O primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2017, neste sábado (25), foi a prova de como o público da música hoje em dia é fluido. Apesar de muitos vestirem preto, como manda o figurino do metal, o festival foi do rock ao pop farofa com escala no hip hop, sem sobressaltos. Pode parecer esquizofrenia, mas em poucos festivais se viu tantos gêneros misturados, em um caldeirão onde cozinharam Metallica, The Chainsmokers, Tove Lo, The xx, Rancid, Cage The Elephant, G-Eazy, Vintage Culture, Criolo, BaianaSystem.
O público chegou cedo, até para justificar o ingresso caro. Ao meio-dia, logo após a abertura dos portões, já havia congestionamento nos arredores e os trens chegavam lotados.
A Cage The Elephant levou um bom público ao palco Skol, o principal. Antes, no Axe, o BaianaSystem mostrou por que é uma das poucas bandas escaladas para o Lolla e Rock in Rio este ano. Para quem sente falta de Chico Science, o vocalista do grupo soteropolitano, Russo Passapusso, e seus companheiros casam a sonoridade da guitarra baiana e as batidas de pagodão, com máquinas de beats, sintetizadores e outros instrumentos.
Outro brasileiro que brilhou no palco Axe foi Criolo. Ele não alimentou a polêmica sem sentido sobre fazer uma arte periférica e cantar em um festival para elite. Em seu retorno ao Lollapalooza, ele revisitou o repertório do álbum Ainda Há Tempo. Sem banda, se apresentou ao lado de Dan Dan nos vocais de apoio e DJ Marco. “Vir de onde eu vim e ver a galera ir com a mão pra lá e pra cá, sem ninguém pedir, é maravilhoso”, se emocionou.
Outro momento emocionante, especialmente para quem curte punk rock, foi a aguardada estreia no Brasil de um ícone punk californiano, formado em 1991: o Rancid.
“Demorou 25 anos para estarmos aqui no Brasil. Agradeço por vocês terem mantido o interesse”, resumiu Lars Fredeiksen, guitarra e vocalista. Com o mosh liberado, segue o baile.
Logo em seguida, no palco Onix, foi a vez de Romy Madley Croft, Jamie xx e Oliver Sim, mostrarem como se faz música popular com elegância. Afinal, eles já emplacaram duas músicas em novela da Globo e continuam com a aura cult intacta. Blasés, como bons ingleses, eles conversam pouco com o público, mas conquistam no que têm de melhor para oferecer: densidade sonora.
Nas vozes de Romy e Oliver estão melodias perfeitas, assim como em seus instrumentos, guitarra e baixo, respectivamente, ecoam o pós-punk. Nas mãos de Jamie, que toca a bateria eletrônica e pilota os sintetizadores, está o pulso que nos leva a dançar. Uma dança dark, climática, devagar, mas ainda assim cheia de cores.
“Obrigada muito mesmo por isso. Nos vemos em breve”, disse Romy ao fim. Vamos cobrar.
Enquanto o The xx conquistava na sutileza e talvez se surpreendesse com a micareta gótica do público brasileiro, no Axe, Tove Lo chegou dando voadora.
O furacão sueco se ampara em uma formação de palco que consiste em duas baterias, sendo uma eletrônica e uma acústica, onde você já vê a importância do ritmo para ela, e um tecladista que toca vários sintetizadores diferentes.
A temperatura sobe n0 momento em que ela pisa no palco. É evidente que Tove Lo sabe e gosta do que faz, é uma hitmaker de mão cheia e sua auto-confiança salta na jugular do público como uma serpente de filme de terror B. Quem não a conhecia, passou a venerá-la. Quem já era fã, ficou ainda mais. Sem surpresas.
Assim como o Metallica, que cumpriu as expectativas e fez um show renovado. Com o álbum Hardwired… To Self-destruct na bagagem, eles incluíram o que o disco tem de melhor e não deixaram seus clássicos de fora.
Para os muitos headbanger que foram até o Lolla, os deuses do metal ainda caminham sobre a terra e atendem por pelo nome de Metallica.