Virei fã do Fábio Jr. quando tinha mais ou menos uns 7 ou 8 anos. Naquela época eu era obcecado pelo filme Moonwalker, do Michael Jackson, que eu tinha gravado em uma fita VHS, pois as 300 vezes em que ele passava por ano no SBT não eram suficientes para mim. Via a fita quase diariamente de ponta a ponta, decorava e reproduzia toda a coreografia elaboradíssima de “Smooth Criminal” e rebobinava para ver tudo de novo.
O vídeo cassete, naquele ano, era uma novidade em casa e gravar programas de televisão era divertido, pois ainda estávamos bem longe da era do YouTube e encontrar qualquer apresentação do Michael Jackson nos anos 70 com o Jackson 5 ou o The Jacksons não era uma facilidade como é hoje em dia.
Também não tínhamos muitas fitas em casa, o que levou minha mãe a gravar um show do Fábio Jr. no fim daquele mesmo VHS de Moonwalker. Se não me engano, a parte final do filme foi cortada e durante uns 15 segundos a tela ficava meio chuviscada e o robô Michael Jackson derretia na tela, numa espécie de mashup com a execução de “Caça e Caçador”. Não importava. “Smooth Criminal” seguia intocada.
Com o tempo fiquei com preguiça de tirar a fita do vídeo cassete e continuava vendo o Fábio Jr. mesmo. Não demorou muito para eu gostar tanto dele quanto do Michael e considerar os dois os meus maiores heróis da música. Até sonhava com uma parceria entre eles numa mega turnê mundial algum dia. Hoje só consigo lamentar que esse sonho nunca tenha se concretizado.
Portanto não é exagero dizer que ver um show de Fábio Jr. finalmente pela primeira vez na vida foi a realização de um sonho. No último sábado (14), resolvi conferir de perto todo aquele charme e carisma que me seduziram naqueles dias longínquos e me fizeram colocá-lo no mesmo patamar do rei do pop. Estaria de frente com um dos meus grandes ídolos, o ” fotógrafo Jorge Tadeu” ou o “Antônio Alves, taxista”, como era conhecido nas novelas.
O Espaço das Américas, em São Paulo, estava cheio e a impressão que eu tinha era a de que 99% do público era formado por Loucas pelo Fábio Jr. Se hoje a internet proporciona que até Lula e Faustão tenham os seus fãs clubes virtuais de admiradoras, Fábio Jr. faz o estilo “galã à moda antiga”. Ali não existe a piadinha do Facebook. Suas fãs levam flores em buquês para entregar para o ídolo e usam faixinhas escrito “Fábio Jr.” na testa.
O maior galanteador nacional entra no palco ao som de um de seus maiores sucessos, “Só Você”, de 1997, e não é difícil entender porque as mulheres amam aquele homem. Em um palco com uma proposta intimista, com cortinas e colunas, sem o uso de telões (a não ser os da própria casa de shows) ou outros recursos audiovisuais, Fábio hipnotiza o público com seus gestos, voz e carisma.
Mesmo vendo claramente o que faz aquele homem atrair tantas mulheres, vou atrás do público para ver se alguém consegue colocar em palavras o que estou sentindo. Encontro Solange Amaral, numeróloga, que diz: “Ele fez parte da vida de muita gente, da mulherada em peso e continua galã”. Mas será que é a sua personalidade o segredo de tanta sedução? “Ele é jovem, tem uma mente bem aberta, isso que é legal. Ele não envelheceu mentalmente, ele continua um garotão… e gostosão”, completa a numeróloga. Descubro que Fábio Jr. é um homem que pode tudo, pois mesmo cometendo pequenos erros, ela não se importa. “Ele atrasou um pouco, não cantou a música que eu queria, mas valeu a pena”, diz.
A minha tese estava correta. Acompanho um amigo no fumódromo e uma fã canta sozinha à plenos pulmões a música que Fábio Jr. tocava naquele momento. “Ele pode tudo” é a primeira coisa que Roberta, pedagoga, diz para a gente. Quem sou eu para discordar? “Você também pode tudo”, ela continua. “Eu acho que ele pode mais”, respondo. Ela discorda, volta para o show e eu só consigo pensar em como este homem consegue arrastar um público tão maravilhoso atrás dele.
O repertório é tradicional e gira em torno dos clássicos. Fábio Jr. inventa pouco, mas há tentativas de modernizar os velhos hits. Em determinado momento da noite, ele toca “Dias Melhores”, hit de 2000 do Jota Quest, também cantado em coro pela platéia. Durante a execução da música, um senhor para ao meu lado no balcão e pede umas cervejas e um guaraná para levar para a sua mesa. Ele está animado, canta a música e faz air guitar durante o solo. Me aproximo e pergunto se ele topa dar uma entrevista. Ele, educadamente, pergunta se não pode ser após o show, pois a família o está esperando na mesa. Digo “claro que sim”. Obviamente não quero atrapalhar o entretenimento de ninguém.
“Senti falta do Fiuk, hoje ele não veio, mas no último show ele entrou no palco”, diz Maria Izilda, médica. O filho cantor de Fábio Jr. participou de alguns shows do pai durante aquele que é sempre um dos momentos mais emocionantes da noite, a execução da música “Pai”, o primeiro grande sucesso de sua carreira. No entanto, Fiuk não estava presente no último sábado para cantar o hit.
Em um “momento autoral”, Fábio Jr. pega o violão e toca “se quiser casar comigo… (gritos da platéia) eu caso” (mais gritos)”, uma de suas músicas mais recentes, “Se Quiser”. “Essa música é o maior xaveco, né… mas deu certo, viu?”, diz ele ao fim da canção. A cada frase que pode ter uma interpretação de duplo sentido, a platéia vai à loucura. Em “Senta Aqui”, por exemplo, a gritaria é geral toda vez que ele canta as palavras que dão título à canção. “Vem me dar”, canta Fábio na mesma música, e complementa: “dá tudo o que tiver direito”, para mais um momento de histeria total.
O show termina com uma trinca infalível de hits: “Felicidade”, “Alma Gêmea” e “Caça e Caçador”. Em “Alma Gêmea”, o público, que até então era obrigado a ficar em suas mesas, é liberado para chegar perto do palco. Esse é o momento Fábio Jr. safado que todos amamos. O cantor escolhe uma moça da fila do gargarejo para subir ao palco e dá um belo selinho em sua boca. Certamente Maria Fernanda Pascucci, atual esposa (do sétimo casamento) e ex-presidente do fã clube do cantor, não é ciumenta.
Em “Caça e Caçador”, já no fim, pega uma toalhinha vermelha, limpa o seu suor, faz um gestual como se estivesse esfregando, vamos dizer, a “virilha” e joga o objeto para a platéia, que mais uma vez vai ao delírio. O público está em suas mãos. Elas fazem uma fila enorme para visitar o camarim e tirar uma selfie com o ídolo. Esse homem realmente pode fazer o que quiser. Não há como resistir. A única solução é se render.
Antes de ir embora, encontro Simony Kataoka, dentista, e Meggie Grimald, marchand de arte, amigas animadíssimas com o espetáculo que acabamos de presenciar. Simony conta que é muito fã do cantor e que já foi até em feira agropecuária, em Botucatu, para assistir a um show desse herói nacional. “Já dei um selinho no Fábio”. Para comprovar ela me envia as fotos por WhatsApp e revela que na primeira ele está com cara de assustado por conta de um beliscão que ela havia lhe dado.
Simony, que já tratou muitos famosos em seu consultório, como o técnico Vanderlei Luxemburgo e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, se lamenta de ainda não ter feito o canal de Fábio e me pede um favor. “Lança uma hashtag #vainoconsultoriodelafabio na matéria, quem sabe ele vai”.
Fica o apelo.
No fim das contas, valeu a pena ter perdido o final de Moonwalker da minha querida fita VHS.
Que homem.
Show do Fábio Jr. no Espaço das Américas, 14/01
Créditos: Bruno Hoffmann