Atualmente, Bivolt é uma das rappers mais reconhecidas no meio musical – ela foi a primeira mulher a integrar o time de rap da gravadora Som Livre. Saída das batalhas de rap que acontecem na capital paulista, Bivolt chegou a se apresentar no Rock in Rio em 2017, e agora lança “Pimenta”, em parceria com Gloria Groove.
Em conversa exclusiva com o Virgula, a rapper falou um pouco sobre o seu caminho trilhado no meio musical e seus novos projetos. Durante sua trajetória, conta, sofreu com o machismo para chegar onde está, e usa sua voz para fazer com que este cenário mude. “Sempre tivemos mulheres na cena, mas a valorização da mulher não só na música como na sociedade é um assunto que entrou em pauta há pouco tempo, e estamos em luta constante para que a mulher tenha reconhecimento assim como os homens”, disse.
Neste sentido, seu mais novo trabalho, “Pimenta”, entra, justamente, neste universo. “Inverter os valores patriarcais, em ‘Pimenta’, o poder é delas!”, revelou. Confira a entrevista completa abaixo:
Virgula: Você vem trilhando seu caminho no meio musical há mais de 10 anos, nas batalhas de rap. E, ano passado, você lançou seu primeiro disco e foi indicada para o Grammy Latino. Como você vê a mudança na indústria desde o começo da sua atuação? Acredita que tem um papel nesta mudança?
Bivolt: Acredito que a indústria da música nesse período passou a dar mais visibilidade ao rap e reconhecer como um gênero musical, no começo da minha carreira o rap ainda era muito marginalizado. Acredito que o meu papel foi ser representatividade nesse meio, pois quando outras mulheres me viam batalhando na época, elas se identificavam e entendiam que também poderiam fazer aquilo, sempre tivemos mulheres na cena, mas a valorização da mulher não só na música como na sociedade é um assunto que entrou em pauta há pouco tempo, e estamos em luta constante para que a mulher tenha reconhecimento assim como os homens.
Virgula: Como gostaria que o cenário do rap estivesse daqui há 10 anos?
Bivolt: Mais igualitário, com mais poder socioeconômico. Quero o Rap ganhando dinheiro, se só com palavras esse ritmo já muda vidas e transforma destinos, imagina com poder de capital. Quero rappers na presidência (risos).
Virgula: A mensagem sobre empoderamento feminino é muito presente em “Pimenta” e também em outros de seus trabalhos. Qual é o papel dessa mensagem na sua obra?
Bivolt: Mulheres também sentem prazer, mulheres também falam sobre suas experiências. Minha missão é normalizar isso. Inverter os valores patriarcais, em Pimenta, o poder é delas!
Virgula:O que podemos esperar do seu próximo álbum? Como ele se diferencia de seu primeiro projeto?
Bivolt: Pode colocar o capacete, porque está vindo pedrada. Meu primeiro álbum foi todo baseado no conceito das minhas voltagens, um álbum que explica um pouco quem é a Bivolt! Nesse próximo álbum, a inspiração vem das loucuras que estamos vivendo no momento e a esperança no que está por vir. A expectativa é trazer esse álbum pra ser trilha sonora pós- pandêmica.
Virgula: A pandemia mudou a sua maneira de se relacionar e produzir arte?
Bivolt: Com certeza, mudou minha maneira de me relacionar com tudo e todos. Desenvolvi alguns transtornos durante esse período delicado, a ansiedade me comeu viva. Isso interferiu bastante no processo, agora com as coisas voltando aos poucos, minha sanidade também está. Tô na busca da cura, de ser melhor, de viver minha melhor versão todo dia. Então nem me cobro mais por não conseguir ser produtiva todos os dias, respeito meus limites e deixo fluir organicamente as paradas. Ao mesmo tempo, o meu jeito de consumir arte também mudou. Passei a gostar muito de outros gêneros musicais que não tinha tanto contato, graças aos meus vizinhos (risos). Não posso ouvir um “Piseiro” que já fico louca pra dançar.
Virgula: Você acredita que a sua música possa ajudar outras pessoas a superarem estes tempos?
Bivolt: Espero que sim, recebo muitas mensagens que salvam minha vida, dizendo que minha música salvou vidas. Isso não tem preço, maior tesouro!