Os brasilienses do Natiruts são um dos maiores expoentes do reggae no Brasil. Trouxeram o estilo para as paradas de sucesso, cantando ‘liberdade pra dentro da cabeça’ e agora, 10 anos depois, se preparam para lançar o primeiro DVD ao vivo da carreira.

Pouco antes do show em um bar na zona sul de São Paulo, o grupo liderado por Alexandre recebeu o Virgula-Música no camarim para falar do DVD e de como vai o reggae no país, uma questão colocada em pauta pela revista Veja, à qual Alexandre responde com autoridade. “A Veja não tem respaldo para falar de reggae”.

Virgula Você são considerados uma das maiores bandas de reggae no Brasil. Voltar a ser independente foi uma opção do grupo?
Alexandre Na verdade não foi agora que a gente ficou independente, foi em 2003. Nós lançamos nosso 4º disco pela EMI, em 2004, e o contrato era de quatro discos. Na época da renovação, eles fizeram a proposta, que não foi bom para gente, então resolvemos ficar independente de novo. O Natiruts nunca deixou de ser independente dentro da cabeça, mesmo estando na gravadora. Nunca esperamos nada dela, sempre corremos com nossa própria força, nossas próprias pernas, é por isso que quando saímos da gravadora, já tínhamos uma parada com o público muito forte e não dependíamos de veículo de comunicação. É obvio que a gravadora é importante como veículo de divulgação, mas depender disso para poder ter público, pra nós seria uma coisa complicada.

Virgula Em setembro, vocês vão lançar um DVD em comemoração aos 10 anos de carreira da banda. O que mudou na sonoridade do grupo nesse período?
Alexandre A sonoridade vem mudando sempre, mais em relação à nossa forma de tocar que vai se aprimorando ao longo do tempo. Agora a essência da música continua a mesma, não que a gente vá fazer o mesmo som, isso a gente nunca fez, inclusive, esse DVD vai marcar o fechamento de uma era, que contou com pessoas importantes que passaram pela banda, como Isabela, Bruno, Tonho Gebara, Kiko Peres. Ele também vai marcar o começo de uma nova era, onde a gente vai explorar mais a onda do raggamuffin e outras vertentes jamaicanas, que nós não exploramos nesses primeiros 10 anos.

Virgula O Natiruts já fez alguns trabalhos com a MTV, como o Lual. Vocês já receberam algum convite para fazer o projeto Acústico MTV?
Alexandre Não. Na verdade, nossa relação com a MTV era mais a partir da gravadora, porque a emissora é um canal voltado para o rock’n roll e isso é nítido. O reggae só está na MTV quando é interessante, não é uma coisa muito espontânea. Claro que a gente agradece, mas temos consciência que não é uma porta aberta para o reggae, não é uma coisa que valoriza o reggae como cultura e tal. Você está na MTV quando estoura, depois não está mais. A gente está criando uma cena, o reggae está criando uma cena, uma cultura, algo desse sentido, que a MTV não faz parte ainda no Brasil. No exterior já faz, principalmente na Europa. O Lual e essas coisas aconteceram mais porque estávamos na gravadora, mas não esperamos mais nada não.

Virgula Recentemente, a revista Veja publicou uma matéria dizendo que o Brasil produzia o pior reggae do mundo. O que você acha disso?
Alexandre Eu acho que a Veja não tem respaldo para falar do reggae. Quem tem respaldo para falar do reggae é o pessoal de Salvador, é o cara que tem 500 discos de reggae, que ouve todo dia. O cara da Veja, conhece o Legend do Bob Marley e por uma a caneta e aquele veículo de comunicação fica escrevendo besteira.

Virgula O Natiruts já está na estrada há muito tempo. Como você analisa a atual situação do cenário reggae no Brasil?
Alexandre O cenário do reggae, hoje, está bem legal. Temos duas coisas legais acontecendo: tem a onda do pop, que muita gente fala como se fosse aberração, mas não é. A música é um reggae, o Edu e o Armandinho estão ai estourando agora, tem o Maskavo e o Planta, que tão chegando nessa pegada de tocar em rádio e isso é legal, porque pega uma galera que não é a galera do reggae. E o mais importante de tudo, é a cena do underground, que é onde pessoal mostra a cultura reggae mesmo, nas letras, na fala. O Natiruts consegue pegar tanto essa parcela de ter um hit na rádio, como pegar essa onda social. Essa cena está muito forte e tem bandas como Ponto de Equilíbrio, Mato Seco e Edson Gomes. O alicerce do reggae é esse, porque o pop, é aquilo ali, você fez um hit que pegou na galera você está na mídia, não pegou, você não está mais.

Virgula Este ano teremos eleição para a presidência. Você poderia deixar uma mensagem para os jovens que irão votar pela primeira vez?
Alexandre E difícil a gente dar um conselho a esse respeito, porque não existe uma política de que a pessoa eleita cumpra aquilo que falou. Os caras falam muita coisa e depois não precisa cumprir, então fica difícil. Mas escolha seu candidato e vote, procure se informar, se informar do que é real, do que não é real. Na mídia tem muita coisa para direcionar a cabeça da galera para uma mentira ou para uma verdade que eles querem que aconteça. Eu acho que temos que ter cabeça, atitude de estar acompanhando os fatos, estar de olho aberto e votar no melhor candidato que você achar.


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'DVD vai marcar o fim de uma era', diz Alexandre do Natiruts. Daqui pra frente é só novidade