O cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler lança nesta terça-feira (25) Bailar en la cueva, um disco que representa uma mudança de direção em sua trajetória, na qual aposta na dança, uma das experiências “mais libertadoras” do ser humano.
Bailar en la cueva (“Dançar na caverna”), gravado entre Bogotá e Madri e que conta com participações de Caetano Veloso, Bomba Estéreo, Ana Tijoux e Eduardo Cabra, do duo Calle 13, será apresentado em uma turnê pela Espanha e pela América Latina.
O artista falou, em entrevista à Agência Efe, sobre a dança e ressaltou que “deixar-se levar e seguir o ritmo com o corpo para os que têm tudo muito enraizado no intelecto e nas emoções, é duplamente benéfico”.
Deste disco, destacou a parceria com Caetano na canção Bolívia, com a qual Drexler quis realizar uma homenagem a esse país que acolheu seu pai, quando tinha quatro anos, e seus avôs quando tiveram que fugir da Alemanha nazista.
“O único país que os recebeu foi a Bolívia” relatou Drexler, lembrando a emoção que sentiu ao tocar nesse país e ver o paradoxo da história: “Um país pobre ajudando exilados europeus nos faz refletir como tratamos os imigrantes bolivianos na Espanha ou no Uruguai”.
“Passei metade da minha existência na Espanha ajudando amigos latino-americanos para vir tocar aqui e agora a outra metade ajudando músicos espanhóis a ir tocar na América Latina”, contou.
Em seu novo disco, Drexler destaca “a essência do que nos faz humanos: muitas coisas mudam em um ritmo brutal, mas cai a noite e nos reunimos para dançar na caverna”.
Mas esse baile na caverna não aconteceu espontaneamente para Drexler, após ter sido criado durante a ditadura no Uruguai.
“A uma ditadura militar não interessava uma experiência libertadora como o baile, mas, além disso, acontecia um fenômeno de espelho e no entorno de resistência no qual me criei, em uma família de intelectuais de esquerda, também não se dançava. Era como se houvesse muita gravidade no ambiente e outras coisas mais importantes para fazer”, lembrou.
E agora, “enfrentando-me ao ato de dançar, enfrento medos e pudores pessoais”, disse o cantor, que reconheceu que, talvez, isso esteja acontecendo porque está a ponto de completar 50 anos “e você se dá conta da passagem do tempo e te dá vontade de aproveitar”.
As letras das canções de seu novo álbum são “mais concretas que as de outros discos, mais sintéticas”, embora, não por isso, sejam textos menos trabalhados; mas, pelo contrário, “foi um exercício muito duro deixar metade da letra fora. A que não cumpria a máxima que tudo o que embeleza mata, era corta”, ressalta o ganhador de um Oscar em 2005 por sua canção “Al otro lado del río”.
“São textos muito depurados e filtrados; deixei muita coisa de fora com a sensação de sacrifício, mas os textos estão em função de uma entidade superior que é a canção”, garantiu.