Entrevista exclusiva com Dudu Marote
Créditos: Gabriel Quintão
Dudu Marote é f*da. O produtor que vendeu milhões de discos com Skank, Pato Fu, Jota Quest, Adriana Calcanhotto e outros, foi um dos pioneiros do hip hop paulistano e da eletrônica. Em sua faceta dedicada à house music, Dudu bombou com o Jamanta Crew e hoje atua no VCO Rox, com a DJ Paula Chalup.
Recentemente, ele passou a se dedicar ao selo Ganzá, da Skol Music, que promete lançar muita sonzeira, aproximando as fronteiras entre gêneros, com a missão de ajudar a consolidar a cena eletrônica no Brasil.
O Virgula Música foi recebido no estúdio de Dudu em São Paulo, o Dr. DD, e a lenda da produção deu algumas dicas valiosas para quem pensa em trabalhar com isso ou já trabalha.
Se ligue em algumas partes selecionadas da nossa conversa.
Pesque o que está no ar
Música é loteria. Ninguém sabe se uma música vai ser sucesso ou não. Às vezes, uma música parece que vai ser um hit e não é. E às vezes uma música não parece nada e é um hit. Então, essa fórmula do sucesso, se houvesse, alguém ganharia muito dinheiro com ela. Até porque a música pra ser hit é uma coisa que vai mudando.
Identifique a vibe
Eu classifico as músicas por vibe. Se é uma música que levanta, uma música que dá coragem, que deixa as pessoas felizes, uma música que dá um alento pra quem tá triste, uma música que é mais tristeza ainda, uma música que é meio “brisada”, como o reggae, como dub. São várias vibes.
Faça um beat (se seu som é rap ou eletrônica)
Quando ela é hip hop, quando ela tem uma batida eletrônica, basicamente, ela vai começar de uma batida. No hip hop, geralmente é numa MPC, se for música eletrônica, pode ser no computador, com Ableton Live, Logic, até com Fruit Loops.
Aí a pessoa vai programar, um loop, no início, aí surge em baixo sintetizado, tal, e aí vão vários elementos que vão compor essa música.
Faça uma canção (se seu som é pop ou rock)
Quando é uma música pop, normalmente, ela começa como uma canção, que pode ser feita com voz e violão, às vezes voz e piano.
Do voz e violão, a gente passa para a fase seguinte que é o chamado arranjo. O arranjo nada mais é do que a gente entender que instrumentos vão tocar o que, que partes.
Faça a base
Então, por exemplo, se for uma gravação mais assim, a gente vai ter primeiro uma sessão em que a gente vai gravar o que a gente chama de base. Base, normalmente, uma coisa bem básica. Eu tenho aqui um estúdio com várias salas e todas as salas se veem. Na primeira sala, eu coloco bateria, na segunda, eu colocaria violão, na terceira, voz, e aqui na técnica ficaria o baixo. Toca todo mundo ao mesmo tempo, como uma banda mesmo, batera, baixo, violão e voz ou batera, baixo, guitarra e voz, ou batera, baixo, teclado e voz.
Faça gravações adicionais, os overdubs
Dessa sessão, com certeza a batera vai valer. Dependendo do que vai ser feito, às vezes, o violão, o baixo pode valer ou você refazer e você vai fazendo os outros detalhes. E também faz uma voz guia.
Dê uma “limpada” no arranjo, menos é mais
Você vai gravar a voz definitiva se a voz da guia não tiver ficado perfeita. Aí dá uma limpada no arranjo, fecha uns detalhezinhos, às vezes, para ganhar mais espaço e essa música está gravada. A mesma coisa quando é uma música com batida, você fez a batida e aí vai fazer a voz guia. Você vai complementar o arranjo, às vezes, tocando, às vezes, programando.
Juntando tudo, a fase da mixagem
A mixagem é um momento onde eu pego todos esses canais separados e vou combiná-los colocando efeitos, se eu não coloquei os efeitos na parte da base.
Eu sou um cara que vou meio que preparando tudo desde o início, que é um jeito atual de se produzir, que você já vai tirando som enquanto vai gravando. O jeito antigo, primeiro você grava, depois vai tirar o som. Atualmente, você já vai tirando o som tudo ao mesmo tempo.
Aí, vamos dizer, na mixagem, vai, vou acrescentar delay, um ambient, uma distorção, às vezes, não é uma distorção que nem metal, são leves apimentadinhas de distorções que fazem a música ganhar mais corpo.
Com a masterização, a música ganha corpo
O resultado dessa mixagem já vão ser dois canais, já é um negócio que você dá um play e já são dois canais. Aí, você vai pra fase final, que é a fase de masterização, que é onde o engenheiro de masterização vai comparar essa mixagem com a maior parte das músicas que tem a ver com a sua e ver se tá passando grave ou tem grave a menos, tem um médio-agudo que tá chato.
Então, é uma microequalizadinha, uma microcomprimida, ganha um pouquinho de volume também. Já teve uma fase em que o pop existia o loudness war que deixa a música mais alta. Mas eu acho que isso não tá na moda mais, isso já foi.
Relativize o sucesso
Essa história da música que faz sucesso é uma história do século passado. É claro que ainda existe, mas não existe só isso.