Miley Cyrus
“Filha, para de chorar, você vai ver o show!”. “Ai pai, mas eu vou morrer, ela é tão linda, a Miley é tudo pra mim”. Entre soluços incontroláveis e crises de choro, diálogos como este eram comuns entre os fãs mirins que esperavam com devoção religiosa a entrada de Miley Cyrus no palco da Arena Anhembi. A cantora, que se apresentou no RJ nesta sexta (13), chega ao Brasil em meio a um momento crucial de sua carreira: a transição de sua imagem de garota inocente de Hannah Montana para a mulher sensual e mais “rebelde” da Gipsy Heart Tour.
Com 18 anos, a cantora já deixou claro que quer deixar para trás o rótulo de Hannah Montana e construir uma carreira solo baseada em sua verdadeira identidade. E a partir do que os fãs puderam conferir nesta passagem de Miley pelo Brasil, esta personalidade aposta em elementos bastante improváveis para um ídolo musical de fãs com menos 1,40m e ainda na escola.
O começo do show mostrou a nova face de Miley Cyrus: a de uma mulher sexy que quer mostrar que sabe ser perigosa e decidida. Longe de querer ser comportada, a cantora entrou no palco com um figurino provocante de shortinho e cinta-liga estilizada e bateu cabeça em canções com arranjos muito mais próximos ao rock do que ao pop tão amado pelos fãs mirins que lotaram o Anhembi. Grande parte do público da cantora era formado por crianças de até 10 anos de idade, que esperaram em vão para ver a Miley adolescente dos tempos de Hannah Montana. A garotinha cresceu – agora a intenção é deixar os caras babando e fazer com que todas as garotas adolescentes queiram copiar o look mais rebelde e o discurso de independência de suas canções.
Esta postura mais “roqueira” de jogar o cabelo para os lados, bater cabeça e adotar um estilo muito mais agressivo de cantar dominou a primeira parte do shows, que contou com Liberty Walk, Party in The USA, Kicking and Screaming e Robot, além de um medley da cantora Joan Jett, com I Love Rock ‘n Roll, Cherry Bomb e Bad Reputation. E o empenho de Miley em mostrar que consegue mandar bem no espírito rock n’ roll não fica só na promessa, já que a cantora se sai bem com uma voz muito potente e que não precisa do apoio do playback para dar conta do recado.
Logo em seguida, Miley fez uma das seis trocas de roupa do show e reapareceu de vestido longo para apresentar um set mais acústico, com Every Rose Has It’s Thorn (cover do Poison), Obsessed e Forgiveness and Love. Embora a cantora não tenha tido nenhum problema de execução nesta parte do show, ficou claro que a entrega de Miley é muito maior com seu repertório mais agressivo. As canções românticas e melosas, aparentemente, são coisa do passado: o que a cantora quer mesmo é bater cabeça.
O show retoma seu ritmo quando a cantora resolve apresentar um de seus covers mais polêmicos: uma versão do clássico Smells Like Teen Spirit, do Nirvana. “Uma das vantagens de seguir seu sonho é conseguir um espaço para fazer aquilo que seu coração manda. E para mim é uma alegria imensa poder mostrar para vocês uma das músicas que mais me influenciou”, afirmou ela sobre a música. E os puristas podem reclamar o quanto quiserem, mas deu certo: a voz de Miley não falhou e ela conseguiu mostrar o quanto estava se divertindo ao cantar o hit do Nirvana. E fez com que criancinhas de dez anos pulassem ao som de Kurt Cobain.
Ponto alto da noite, o hit Can’t Be Tamed, faixa-título do novo álbum de Miley, decretou de uma vez por todas que Hannah Montana morreu. Esta é Miley Cyrus: figurino levemente sadomasoquista, pose sexy, coreografia dominadora e uma postura de “não mexam comigo”.
“Para aqueles que não me conhecem, eu às vezes enlouqueço. Eu preciso fazer as coisas do meu jeito, 24 horas por dia. Porque sim, eu sou quente, sou incrível”, diz Miley na letra de Can’t Be Tamed. Pode parecer afetação adolescente, mas é quando proclama sua independência que a cantora parece mais verdadeira. Seus momentos mais românticos durante o show parecem pálidos e tediosos, e só quando músicas mais fortes aparecem no setlist a cantora faz questão de colocar sua marca pessoal.
Miley Cyrus, como qualquer garota de 18 anos, está tentando a todo momento reafimar seus desejos de independência e criar uma identidade própria. Ao menos musicalmente, a cantora mostrou que já sabe o que quer. Se seus fãs mirins, que se identificam muito mais com a antiga Hannah Montana do que com a atual Miley, vão acompanhá-la nesse trajeto, já é outra história.
Setlist
Liberty Walk
Party in the U.S.A.
Kicking and Screaming
Robot
I Love Rock’n Roll/Cherry Bomb/Bad Reputation
Every Rose Has Its Thorns
Obsessed
Forgiveness and Love
Fly on the Wall
7 Things
Scars
Smells Like Teen Spirit
Can’t Be Tamed
Landslide
Take Me Along
Two More Lonely
The Climb
Bis
See You Again
My Heart Beats for Love
Who Owns My Heart