Mc Boy do Charmes
“De cordão de elite/18 quilates/põe no pulso/logo Breitling/Que tal?/Tá bom?/De lupa Bausch & Lomb/bombeta branca e vinho/Champagne para o ar/que é pra abrir nossos caminhos”, quando Mano Brown e seus parceiros do Racionais Mc’s lançaram a conhecida Vida Loka parte 2, no álbum 1000 Trutas, 1000 Tretas (2006), ninguém poderia imaginar que os versos de forte temática social serviriam de influência para a cena do funk paulistano.
Foi inspirado pelas rimas do coletivo de rap que o MC Boy do Charmes, considerado o ‘pai do funk ostentação’, escreveu o hit Megane, faixa que projetou o gênero para todo o Brasil. “Estava ouvindo uma música do Racionais que fala sobre carro, roupa e dinheiro. Fiquei com aquilo na cabeça, me imaginando andando de nave [carro importado] na minha comunidade, contando grana depois de um show. Então eu fiz a música e gravei”, contou o cantor em entrevista ao Virgula Música.
O funk da ostentação tomou o país com suas letras que falam sobre marcas de roupa, carros, bebidas, joias e mulheres. “A ostentação fala da grana, que nada mais é que o poder, né? Quem tem grana tem poder”, explica Boy do Charmes. Aos 28 anos de idade, Wellington Franca afirma que hoje aproveita a fama e já conseguiu comprar todos os cobiçados itens que cita em suas letras. “Hoje eu faço em média 60 shows por mês. É uma loucura, mas em pouco tempo eu comprei meu carro, minha moto, meu cordão de ouro. Compro as roupas que eu quero, mas sempre na luta”, diz.
Nascido e criado na comunidade do Charmes, localizada em São Vicente, cidade do litoral sul de São Paulo, o MC conta que antes de se dedicar completamente ao funk, trabalhou como porteiro, servente de pedreiro e faxineiro. “Eu fazia umas rimas com os meninos lá do Charmes e eles diziam que eu tinha voz pra cantar. Eu trabalhava o dia todo e investia toda a grana na música. Trabalhava o dia todo e cantava a noite. Muitas vezes ficava sem dormir, mas eu tinha plena certeza de que o funk era a minha única saída para ter uma carreira diferente. Foi tudo com muita luta e deu certo”, conta.
Apadrinhado por ninguém menos que Mr. Catra, o funkeiro está prestes a fazer sua primeira turnê internacional. “Conheci o mestre do funk. Ele me deu muita força, participou do clipe de Megane e me disse que sou um cara batalhador, por isso apostou na minha música. Hoje eu canto em lugares em que nunca imaginei entrar. O funk está novamente no topo, como foi na época em que o Bonde do Tigrão estourou. Vou cantar na Europa e depois nos Estados Unidos, isso diz muito sobre a força do funk ostentação”, finaliza.