Alguns compositores costumam falar que, quando fazem uma canção, precisam lançá-la como que para se livrar dela. Enquanto a música ainda não está por aí, disponível para a audição, crítica e elogios de todos, é como se ela sufocasse o autor. Gravá-la é um alívio, quase um parto.
Dezenove Vezes Amor, disco lançado pela dupla Martin e Eduardo, respectivamente guitarrista e baterista da banda de Pitty, deve ser encarado mais ou menos dessa forma. Até compor as músicas que fazem parte do álbum, o guitarrista nunca havia cantado nada autoral e mesmo escrever letras e melodias era algo relativamente novo.
Mas eis que as idéias foram surgindo, os amigos gostando e, tendo um estúdio caseiro à disposição, Martin resolveu registrar o que estava fazendo junto com o parceiro Eduardo. Algo bem parecido com o que o próprio Martin vem fazendo com Pitty no projeto Agridoce.
Guitarrista talentoso, o que já havia provado elevando a qualidade da sonoridade de Pitty, Martin faz um bom trabalho no disco, gravando inclusive o baixo da maioria das faixas – exceções a Muitas, com o companheiro de Pitty Joe, e Passa em Volta com PJ, do Jota Quest. Enquanto vocalista, no entanto, Martin deixa a desejar, talvez por ser marinheiro de primeira viagem no assunto.
O disco é variado em temas, tendo desde guitarras nervosas a baladas climáticas. Dezenove Vezes Amor, que abre o álbum, traz embutida a tensão de uma perseguição cinematográfica; Muitas, com seu toque country-blues, é uma balada notável; mas o ponto alto do disco é quando Martin e Eduardo abraçam o pop na ensolarada Só.
Mesmo com bons momentos e ótimas ideias, a sensação que fica em todas as músicas é que falta algo. Dezenove Vezes Amor parece ter sido, desde sua concepção, algo como um ensaio de luxo, um laboratório de composição e gravação, despido de pretensões maiores. Encarado por essa ótica, é um belo registro, e mostra que Martin e Eduardo tem bala na agulha para evoluir. “Se é pra seguir aponte ao menos em que direção”, diz a primeira frase do disco. Eles estão mirando certo.