Stone Temple Pilots
Créditos: gabriel quintão
Sempre tem algum engraçadinho que chega no fim do segundo tempo para estragar todas as listas de fim de ano feitas antes de dezembro acabar. E foi exatamente isso que o Stone Temple Pilots fez na noite desta quinta-feira (9) no Via Funchal, em São Paulo – dificultou o trabalho de quem já tinha fechado sua lista de shows mais importantes do ano trazendo ao Brasil uma apresentação milimetricamente ensaiada, mas que emocionou os fãs.
Até mesmo os seguidores mais fervorosos da banda estavam com medo do que poderia acontecer na apresentação de hoje. Afinal, o grupo precisou cancelar há poucos meses 16 shows de sua turnê norte-americana após o vocalista Scott Weiland ter uma grave recaída e precisar ser internado às pressas em uma clínica de reabilitação. Vamos combinar: Keith Richards e Ozzy Osbourne estão aí para provar que é possível ingerir mais drogas do que comida e continuar vivinho da silva, mas os super-homens do rock são exceções perigosas de se tomar como exemplo. E Scott Weiland nunca foi o frontman mais regular e resistente da história. Os fãs temiam, seus colegas de banda também.
Mas, aparentemente, tudo deu certo: ao menos no show de SP, Scott Weiland não enfrentou problemas e mostrou que seu período na rehab funcionou. O músico estava afiado, cantando bem (há alguns anos a voz de Weiland era infinitamente melhor, mas não dá para voltar ao passado) e dominando com excelência o repertório da turnê atual. A animação do vocalista não era das melhores, mas a banda é tão boa que conseguiu fazer os fãs esquecerem disso e permanecer durante todo o show com as mãos para o alto.
Este foi o primeiro show do Stone Temple Pilots no Brasil – em seu auge, nos anos 90, quando dominava grande parte da cena hard-rock norte-americana, a banda nem chegou perto de dar as caras por aqui. Os fãs que compraram o primeiro álbum do grupo (Core, lançado em 1992) e ficavam horas e horas ouvindo o hit Plush repetidamente nunca tiveram a oportunidade de ver a banda no Brasil. E foram esses roqueiros do passado que bateram cabeça como nunca na apresentação no Via Funchal – foi provavelmente um dos shows mais bonitos de 2010 no quesito “amor dos fãs”. O coro dos refrões era tão alto que até dava para esquecer que o som estava péssimo, estourado e sem equalização.
O setlist foi igual ao do show no Chile, que aconteceu no dia 7 de dezembro. De seu álbum mais recente, que leva o nome da banda, o Stone Temple Pilots tocou Between the Lines, Huckleberry Crumble, Hickory Dichotomy e Cinnamon. Completaram o setlist músicas como Crackerman, Wicked Garden, Vasoline, Still Remains, Interstate Love Song e Sex Type Thing.
Mas como toda pessoa que espera durante 20 anos pela vinda de uma banda, o importante é, mais do que tudo, ouvir os hits. Só que esse processo não é uma ida ao karaokê: os fãs não estão ali só para poder cantar cada uma das palavras das letras. Se fosse esse o intuito, dava para resolver no chuveiro.
O importante para todos os fãs do Stone Temple Pilots que estavam no Via Funchal era a comunhão de um sentimento musical nostálgico que não vai mais voltar. Muita gente revivia a adolescência, olhava para trás e sentia aquele aperto no coração de saber que, sim, o grupo não vai voltar e Scott Weiland cada vez mais deixa para trás sua poderosa persona de frontman. Tudo desmorona, e o Stone Temple Pilots não é uma exceção. E cada fã que gritava com Plush e Down sentia a importância de dividir com a banda não só um show, e sim a história de uma trajetória extensa e relevante que chegou ao Brasil com 20 anos de atraso.
É impossível decretar ou especular algo sobre o futuro da banda. Scott Weiland acaba de sair de sua rehab e o grupo sofreu muito com os cancelamentos de shows, os boatos e as tensões internas de uma banda que está na estrada há muitos anos e precisa lidar com o desgaste natural de um relacionamento tão longo.
Mas uma coisa é fácil de dizer: mesmo que em sua primeira visita ao Brasil a banda tenha enfrentado tantas expectativas ruins e tantos revezes que era difícil olhar o show sem desconfiança, quem saiu ganhando foi Scott Weiland, que apesar de estar sem seu fôlego habitual conseguiu conquistar seus fãs e sair aplaudidíssimo do Via Funchal. A banda está longe de viver seu melhor momento, enfrenta novamente os memos problemas que causaram sua separação em 2003 e permanece na corda bamba. Mas mesmo assim riu por último.
SETLIST
Vasoline
Heaven & Hot Rods
Between The Lines
Hickory Dichotomy
Still Remains
Cinnamon
Big Empty
Dancing Days (Led Zeppelin cover)
Silvergun Superman
Plush
Interstate Love Song
Huckleberry Crumble
Down
Sex Type Thing
Bis
Dead & Bloated
Trippin’ On A Hole In A Paper Heart