart`nália/ Mombaça).
A MPB ainda tem “cantores que cantam”? Sim, não é possível ignorar nomes como Luiz Melodia, Ney Matogrosso, Djavan, Seu Jorge, Criolo, Diogo Nogueira, Filipe Catto. Mas Emílio parece encerrar uma era iniciada nos cantores de rádio que ouvia na infância. Seu sorriso e sua música farão falta.
Veja Emílio Santiago em Saigon
Ouça Emílio de Santiago em O Amigo de Nova York
Ouça Emílio de Santiago em Bananeira
Veja programa Samba na Gamboa na TV Brasil, com Emílio Santiago, Diogo Nogueira e Áurea Martins