Após seis anos sem um álbum de inéditas, o Detonautas Roque Clube retorna com um novo disco duplo, A Saga Continua. O trabalho vem dividido em duas partes: o primeiro CD é mais voltado para o pop rock que consagrou a banda, já o segundo, traz à tona o hardcore, o rock pesado e o rap, estilos que fazem parte das influências de cada integrante. O grupo carioca Cone Crew Diretoria também dá as caras na música Sua Alma Vai Pagar Por Aí.
Tico Santa Cruz, vocalista e letrista da banda, falou ao Virgula Música como foi o processo de composição e gravação do álbum, e deixou claro que, assim como as mensagens de sua música, gosta mesmo é de experimentar o mundo. Leia abaixo:
Virgula Música: Qual foi a inspiração para o álbum ‘A Saga Continua’?
Tico Santa Cruz: São várias inspirações e momentos diferentes. Livros, filmes, experiências pessoais, observação do contexto político, social e existencial. O disco tem 18 faixas e apenas duas delas não foram compostas por mim: Hello, Hello de Claudio Paradise, e Sempre Brilhará, do saudoso mestre do blues brasileiro, Celso Blues Boy.
Como foi o processo de gravação e produção?
Ao longo dos seis anos que passamos desde o lançamento de O Retorno de Saturno, tivemos o privilégio de desfrutar do Mobília Space, estúdio do nosso baterista Fábio Brasil. E nesse tempo fizemos de tudo. Desde a chegada de músicas feitas por mim no violão e que o Detonautas fez o clima imediatamente para a gravação, até horas experimentando texturas e formatos para canções que não tinham letras e nem formas definidas. Foi um processo longo, mas muito gratificante pelo resultado final.
Porque fazer um álbum duplo em uma época que CDs vendem cada vez menos?
A pergunta é: por que não? Nunca seguimos o mercado. O mercado nunca nos seguiu e temos uma vida a margem de tudo o que está acontecendo. Somos uma banda independente, temos fãs que gostam das nossas ideias. Talvez pela falta da necessidade de vender o produto como fator primordial na elaboração do mesmo, nós fizemos um registro de um período da banda. O que soa mais interessante do que apenas um aglomerado de músicas para vender. Esse registro está à venda, mas pode ser conseguido pela internet gratuitamente também. Então nosso vínculo não tem a ver com vender discos ou não. O que importa é que nós registramos essas 18 faixas e colocamos à disposição para quem se interessa por nós.
Como foi a divisão das músicas? Como vocês souberam qual entrava no primeiro CD e no segundo?
Dividimos pelo clima das canções. O primeiro disco tem músicas com tendências mais pop rock, e o segundo disco com uma energia mais densa e mais guitarras. Foi a maneira harmônica de situar os universos que estavam em conflito.
Como rolou a participação do Cone Crew Diretoria na música Sua Alma Vai Vagar por Aí?
Conheci a Cone muito antes deles se tornarem conhecidos. Fui jurado de um festival que eles participaram e não venceram. Fiquei empolgado com a banda e fui atrás. Chamei para abrir shows do Detonautas e logo depois para a participação do disco. Acho a Cone uma banda que tem uma energia jovem e transgressora incrível e coube perfeitamente com o contexto dessa música.
Como você enxerga o Detonautas no cenário atual da música brasileira?
Detonautas é uma das bandas que mais faz shows dentre as bandas do mesmo segmento. Temos um público fiel e transitamos bem dentro do Rock in Rio para 100 mil pessoas ou em casas menores com duas mil pessoas. Não fazemos parte de nenhum grupinho, destes que naturalmente se formam por posturas em comum e afinidades. Temos nossa própria personalidade, mas somos uma banda provocativa, que aborda assuntos que outros artistas não gostam de abordar em seus shows e em suas músicas. Talvez sejamos a banda mais marginal do segmento. Temos bandas com as quais nos identificamos e gostamos, mas não fazemos nenhuma questão de fingir agradar o que não nos agrada. O caminho é longo e a saga continua.
Você ter participado do programa A Fazenda ajudou na imagem da banda?
Não ajudou a banda, e nem prejudicou. Mas poderia ter prejudicado se eu tivesse ficado mais do que fiquei. Para mim foi uma experiência existencial muito reveladora. Mas profissionalmente não agregou em nada. O que valeu foi o fato de ter aberto o diálogo de forma indireta com muitas pessoas que não me conheciam. Apenas isso.
Você é cantor, escritor, e já participou de programa de TV. O que mais tem vontade de fazer?
Já lancei três livros, faço palestras em escolas e universidades sobre política e cidadania. Tenho um projeto paralelo de clássicos de rock, uma marca de roupas chamada Moska na Sopa e estou aprontando meu primeiro estúdio de tatuagem. Gosto de experimentar o mundo.
Ouça as músicas de A Saga Continua aqui