“Nós podemos dançar até morrer”, desafia Katy Perry na música-título de seu novo álbum, Teenage Dream. E nós acreditamos nela, de tão absurdamente pop que são as melodias e os refrões de seu segundo trabalho de estúdio.
Em Teenage Dream, todos os vocais são delicados, uniformes e dosados para agradar a todos os ouvidos. Todas as melodias são fáceis de decorar, assobiáveis e sem muitas variações de harmonia. É um álbum que te convida a dançar, a pular e a esquecer de qualquer complicação cotidiana ou das questões mais profundas a respeito da música e da vida.
Mas calma lá, Katy Perry: nada é tão fácil assim. É impossível não desconfiar de toda essa alegria, essa vontade de dançar até cair e essa necessidade absoluta de nunca parar para refletir sobre nada. Quando a ostentação da alegria é maior do que a festa em si, tem algo errado acontecendo. E é essa a impressão que Teenage Dream passa – a de que a festa está rolando, mas só para mascarar algo muito mais complexo.
Katy Perry cresceu em um ambiente conservador e repressivo, controlada por seus pais evangélicos e cercada por uma série de regras. “Eu nunca pude falar ‘sorte’ [lucky em inglês], porque a minha mãe preferia que nós disséssemos ‘abençoados’, ela achava que a palavra soava como ‘Lúcifer'”, contou a cantora certa vez. Mas logo após a explosão de seu primeiro single, I Kissed A Girl, em que dizia que havia beijado uma garota, Katy Perry caiu na farra e resolveu se tornar a porta-voz de um som festeiro, despreocupado e pop em todos os sentidos.
Mas a naturalidade que havia em seus primeiros sucessos, mostrando a cantora como uma garota atrevida e que só queria se divertir, se esvaiu por completo em Teenage Dream. Em seu terceiro trabalho de estúdio, Katy Perry parece se esforçar tanto para mostrar que é festeira, louca e despreocupada com a vida que é difícil aceitar que isso é mesmo verdade.
Esse esforço acaba se unindo a outro problema do álbum: confundir diversão com leviandade. É possível tratar de assuntos sérios sem ser chato ou pedante, mas Katy Perry exagera na dose. Quanto mais tenta ser engraçadinha e polêmica, mais sua mensagem de “vamos dançar” parece forçada e exagerada.
Se o problema fosse apenas na mensagem, ok, quem sabe desse para relevar. Mas se Teenage Dream irrita no conteúdo, a forma também não se salva – os vocais “autotunados”, as melodias genéricas e a sonoridade “de plástico” permeiam todo o álbum. Por mais que Katy Perry tenha uma boa voz, é impossível saber se ela é real em meio a tantos efeitos vazios e claramente artificiais.
Que Katy Perry sabe compor hits é um fato – Teenage Dream, California Gurls, Firework e Peacock, só para mencionar este novo álbum, são prova disso. Mas o som da cantora é tão genérico, sem emoção e repleto de polêmica enlatada que a capacidade de escrever músicas viciantes perde seu valor.