O coral de meninos mais antigo do país está em Petrópolis, na região serrana do Rio: são nada menos que 72 anos em atividade, e os Canarinhos nunca deixaram de ser sucesso. Não só de público, mas também como referência para dezenas de crianças que, anualmente, fazem tentam fazer parte do grupo comandado pelo maestro Aurélio Lischt. Além de se apresentar quinzenalmente, os 60 integrantes do coral “Canarinhos de Petrópolis” vivem viajando pelo interior do estado e pelo Brasil, fazendo diversas parcerias musicais. Talvez a mais famosa delas tenha sido com o cantor Milton Nascimento, no álbum Clube da Esquina 2 (1978).
Os canarinhos têm entre 9 e 17 anos, mas a inscrição para frequentar as aulas deve ser feita logo aos oito. O curso preparatório tem duração de um ano, e os alunos aprendem solfejo, técnica vocal e flauta doce. Para ser escolhida, a criança passa por um teste de aptidão musical. “Não é permitida a inscrição depois dos oito anos não só pela dificuldade de acompanhamento dos meninos da mesma faixa etária, mas também porque as vozes masculinas mudam cada vez mais cedo. Hoje em dia os rapazes começam a mudar de voz aos 11 ou 12 anos”, explica o maestro Aurélio Lischt.
Ele também já fez parte do coral – ingressou em 1976, aos 9 anos. Mais tarde, frequentou o ensino superior de música na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se especializou em música sacra. “Sem dúvida, minha infância e adolescência no coral foi decisiva para a minha escolha de carreira. Acho que a minha geração de alunos foi a primeira a querer enveredar mesmo pela música. Eu e outro colega fomos estudar no Rio de Janeiro, aos 18 anos”. Mas o maestro se lembra de outros tantos alunos seus que seguiram o mesmo caminho, entre eles, o barítono Michel de Souza, que hoje canta na Royal Opera House, em Londres.
Em média, 20 novos alunos entram por ano no coral. “As famílias continuam preocupadas em dar formação cultural aos filhos e esse é dos motivos pelos quais continuamos a ter tantos candidatos”, acredita o maestro. E o desafio não é para qualquer um. A carga horária de ensaios é pesada: divididos por tipos de vozes, eles ensaiam quatro dias por semana. “Por isso, alguns meninos acabam desistindo”, lamenta o maestro.
Além do serviço litúrgico quinzenal, na missa de domingo da centenária Igreja do Sagrado Coração de Jesus, onde os fiéis podem assistir ao espetáculo, o coral recebe diversas propostas para se apresentar durante o ano pelo Brasil afora. Em 2014, já receberam o convite da Orquestra Petrobras Sinfônica e da Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Por vezes, ainda se juntam ao Coral das Meninas dos Canarinhos de Petrópolis, criado em 1988, em eventos locais, como o concerto anual de Natal da cidade. Elas, aliás, revezam com eles o serviço litúrgico semanal da missa de domingo.
As despesas do oral estão a cargo do Colégio Bom Jesus, de Petrópolis, local de ensaios e aulas. “Sobrevivemos não só do cachê que cobramos por cada concerto fora daqui, como também temos direito a 8% de todo o faturamento da escola”. E os alunos não têm qualquer gasto. Recebem traje de apresentação, vale-alimentação e têm cobertas as despesas de viagens.
E apesar de o coral ter sido criado para servir a Igreja Católica, não é requisito obrigatório ser católico para tomar parte dele. “Qualquer um pode se candidatar ao curso preparatório, independentemente da sua fé,” explica o maestro. “Faço com que eles entendam que a linguagem musical abrange qualquer religião. Nós já tivemos alunos evangélicos, budistas, espíritas e todos se identificaram com o propósito”, conclui.