Mercedes Sosa, ícone musical da Argentina, ganhou seu próprio filme, que retrata seu lado público, marcado por seu compromisso artístico e político, e o mais íntimo e pessoal através da lembrança de grandes artistas e parentes de uma das maiores vozes latino-americanas.
O documentário Mercedes Sosa, la voz de Latinoamérica, que estreará nos cinemas da Argentina no próximo dia 6 de junho, mostra o legado de uma fiel representante do povo argentino, que sofreu a censura e o exílio durante a última ditadura militar no país vizinho (1976-1983).
Idealizado pelo filho da cantora, Fabián Matus, e dirigido por Rodrigo Vila, o documentário retrata de maneira comovente a vida de Mercedes Sosa (1935-2009), a quem ambos definem como uma “lutadora, pujante, sensível e idealista” e como “uma mulher que soube ver a realidade possível de uma América Latina unida”.
“A ideia de fazer o filme foi de seu filho. Ele me disse que queria fazer um filme onde estivesse estampado o legado de Mercedes e sua história. Isso foi logo depois da morte de Mercedes e aceitei na hora. Para mim foi uma grande responsabilidade”, contou à Agência Efe o cineasta Rodrigo Vila.
O diretor, que contou que o processo do filme levou quase três anos, já tinha trabalhado com Mercedes Sosa em outro documentário, Cantora, un viaje intimo, lançado em 2009, motivo pelo qual esteve junto com a artista em seu último ano e meio de vida.
O filme conta com material de arquivos nunca antes visto e com figuras argentinas e internacionais que dão seu testemunho sobre a relevância de Mercedes Sosa para a cultura musical e política da América Latina.
Alguns dos artistas que participaram são os brasileiros Chico Buarque e Milton Nascimento, o escocês David Byrne, a chilena Isabel Parra, o cubano Pablo Milanés, e os argentinos Charly García, León Gieco, Víctor Heredia, Fito Páez, Teresa Parodi e Abel Pintos.
“Vários dos entrevistados não são afeitos a entrevistas ou às câmeras, mas quando dissemos que era para um filme sobre Mercedes aceitaram imediatamente e estiveram sempre muito bem dispostos”, destacou Vila.
Segundo seus produtores, o objetivo do documentário é transmitir o rico legado de Mercedes Sosa às gerações presentes e futuras.
Além dos testemunhos de grandes artistas, o filme se nutre de relatos do círculo íntimo de La Negra, como seus irmãos, os moradores de seu antigo bairro na província de Tucumán e até sua professora de música da escola primária.
O relato também explora os momentos obscuros na carreira da artista, como as ameaças de morte que recebeu na década de 1970, a proibição de cantar em seu país e seu exílio na Europa.
“Minha mãe mudou profundamente nessa época. Sem querer, os militares das ditaduras latino-americanas deram a todos os artistas que mandaram ao exílio uma escola de vida que, aos trancos e barrancos, os tornou melhores”, opinou Fabián Matus.
Segundo o filho da artista, o documentário exigiu uma pesquisa de mais de dois anos por diferentes pontos da América e da Europa, na busca de material inédito, declarações e imagens de arquivo, e depois outro ano de trabalho para editar as imagens.
Mercedes Sosa, que nasceu em 9 de julho de 1935 em Tucumán e morreu no dia 4 de outubro de 2009 em Buenos Aires, foi um dos maiores expoentes do folclore argentino, mas em sua extensa carreira musical também experimentou outros gêneros, como o tango, o rock e até o pop.
Em 1963 fundou o Movimento do Novo Cancioneiro, uma iniciativa musical-literária com projeção latino-americana que teve como objetivo impulsionar o desenvolvimento de um cancioneiro nacional em renovação permanente e evitar as manifestações puramente comerciais.