Tudo começou há dez anos com a ideia de reestruturar a pequena fanfarra de Barra Mansa, município do Sul Fluminense, a cerca de 130 quilômetros do Rio. O projeto era do maestro Vantoil de Souza Júnior, um barramansense que, na época, comandava a orquestra da Igreja local, único grupo do gênero na cidade de cerca de 450 mil habitantes. Hoje, dez anos depois, Vantoil é coordenador artístico de um projeto chamado Música nas Escolas, do qual faze parte um conjunto de grupos instrumentais do qual a tal fanfarra, ou Banda Marcial, é apenas um deles (e que possui mais de 100 troféus). A Orquestra de Barra Mansa (OSBM), com 90 integrantes fixos, tem um currículo de fazer inveja a muitas similares no mundo. Um de seus últimos feitos foi tocar para o Papa durante Jornada Mundial da Juventude.
Em Barra Mansa, a criança só não aprende música se não quiser. Todas as escolas municipais – 72 no total – e seis estaduais, além dos centros de recuperação de menores infratores e dos centros de referência de assistência social oferecem aulas de instrumentos. Cada uma destas escolas são centros de aprendizado instrumental, com aulas obrigatórias e optativas, dentro e fora do horário escolar, e que capturam os alunos logo na creche, aos três anos de idade. Os melhores alunos passam a integrar os corpos de instrumentistas da orquestra sinfônica, da banda sinfônica, da banda marcial, dos grupos de câmara, da banda de percussão, de jazz, do Drum Lata…
A fanfarra, hoje, é campeã nacional e possui mais de 100 troféus.“O objetivo do projeto é ser socio-educacional, mas que proporcione aos alunos uma formação de alto nível técnico e artístico”, explica Vantoil. “Senão a música vira só um passatempo e ele nnao aprende nada capaz de lhe garantir um trabalho quando for mais velho. A ideia é fazer destas crianças grandes profissionais”.
E Vantoil tem conseguido. Muitos instrumentistas formados em suas escolas hoje tocam em grandes orquestras, como a Sinfônica Brasileira, e até internacionais, como a Filarmônica de Israel. A Sinfônica de Barra Mansa já tocou com grandes artistas populares, brasileiros e de fora, como Gal Costa, João Bosco, Elba Ramalho, Ivan Lins, acompanhou o Ballet do Scalla de Milão em turnê pelo Brasil… “Os meninos viajam pelo Brasil, conhecem coisas que não conheceriam se não fosse este processo de formação. E isso serve como espelho para os que estão ainda aprendendo. A disputa entre eles é muito grande, porque desejam vagas na OSBM, nos grupos maiores, e acabam se dedicando muito aos estudos”, explica o coordenador artístico. Estudando música, os alunos ocupam seu tempo ocioso, passam grande parte de seu tempo na escola e, claro, dificilmente correm riscos de se tornarem menores infratores. Aos finais de semana, eles ensaiam e fazem apresentações, o que se torna também um lazer para estes jovens, um momento de descontração.
O projeto de Barra Mansa é surprendente ainda por outro aspecto: cada aluno custa apenas R$ 20,00 por mês. A Prefeitura, principal patrocinadora, aporta R$ 7 milhões anuais, e o resto do financiamento vem de empresas privadas, como a Votorantim, a Light e a Consessionária Nova Dutra. “É muito mais barato investir na educação musical de excelência do que na recuperação de um menor infrator”, conta Vantoil. “Este custa cerca de R$ 3 mil mensais aos cofres públicos”. Neste momento, ele implanta um projeto nos mesmos moldes nas cidades-satélites de Brasília, que deve beneficiar 560 mil alunos. O maestro está fazendo escola.